Dizem que a felicidade de um casal acaba quando uma tragédia acontece na vida deles. Felicity Bianco não acreditava nisso até sua vida virar de cabeça para baixo por uma perda na qual a fazia sentir uma dor inimaginável. Aquelas palavras estavam certas. Mas isso queria dizer que deveriam abaixar a cabeça e deixar que aquela dor destruísse uma união tão bonita? Oliver Barbieri não concordava. Um casamento era para sempre: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe. Ele sempre acreditou nisso e a esposa também sempre acreditou nisso, mas de repente, estava apenas ele acreditando, e apenas ele tentando salvar aquele relacionamento no qual sonhava junto da amada em um “felizes para sempre”. Seria difícil, seria doloroso, mas ele faria o que fosse para ter aquela felicidade de volta em sua vida e na vida de sua amada.
Leer másFelicity Bianco era a senhora Barbieri há quase seis anos. Havia conhecido seu marido no primeiro ano da faculdade; ela cursava medicina e ele substituiria seu pai na empresa da família e por isso cursava direito. Ele tinha as garotas aos seus pés, mas não se relacionava com ninguém. Tinha apenas três melhores amigos, Liam Valentim, que era quase seu irmão por crescerem juntos, e Laura e Théo Figueiredo, seus primos, sobrinhos de sua mãe. Ela, ao contrário dele, era bastante popular e tinha vários amigos além dos que fez no primeiro dia de faculdade; Ana Mancini e os irmãos Penélope e Alexander Barone, nos quais cresceram junto dela desde que se conheciam por gente. Havia também a Victória Guedes, na qual a conheceu no último ano do fundamental, e não menos importante, o melhor amigo de seu agora marido, no qual conheceu também no primeiro ano da faculdade. Ela havia feito muitas amizades durante aquele novo ano de sua vida, e por isso era sempre chamada para festas e encontros, mas assim como o moreno de olhos ônix, ela corria de relacionamento; na primeira vez que se relacionou sério, perdeu o namorado por um problema do coração e da última vez que havia tentado novamente acabou se machucando muito, então ela não conseguia confiar no amor ou mesmo nos homens, apenas em seus amigos nos quais a viam como nada mais do que uma “irmã” – mesmo que não de sangue. E por ter passado por tudo que passou que era protegida por cada um deles.
Ela também era órfã. Ambos os pais morreram quando ela tinha apenas dezoito anos. Dias depois de ela ingressar na faculdade. Era para ser uma viagem em família. Tudo tinha sido incrível. Foram os dias mais felizes de sua vida, e teria sido perfeito na ida e na volta se não tivessem sofrido aquele acidente horrível. Ela foi a única sobrevivente. Os três chegaram ao hospital com vida, mas apenas um deles conseguiu sair ileso. Ou quase. Felicity precisou de terapia, e se não fosse pelos pais de sua melhor amiga, Ana, ela não sabia o que teria sido de si pelos próximos anos. Eles a criaram. Como filha. Nunca fizeram distinção dela e Ana. Eles a conheciam desde bebê. Eram muito amigos de seus pais. Felicity era muito grata a eles, por terem lhe dado não só uma casa, mas uma nova família.
Felicity abriu seu coração, mesmo depois de tudo que houve com ela, meses depois. Inacreditavelmente, ele começou a bater novamente, de forma que a deixava com bochechas coradas, as mãos suadas e o corpo trêmulo. Ah, e não podia se esquecer das borboletas no estômago. Ela se recriminou por isso por alguns dias, principalmente porque sabia que assim como ela, Oliver Barbieri corria de relacionamento amoroso; nunca entendeu o porquê, e mesmo curiosa nunca tinha coragem de perguntar para Lucca. Tudo começou depois de uma apresentação pública na qual teve de fazer em frente a todos os alunos do campus. Ela estava passando mal naquele dia, não conseguia nem mesmo ficar de pé por conta de uma febre horrível e acabou por desmaiar quando descia do palco após a apresentação. A sua sorte foi que alguém havia percebido seu mal-estar. O garoto por quem seu amigo loiro de olhos azuis não parava de falar sobre, tentando fazê-la enxergar que eles dariam um belo casal; ele insistia em dizer que eles deviam ter um encontro. E aconteceu. Mas não foi como Liam imaginou, já que foi parar na enfermaria da faculdade. Oliver ficou até que acordasse, foi extremamente gentil e até mesmo a levou em casa. Após isso, passaram a se falar e se ver sempre, antes e depois das aulas, além de se encontrarem no intervalo. Viraram amigos. E ela se apaixonou. Ana havia avisado que ela acabaria se apaixonando, Penélope também havia avisado, mas a jovem de cabelos castanhos com mexas cor-de-rosa não achou que aconteceria porque seu coração estava machucado demais para sentir qualquer coisa por qualquer pessoa. Mas estava errada. Teve de confessar às amigas de que estava errada, pois aquele sentimento que crescia cada vez mais a estava sufocando de tal forma que precisava desabafar. E suas amigas a apoiaram.
