O contrato
O contrato
Por: Célia Oliveira
1

Nascendo numa família rica, desde pequena tive privilégios que outra criança nunca teve, porém, com os privilégios, também vieram as responsabilidades.

Tudo começou, quando meus pais chegaram de uma viagem, ficaram fora por duas semanas.

Quando chegaram, resolveram conversar comigo, sobre o tal negócio que fecharam, no tempo que estiveram fora.

Estava em meu quarto, lendo um romance, quando de repente, Guadalupe, a empregada da casa, bateu na porta.

— Senhorita Amália, seu pai mandou lhe chamar, ele está te esperando no escritório para vocês conversarem, a sua mãe também está lá! — Disse desconfiada.

— Já estou indo Guadalupe, obrigada. — Ela saiu e fechou a porta.

Já fiquei imaginando o que meus pais queriam. Indo para o escritório, bati na porta e esperei falar para que entrasse.

— Mandou me chamar papai? — Perguntei, ao entrar no escritório.

— Sim, Amália, sente-se aí, que eu e sua mãe temos que lhe dar uma ótima notícia.

Me sentei, já meio apreensiva, em frente aos dois, que me encaravam com um sorriso enorme.

— Vejo que e uma ótima notícia, já que vocês estão sorrindo. — Falei brincando, mas minha mente dizia totalmente o oposto.

— Claro que é boa, minha filha, é uma notícia fantástica. — Minha mãe continuava, com um largo sorriso nos lábios, o que começou a me assustar, não iria negar.

— É o seguinte, Amália. — Prosseguiu meu pai. — Estávamos nesses últimos dias de viagem, tratando de negócios referente a você!

— Sobre mim? — Logo ganhei um olhar de reprovação dos dois.

— Nunca interrompa quando os adultos estão conversando.

Outra coisa que odiava, mesmo sendo uma mulher de 21 anos, ainda era tratada como se fosse uma criança de cinco.

— Desculpa. — Os olhei meio assustada, mas continuei ouvindo tudo.

— Você já vai terminar a sua faculdade este ano, e já é uma mulher feita, apesar de ter apenas 21 anos, claro! — Desdenhou — E eu já estou querendo me aposentar, já faz um tempo que penso nisso, quero aproveitar mais a vida com a sua mãe, então, resolvi tomar uma atitude.

— Nossa, pai! Não acredito que mudou de ideia quanto a mim, quer que eu tome conta da empresa? — Disse empolgada. — Eu sabia que um dia, isso iria acontecer.

— É claro que não! — Gritou, batendo a mão na mesa. — Você é mulher, quantas vezes tenho que repetir isso? Jamais conseguiria tomar conta de tudo, temos uma empresa gigante, acha que alguém nos levaria a sério, se você entrasse como minha substituta? — Zombou — Foi pensando nisso, que viajamos. — Fez uma pausa, antes de continuar e me olhou. — Lembra da família Moretti?

— Sim, claro que lembro! — Disse desanimada.

Os Moretti são um casal de italianos, eles são amigos e sócios de meu pai há muito tempo, tem dois filhos que moram no exterior, que já ouvir falar, que possuem personalidades extremamente diferentes, enquanto um, gosta das coisas simples da vida e não dar importância para o dinheiro que tem, o outro é extremamente arrogante, um poço de narcisismo, só por ter fama de ser bonito, apesar de não conhecer nenhum dos dois pessoalmente, isso é que ouvi por aí.

Meu pai me encarou e disse.

— Pois bem, essas últimas semanas, estávamos na casa dos Moretti, e o Marco me disse, que seu filho mais velho, o Filipo, está vindo para nosso país. Filipo é um homem íntegro, de boa reputação, inteligente, muito bem-sucedido.

"Esse só pode ser adotado" — Pensei.

— Eu já ouvi falar muito sobre o Filipo pai, mas essas características que o senhor usa sobre ele, são novas para mim, o que mais ouvi falar, era que ele é um mulherengo e sem compromisso, farrista, que costuma fazer festinhas proibidas, que envergonharia qualquer família tradicional por aí, se é, que o senhor me entende. — Brinquei, mas pela cara que meu pai fez, não gostou nada de minha insinuação. — Mas até agora eu não entendi, o porquê que estamos falando dele. — Disse sem interesse algum, na conversa.

— É o seguinte filha. — Olhou para minha mãe antes de continuar. — Esse assunto dele ser mulherengo e sem compromisso, são apenas boatos mal-intencionados, pessoas de má-fé que andam espalhando esse tipo de coisa por aí. Há muitas pessoas que se incomodam com o sucesso dos outros. E a verdade, é que ele quer sim um compromisso, tanto, que resolvemos numa decisão unânime, que você seria uma ótima pretendente para ele, e foi pensando nisso, que decidimos que vocês dois irão se casar.

— O quê? — Falei surpresa ao ouvir o absurdo, se não tivesse sentada, com certeza cairia no chão.

— É isso mesmo que você ouviu, já está tudo certo, eu e sua mãe conversamos com o Marco Moretti e a esposa dele, seus sogros ficaram muito felizes em querer fazer parte da nossa família, nós contamos como você ama sua faculdade, sendo dedicada em tudo o que faz, eles já tem uma grande estima por você, não se preocupe.

Os observava séria, esperando que um deles falasse que tudo não passava de uma brincadeira, de muito mal gosto, por sinal, mas, vendo como continuaram me encarando, comecei, interferi.

