Mundo de ficçãoIniciar sessãoCapítulo 4
Zacky caminhou, enquanto Dolores tentava acompanhá-lo descalça, segurando os sapatos quebrados. Ele abriu a porta de um dos quartos da casa principal e deu um passo para o lado, permitindo que ela entrasse. O ar ali dentro era fresco, naturalmente renovado pelo vento que atravessava as janelas abertas. Nada de ar-condicionado artificial. O ambiente era amplo, iluminado, acolhedor. Um tapete macio ocupava parte do chão e, bem ao centro, havia uma cama tão grande que poderia facilmente acomodar três pessoas. Ela ficou parada na porta, surpresa. A vista da janela dava direto para as montanhas rosadas pelo fim da tarde. Era de tirar o fôlego. Zacky cruzou os braços enquanto observava a reação dela. — Pode ficar aqui enquanto o seu almofadinha não vem te buscar — disse ele, com a voz grave que parecia sempre à beira da provocação. Dolores torceu a boca. — Ele tem nome. — Não me interessa. — Zacky apontou para o canto do quarto. — Lá tem um banheiro integrado. Banheira, chuveiro, toalhas. Use o que precisar. Ela caminhou alguns passos para dentro, tocou a madeira rústica da cômoda. Tudo ali parecia natural, confortável… diferente de qualquer lugar que ela já ficou. — É… bonito — admitiu, quase sem querer. Zacky deu uma risada baixa. — É funcional. — Ele consultou o relógio no pulso. — São cinco da tarde. Jantamos às sete, na área gourmet lá fora. Ela ergueu o olhar, hesitante. — Eu… posso ir ao jantar? Ele deu de ombros. — Você pode fazer o que quiser enquanto estiver na minha propriedade. Só não espera um tapete vermelho. Dolores estreitou os olhos. — Você faz isso de propósito. — Fazer o quê? —Irritar. Ele abriu um sorriso lento, insolente. — Eu? Não. Só estou sendo honesto. Zacky deu meia-volta para sair, mas parou na porta. — Se quiser descansar, ótimo. Se quiser tomar um banho, melhor ainda. Você parece prestes a desmaiar. — Obrigada pela gentileza — ela rebateu com sarcasmo. — Não foi gentileza. Foi constatação. — Ele provocou, com o canto da boca erguendo. — Te vejo no jantar… se você não fugir antes. E saiu, deixando-a ali, entre o encantamento do lugar e a raiva crescente daquele cowboy insuportavelmente atraente. O quarto era tão grande e acolhedor que ela se sentiu pequena ali dentro. Tirou a camisa, a saia, e deixou as roupas cuidadosamente dobradas sobre a poltrona. Precisava daquele banho. Precisava se recompor. --- Enquanto isso, lá fora, Zacky caminhava até o carro dela. Abriu o porta-malas, pegou a mala e a levou até a porta do quarto, deixando-a ali sem bater. Ele não queria assustar a moça nem fazer nenhuma gracinha. Só estava sendo educado — ou tentando, mesmo sendo rude. Quando saiu na varanda, ouviu passos vindos do curral. Maurício aparecia enxugando as mãos na calça jeans, com um sorriso maroto. — Tem uma bela dama na casa, patrão — comentou, mal escondendo a empolgação. Zacky soltou um bufar curto, ajustando o chapéu na cabeça. — Hóspede temporária — respondeu, seco. — E problema certo. Maurício riu, balançando a cabeça. — Se todo problema vier desse jeito… Deus me livre de solução. Zacky o encarou de soslaio, mas o canto da boca ameaçou subir. Por alguns segundos, ele olhou para a varanda do quarto onde deixara a mala e se perguntou por que, diabos, uma mulher como Dolores mexia tanto com a cabeça dele, sendo que ele nem a queria ali. --- Dolores ficou um bom tempo diante do espelho, indecisa. Não tinha levado vestidos sofisticados, nem precisava. Acabou escolhendo o mais simples da mala: um vestido leve, cor neutra, que deslizava pelo corpo sem marcar demais… mas também sem esconder suas curvas naturais. Prendeu o cabelo de um jeito delicado, passou apenas um toque do seu perfume habitual. Não queria chamar atenção. Quando desceu as escadas da casa grande, escutou o som das botas de Zacky no piso de madeira. Ele vinha da área gourmet, ajeitando as luvas de trabalho no cinto. Assim que levantou o olhar e a viu, parou. Literalmente parou, como se tivesse levado um tranco invisível. O vestido simples caía nela sob medida. Nada brilhante, nada curto, nada escandaloso. Mas era justamente o jeito suave como o tecido moldava a cintura, o quadril e o balanço sutil enquanto ela caminhava que fez algo dentro dele falhar. E então sentiu o perfume. Quando a brisa leve trouxe o aroma até ele, Zacky respirou fundo sem querer. O peito encheu, o corpo endureceu por completo e, por um segundo, ele quase perdeu o equilíbrio. Precisou apoiar a mão no encosto da cadeira mais próxima. Dolores só percebeu quando o viu engolir seco. — Eu… espero não estar atrasada — disse ela, com a voz suave e tímida. Ele piscou, duas vezes. — Não… — ele limpou a garganta. — Chegou na hora certa. Ela sorriu. E o sorriso acertou Zacky como um golpe direto no estômago. Ele virou o rosto, puxando o ar como se tivesse ficado sem fôlego. — Vamos… — murmurou, abrindo espaço para ela passar. — O jantar já está quase pronto. Mas quando Dolores passou por ele, o perfume voltou a preencher suas narinas. Zacky travou o maxilar. Era instintivo, uma reação que ele não conseguiu controlar. O olhar dele desceu pelas curvas discretas do vestido, subiu de novo para o rosto dela, e por um instante ele esqueceu completamente que, horas antes, só queria que ela fosse embora. Se aquela mulher não deixasse a fazenda logo… seria um problema. Um problema grande em sua vida e no autocontrole que ele sempre achou ter. Dolores percebeu a tensão, mas não entendeu o motivo. — Está tudo bem? Zacky piscou devagar, respirou fundo e recuou um passo, abrindo caminho para ela. — Está. — A voz dele saiu grave, mais do que pretendia. — Vamos jantar antes que a comida esfrie. Ela caminhou até a área gourmet. Tudo era completamente diferente da vida dela na cidade. Ele a seguia de perto. Perto demais. Dolores sentiu a presença dele antes mesmo de ouvi-lo puxar a cadeira. — Pode sentar. Dolores sorriu, sincera. — Obrigada… por me deixar ficar. Mesmo sem querer. Ele a encarou. — Não disse que não queria. — Ele cruzou os braços, apoiando o ombro no batente. — Só disse que não preciso de encrenca. Ela riu. — Eu pareço encrenca pra você? — Parece. E muita. Dolores abriu a boca, surpresa, mas antes que pudesse responder, sentiu o cheiro da comida chegando. Zacky virou o rosto, recuperando-se. — Vamos comer — disse ele, firme. — Antes que eu comece a pensar demais. Ele não admitiria, mas já estava pensando demais.