Laura dizia que ela deveria confessar seus sentimentos; ela sabia como era sufocante guardar um sentimento por tanto tempo, havia passado por isso durante parte da adolescência, quando finalmente, aos quinze anos, quase dezesseis, confessou ao Liam que gostava dele. E ele acabou aceitando seus sentimentos. Mas Felicity não acreditava que aconteceria o mesmo com ela. Não até perceber os ciúmes estampados nos olhos ônix do Barbieri quando a viu aos risos com um colega de sala, no qual era apaixonado por ela, mas que compreendia que ela nunca poderia lhe corresponder. Eles discutiram, falaram coisas que não deveriam um ao outro, até que o moreno percebeu que estava enciumado e acabou saindo do cômodo no qual estavam a sós – a biblioteca –, a passos apressados. Felicity não ficou chateada, mas apenas por ter percebido o mesmo que ele, e por isso foi para casa com a melhor amiga, toda pensativa, acreditando que havia uma chance. E havia. Ela quase não acreditou quando o orgulhoso Oliver Barbieri se aproximou no dia seguinte, puxando-a para uma das salas vazias, se desculpando pela forma que a tratou e confessando que estava com ciúmes. Jamais o imaginou fazendo isso, mas nem por isso o provocou, principalmente por achar que era a sua chance de confessar seus sentimentos. E desde então estavam juntos. Namoraram, noivaram e se casaram antes de a mulher terminar sua residência.
Eram felizes.
Havia algumas coisas que os faziam discutir, mas nunca iam para o quarto brigados um com o outro.
Até que o sonho deles de serem pais se concretizou, e não muito tempo depois, os destruiu. Felicity estava com apenas seis meses quando perdeu a criança. Era uma garotinha e já tinha um nome e um quarto, todo decorado; o berço havia sido dado pela avó paterna. Ela não sabia lidar com a perda e o marido dela não conseguia ajudá-la. Ele se enfiou no trabalho para correr da dor da perda e ela se enfiou em casa, para sentir a dor. Ela mal saía. Sentia-se sozinha, chateada, irritada, magoada, sem esperanças e isso a fazia discutir com o marido por ele estar sempre trabalhando, o que o fazia discutir por ela estar sempre discutindo por tudo e qualquer coisa. Diziam palavras dolorosas um ao outro e seguiam caminhos diferentes, mesmo que morassem na mesma casa; ela dormia no quarto de hóspedes de frente ao quarto que seria do bebê e ele no quarto de ambos, do outro lado do corredor.
A vida deles desmoronou.
Mas enquanto um conseguia ver que a vida deles não estava mais nos eixos e que algo deveria ser feito, mesmo que aos pouquinhos, para ser resolvido, o outro não conseguia enxergar isso por estar focado na dor da perda de um bebê que já era mais que amado.
Um Ano Depois — Vamos lá, Olívia, não seja preguiçosa. — Não fale assim da nossa irmãzinha. — Ela tem que ser instigada a andar. Os trigêmeos insistiam nisso desde que Olívia fez seus sete meses. A escola lhes tomava o tempo, mas era só tirar um tempinho, que lá estavam eles, tentando fazer a irmãzinha dar seu primeiro passinho. Mas era sempre a mesma coisa no fim do dia. Ela tentava, tentava, e caía de bumbum no chão, isso quando ela não emburrava e desistia, o que vinha acontecendo muito. Esse era o motivo de Samuel chamar a irmã de preguiçosa. Ela podia desistir, mas ele não. Pelo menos até ela ficar irritada, porque quando acontecia, seu pai aparecia e a pegava no colo, fazendo suas vontades. Sim, Samuel e Benjamin diziam que o pai fazia as vontades de Olívia e que por isso ela havia se tornado uma bebezinha preguiçosa. E manhosa também. Como ela era manhosa. Se tirasse qualquer coisa de suas mãozinhas, algo que gostava muito, ela abria o berreiro como se alguém estivesse lh
As crianças vibraram — sobre os olhos e sorrisos de sua mãe — após rasgarem o papel de presente e descobriram o que havia dentro da caixa — que teve de ser empurrada por Felicity até onde os filhos estavam — e quase que imediatamente os três insistiram para que o pai — que saia do banho — montasse o pula-pula. E ele o fez após o café-da-manhã, que naquele dia em especial havia sido a refeição mais curta do mundo que fizeram juntos. Oliver deixou o “brinquedo” no jardim, a uma distância na qual ele e a esposa poderiam observar; principalmente por ser três e um. Por quase vinte minutos, Felicity ficou encostada sobre o batente da porta que levava para o extenso jardim de sua casa, de olho em seus três filhos que se encontravam juntos dentro do pula-pula, pulando juntos em meio a risadas e brincadeiras; uma delas, a que mais preocupou aquela mamãe cuidadosa; dois pulavam enquanto que o outro se deitava, sendo impulsionado para o ar. Claro que ela gritou pedindo por cautela quando viu su
