O irmão do meu ex maldito
O irmão do meu ex maldito
Por: Nethaly Somni
Prólogo

Aperto o botão do elevador com um sorriso bobo nos lábios. Nem acredito que consegui. Vendi minha primeira letra. Não renderá tanto quanto eu gostaria, mas ainda assim é um sonho. Mal vejo a hora de poder contar para ele.

August e eu temos estado distantes a alguns meses. Depois do anúncio do noivado, não sei… parece que tudo se tornou real demais para nós. O relacionamento é longo, acho que é normal passar por isso. Pelo menos, é o que repito para mim mesma.

Hoje, entretanto, será diferente. Contagiada de alegria como estou, sei que poderemos passar um tempo legal juntos. Nos perder um no outro, sempre fomos bons nisso.

A porta do elevador se abre e saio por ela, apressada. Pego a chave em minha bolsa e destranco a porta do apartamento. Deixo minhas botas na entrada, junto ao meu casaco. Passo pela sala em tons de verde-claro, estranhando o silêncio. É raro eu vir aqui a essa hora, mas sei que ele geralmente só trabalha a tarde.

Minha mão segura a maçaneta, mas paro, meu sorriso esmorecendo devagar. Gemidos roucos, vindo lá de dentro. Abro a porta, mesmo querendo correr dali.

O quarto com as cortinas escuras, bem espaçado, me lembra das diversas noites que passamos aqui. Juntos, nos amando. A cama grande no centro do quarto, mostra o que eu tanto temia.

A mulher loira, com a cintura fina e quadris largos, se movimenta frenética sob o corpo de August. Essa expressão dele... quantas vezes, eu já não a vi?

O maxilar forte tensionado, os olhos castanhos semifechados, perdidos no próprio prazer. Os cabelos escuros estão revoltos. De seus lábios, um rouco gemido sai, enchendo o quarto. A mulher manobra o meu noivo, como tantas vezes, eu mesma o fiz.

Levo a mão aos lábios. Minha visão se tornando turva pelas lágrimas. Mais um gemido preenche o ambiente, mas dessa vez é angustiado, sofrido e é meu.

August abre os olhos e seu rosto se desvia para o ponto do quarto, onde estou.

— Aiyra... — ele pausa, se levantando e jogando a mulher para o lado.

Seu corpo alto e esguio vem em minha direção, a ereção morrendo.

Dou um passo para trás, enojada com sua imagem.

— Você não tinha o direito… — murmuro, a raiva suplantando as lágrimas — Como pode estragar o que tínhamos desse jeito? Como pode me destruir, desse jeito?

August paralisa, o rosto sendo tomado pela culpa.

— Não era para ser assim… — Ele diz, o olhar se desviando para o chão.

— Isso é o máximo que consegue? — rosno, me aproximando de seu rosto.

Nossos olhares se cravam um no outro. O que quer que ele esteja vendo em meu rosto, o faz se retrair, com lágrimas enchendo os olhos. E isso é o máximo que aguento. Estou cheia dessas decepções. De ser ferida por quem eu mais amo. August, foi uma doce ilusão por um tempo.

— Me escute bem. Eu vou passar por essa porta e você não virá atrás de mim, não me ligará e em hipótese alguma, vai tentar me achar depois de hoje. Se o fizer, eu juro que irá se arrepender. — Lhe digo, as palavras sendo despejadas devagar.

August abre os lábios, mas os fecha em seguida. Meu olhar o cala. Ele me conhece e sabe que eu digo a verdade. Passo a mão no rosto, secando as lágrimas e observo seus traços uma última vez.

Viro-me indo em direção a porta do quarto, mas paro antes de passar pelo limiar.

— Eu teria ido até o inferno por você. — Sussurro para ele, antes de sair.

Meus passos apressados ecoam pelo apartamento. Não vejo mais nada, pois agora as lágrimas descem com vontade. Calço minhas botas, as mãos trementes as derrubando. Termino e pego meu casaco, tentando me acalmar. Abro a porta do apartamento e quase trombo com Ethan, que iria bater à porta.

Seus olhos âmbar descem por meu rosto, a expressão passando por surpresa e depois ficando enfurecida. E é por seu olhar que percebo. Ele sabia. Claro, é irmão de August, como não saberia?

— A quanto tempo, Ethan? — lhe pergunto, a voz estrangulada.

Ele passa a mão por seu cabelo negro, o maxilar se tensionando. Ethan sempre fora um dos caras mais lindos que já vi, tanto por fora, quanto por dentro. Ele era meu amigo, meu confidente e me deixou acreditar nessa farsa.

— A alguns meses. — Ele me responde, direto como sempre foi.

— Por que não me contou? Alertou… qualquer coisa… — um soluço irrompe em minha garganta.

Ethan se aproxima de mim, os braços grandes e reconfortantes tentando me aparar. Afasto-me com brusquidão, fechando os punhos ao ponto de doer as articulações.

— Eu tentei Aiyra… Deus sabe o quanto eu tentei. — Sua voz forte, se eleva.

— Deveria ter tentado mais. Se fosse o oposto, eu preferia você com raiva de mim, a te ver sendo enganado como eu fui. — O repondo.

— Por favor, Dakota… — ele usa meu apelido, tão usado desde crianças, seu rosto ficando pálido.

— Não. Nunca mais me chame assim. Pra mim já deu, Ethan! Quero que você e seu irmão vão para o inferno. — grito e passo por ele, com brutalidade.

Sua mão envolve meu pulso, me parando. Seu toque tão conhecido, traz lembranças dos anos em que éramos só adolescentes, passando pelas dificuldades juntos. De alguma forma, saber que Ethan mentiu para mim, dói mais do que saber que August estava transando com outra. Ethan era meu amigo. Ele e Lavínia estavam lá quando perdi minha mãe. Não importava o que acontecesse, o quanto, crescidos estávamos, nós sempre apoiávamos, mutualmente.

— Por favor, não me afaste. Sei como você age quando está magoada. Não faça isso comigo. — Ele pede, a voz oprimida pela emoção.

— Eu não posso, Ethan. — Eu o encaro, minha voz nada mais que um sussurro — Quando olho para você agora, só o que sinto é esse sentimento de traição. Eu… sinceramente não posso.

Muitas coisas passam por seu olhar. Dor, raiva, afeto e finalmente aceitação. Ethan me solta, dando um passo para trás.

— Vou estar aqui Aiyra, como sempre estive. Passe o tempo que for. Me perdoe por não ter dito, mas saiba que vou sempre estar aqui por você. — Ele me diz, um sentimento poderoso se revelando em seu olhar.

Afasto-me afoita e confusa. Ele nunca me mostrou essa parte de si e não sei bem como entendê-lo agora, a dor em meu peito me impede de sequer tentar.

Saio, os sentimentos, meros pedaços do que já foram, mas com a certeza de que vou me levantar. Já passei por coisas piores e não deixarei esse sentimento enganoso me derrubar de novo. Jamais.

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