(Narrado por Bianca)
O sol ainda nem tinha esquentado direito quando saí de casa.
Enzo andava do meu lado, com a mochila azul nas costas e o cabelo amassado.
Ele tagarelava sobre o desenho que viu ontem à noite.
E eu fingia ouvir.
Meu corpo tava aqui.
Mas minha cabeça?
Ficou na foto caída no chão.
Na voz do Gustavo me atravessando em sonho.
No “papai” que Enzo disse sem piscar.
Chegamos na creche.
O portão já estava aberto.
A professora sorriu, se abaixou e pegou Enzo no colo.
— “Dá tchau pra mamãe, amor.”
Ele me olhou com os olhos brilhando.
Deu um beijo na minha bochecha.
E soltou:
— “Hoje o papai vai buscar?”
A pergunta me cortou.
Sorri. Só por fora.
— “Vai sim, filho. Se comporta.”
Assenti pra professora.
E saí antes que a lágrima viesse.
**
O prédio da empresa apareceu diante de mim como uma lembrança mal resolvida.
O letreiro no alto.
O mesmo que eu lia todos os dias ao lado dele.
Entrei.
A recepção estava diferente.
Mais moderna.
Mais fria.
Passei direto, o crachá ainda funcion