Era cedo, bem cedo quando Oliver despertou, já energizado, principalmente por seus pequenos e elétricos filhos terem adormecido mais cedo na noite anterior. Sim, todos eles. Por incrível que pareça, até a menorzinha, já com seus sete meses e meio havia adormecido mais cedo. Tomou um banho relaxante e bem refrescante, enxugando os cabelos com a toalha e deixando-a sobre a pia antes de deixar aquele cômodo apenas de boxer, e só porque era cedo demais e impossível um de seus filhos — ou mesmo os três — aparecerem em seu quarto. Quando seus olhos fitaram a esposa, percebeu que uma estava descoberta, deitada de costas contra o colchão, com uma das pernas levemente flexionada, o que lhe dava a possibilidade de ver tudo que tinha abaixo da saia daquela camisola extremamente curta em sua opinião; não que estivesse reclamando, claro. Uma das alças estava caída, então parte do seio direito estava a mostra, quanto que o outro, ainda que tampado, ficava pressionado contra o tecido daquela vestime
Felicity estava no hospital desde as quatro da manhã. Já havia andado por todo o quarto, comido um lanche e agora esperava deitada sobre aquela cama hospitalar. Não sentia dor alguma e a dilatação estava mínima ainda. A bolsa estourou, ela sentiu aquela água descer por suas pernas e mesmo assim, ainda não estava pronta para ter sua filha. Sua garotinha. Ela não esperava que fosse acontecer logo naquele dia. Ainda faltava mais ou menos uma semana. Estava preparada, claro, tinha tudo pronto, mas achou que levaria mais um ou dois dias para sua garotinha nascer. Ela queria muito que a bebê nascesse no dia do aniversário de seu marido. Sonhou muito com isso. E só faltava algumas horas para que esse dia chegasse, então ela não estava nervosa ou mesmo pedia para que nascesse de uma vez, principalmente quando não sentia dor alguma. Mas estava ansiosa. Isso ela não poderia negar. Esperou tanto pelo momento em que tivesse seu bebê em seus braços finalmente. Só queria que ela esperasse só mais u
— Que nojeira é essa? Felicity até tentou responder ao marido, mas como estava com a boca cheia, tudo que ele escutou foi “nham,nham,nham”. Ou quase isso. Ele franziu o cenho, mas o motivo não era pelas palavras que tentaram sair dos lábios da esposa, mas sim pela “coisa” que ela comia com a boca mais deliciosa do mundo. Seria normal se ela comece tudo aquilo separadamente, mas ela havia misturado a torrada com molho de tomate, pasta de amendoim e nuttela. Junto. E misturado. Muito misturado. O estômago dele chega deu uma reviravolta. — Hum. Entendi tudo. — Está uma delícia. — Querida, delícia, eu tenho certeza de que não está. Ela apenas de ombros, continuando a comer. — Seus desejos estavam normais até ontem. Ela havia comido tomate com sal, manga com açúcar, kiwi com chocolate derretido, bolo de cereja com nutella. Até aí, tudo muito normal para ele. E os desejos nunca vinham acontecendo de madrugada, mas á noite. Depois das dez. Até há dois dias atrás, quando ele se levan
Felicity se sentia preparada como não sentiu quando descobriu a gravidez. O que era natural. Estava com medo. Um medo que era normal quando já havia perdido um filho. Filha. Mas não era assim que se sentia mais. Não com todo o cuidado que recebia do marido. Era como se todo aquele sentimento ruim tivesse desaparecido. Se olhava no espelho quase todos os dias. Fitava a própria barriga, tocava com ambas as mãos, e já imaginava a si mesma com um barrigão. Sabia que ainda levaria mais algumas semanas para ter aquela barriga de grávida, mas se sentia ansiosa para a chegada daquele momento especial. Alguns diziam que era estranho, mas ela havia se acostumado na última gestação. Era incrível como uma barriga podia crescer tanto em um mês. Menos de um mês. Com Lívia havia sido bem devagar. E nem havia crescido tanto também. Sua barriga não tinha ficado um terço do que a barriga de Laura quando ela teve o Levi. E o dela também era apenas um bebê. Uma engordou muito mais que a outra. Aquele s
Último capítulo