— Pai, o senhor não pode fazer isso! É a minha vida e minha felicidade, que estão em jogo, isso não é um tipo de coisa que se pode decidir pelos outros.

— Claro que posso fazer isso, tanto que já fiz! Hoje a noite, eles virão aqui jantar conosco. Filipo irá fazer o pedido formal, e vocês se casarão o mais breve possível, nossas famílias já se conhecem há muitos anos, não precisamos de um noivado demorado.

— Pai! — gritei chorando. — O senhor não pode estar falando sério, o casamento não tem a ver com famílias e sim com duas pessoas, e eu e esse homem nem nos conhecemos, nunca nos vimos, não posso me casar com um estranho, que eu não amo!

— Amor Amália? — Riu — Por Deus, que conversa patética, nós dois já sabemos que você não sabe nada sobre o amor. Você vai aprender a amar seu marido com o tempo, não se preocupe.

— Mamãe, por favor, não deixa ele fazer isso comigo, eu não quero me casar com um estranho, isso é loucura.

— Calma, minha filha, ele não será um estranho, hoje a noite, ele virá aqui com a família, e vocês irão se conhecer, aliás, ele é muito bonito, querida, não se preocupe, não escolheríamos qualquer tipo de pessoa para você.

— Quem se importa com a beleza? — Estava indignada, parecia que todo mundo naquele escritório tinha perdido a razão.

— Além dele com certeza ser um ótimo partido para você, ele cuidará muito bem da nossa empresa.

— Por que vocês estão fazendo isso comigo? Eu posso muito bem cuidar da empresa, me dê a oportunidade de mostrar a você papai. — Me ajoelhei aos seus pés. — Você verá que estar errado quanto a suas ideias.

— Já está tudo decidido, Amália. — Se levantou, me ignorando no chão e foi até a porta, abrindo para eu sair. — Vá para seu quarto se arrumar, logo a noite, seus sogros e o seu noivo virão, não é bom que eles vejam você com esta cara de choro, mostre que o dinheiro que gasto com suas maquiagens e roupas caras, são bem investidos.

Saí do escritório chorando, como meus pais foram capazes de fazer isso comigo?

Quando o relógio marcou sete da noite, minha mãe subiu ao meu quarto.

— Filha, ainda não está pronta? — Ela estava vestida um vestido muito elegante, com detalhes de pérolas.

— Não, mamãe, eu não irei aceitar isso, não me casarei com um estranho, só porque meu pai fechou um negócio com ele. — Do jeito que estava, continuei.

— Filha, não faça isso, levante-se agora, vamos! — Disse puxando minhas pernas. — Eu te ajudo, você não vai querer contrariar o seu pai, não é mesmo?

— Eu passei a minha vida inteira fazendo as vontades de meu pai, mas agora não dá mais, isso coloca em jogo minha felicidade e minha vida, já basta o que ele fez uma vez comigo, acha justo querer mandar tanto assim na minha vida? Não sou uma criança.

— Mas está agindo como se fosse uma. Você mora sob nosso teto, é sustentada por nós, acha que pode questionar alguma coisa?

— Se o problema for esse, eu irei embora daqui. — Disse decidida.

— E para onde iria? Se até a roupa que está vestindo, foi seu pai que te deu?

Minha mãe sabia como me humilhar, do jeito que falava, era como se eu tivesse alguma escolha, já que sempre controlaram minha vida.

— Filha, você será muito feliz, os Moretti também são muito ricos, nada lhe faltará.

— Não estou preocupada com dinheiro, não entende mãe? Estou falando de amor!

— O amor vem com o tempo, Amalhinha, quando me casei com seu pai, eu não o amava, mas com o tempo, eu comecei a admirá-lo, quando percebi, já o amava mais-que-tudo nesse mundo.

— Mamãe, por favor, me compreende.

De repente a porta se abriu, Guadalupe apareceu dizendo.

— O senhor e a senhora Moretti já chegaram, o filho deles também já está aqui, estão aguardando na sala, o patrão mandou avisar.

— Obrigada Guadalupe, nós já iremos descer, avise-os. — Minha mãe disse. — Está vendo Amália. — Se voltou para mim — Já estão todos nos esperando, vista-se logo, é uma ordem!

— Mamãe, por favor! — Chorei abraçando seu braço.

— Eu já estou indo, e te darei 10 minutos para descer também, não quer que seu pai venha aqui te buscar, não é mesmo? Sabe que ele te arrastaria do jeito que está.

— Tudo bem, mãe. — Respondi triste. — Já estou descendo.

Desceria, mas era para dar um basta nessa ideia absurda de casamento.

Minha mãe saiu do quarto e eu me desesperei, precisava me arrumar logo, pois se meu pai viesse atrás de mim, daria a maior bronca.

Desci a escada com o coração na mão, disposta a ser a pessoa mais desagradável do mundo, e no final, quem não iria querer se casar comigo, era ele.

Quando entrei sala, todos viraram a atenção para mim, vi o senhor e a senhora Moretti, eles vieram me cumprimentar, logo atrás deles, vi um homem de olhos azuis, alto, muito bem-vestido, de barba bem aparada, muito lindo. Ele me encarou e eu fiz o mesmo, se aproximou e disse.

— É um prazer imenso conhecer minha noiva pessoalmente. — Pegou em minha mão e deu um beijo na mesma.

— O prazer é todo meu Filipo. — Balbuciei, não acreditando no quão lindo ele era.

Estranho falar isso, mas acho que me apaixonei por ele.

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