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Revieras, Um Retorno Silencioso

O avião pousou em Revieras sob o manto suave do entardecer. O céu estava salpicado de tons dourados e azul-acinzentados, como se o mundo inteiro estivesse em suspenso, prestando atenção ao recomeço silencioso de uma mulher que todos acreditavam morta.

Ema desceu com passos firmes, mas o coração acelerado. Sua vida anterior tinha ficado para trás, no calor sufocante de Mali Beach. Lá, ela foi Ema Lina. Lá, ela foi humilhada, desacreditada, destruída por um homem que dizia amá-la.

Agora, renascia.

No saguão do pequeno aeroporto privado, sua mãe, Gisele Castro, a esperava. Elegante como sempre, de postura impecável e olhos úmidos, ela abriu os braços assim que a viu.

— Minha menina… — sussurrou Gisele, apertando Ema contra o peito com uma força quase desesperada.

— Eu estou bem, mãe — murmurou Ema, mesmo sabendo que era uma meia-verdade.

Logo atrás, o pai, Antônio Castro, observava em silêncio. Alto, imponente, com o olhar grave de quem sabe que perdeu anos preciosos ao manter a filha longe da segurança da família. Mas estava ali agora. E isso era o suficiente.

— A cidade inteira acha que você está viajando pela Europa — disse Gisele enquanto entravam na limusine discreta. — A versão oficial da família é que Ema Castro vive há anos fora do país. Ninguém vai ligar os pontos, não agora. Você está segura.

Ema assentiu. O plano tinha sido arquitetado com precisão. Os documentos haviam sido preparados, a identidade de Ema Lina apagada com ajuda dos melhores advogados e da influência dos Castro. Para a imprensa, a filha única do império do petróleo era uma figura reservada, reclusa, quase um mito. A jovem de nome poderoso que ninguém conhecia — até agora.

No caminho para a mansão, Ema apoiou a testa no vidro da janela, assistindo à cidade passar. Revieras era completamente diferente de Mali Beach. Mais fria, mais refinada, menos escandalosa. O tipo de lugar onde o silêncio dizia mais do que qualquer manchete.

A mansão dos Castro ficava no alto de uma colina, cercada por jardins bem-cuidados e guardas discretos. Um portão de ferro ornamentado se abriu assim que o carro se aproximou. Era ali que ela viveria — pelo menos, por um tempo.

Ema foi recebida com carinho pelos funcionários. Alguns sabiam quem ela era, outros apenas acenaram com reverência, sem questionamentos. Era isso que ela queria: discrição, silêncio e tempo.

Nos dias que se seguiram, mergulhou em um luto que não era seu, mas que precisava parecer real. Lisa Sato, sua fiel amiga, também estava em Revieras, ajudando-a com os detalhes finais.

— Ethan acreditou na sua morte — contou Lisa, em uma das tardes em que as duas tomavam chá no jardim. — Estava em choque. Bêbado. Arrependido. Eu o vi no enterro simbólico… parecia um homem devastado.

Ema mordeu o lábio inferior, mas não demonstrou emoção.

— E os jornais?

— Nenhuma ligação com os Castro. Como você pediu. Pra todos os efeitos, Ema Lina era apenas uma garota que teve o azar de amar o homem errado. E morreu por isso.

Silêncio.

— E você, Ema? Está mesmo morta?

Ela olhou para o céu limpo, como se procurasse uma resposta entre as nuvens.

— A Ema que o amava está — respondeu. — Agora é hora da Castro nascer.

Os meses seguintes foram intensos. Ela se dedicou aos negócios da família, estudou com especialistas, aprendeu a dominar a arte dos números, da estratégia e das aparências. Com o nome Lina, ela havia se apagado. Com o nome Castro, ela acenderia como nunca.

Ao mesmo tempo, um novo guarda-roupa foi sendo construído. Sua aparência mudava sutilmente: roupas sob medida, cortes elegantes, perfumes que exalavam poder. Cabelos agora sempre bem escovados, postura ereta, olhar firme. Não havia espaço para hesitação. Não mais.

Gisele, que sempre desejou ver a filha assumir seu lugar de direito, não escondia o orgulho.

— Você nasceu para liderar, Ema. Só precisava se livrar das correntes erradas.

Mas nem tudo era fácil. À noite, sozinha no quarto com cortinas pesadas e o som distante dos ventos da colina, Ema ainda pensava em Ethan.

Ela lembrava dos bons momentos. Dos risos escondidos no carro, dos beijos à meia-luz, das conversas no sofá enquanto dividiam uma garrafa de vinho. Havia amor. Ela tinha certeza. Mas não bastava. O amor sem respeito é uma arma carregada.

E agora, ela era a mulher que carregava o gatilho.

Cinco meses se passaram. Depois oito. Um ano. Dois. Ema se tornava, aos poucos, uma figura poderosa e intocável. Conhecida nas rodas de influência, mas ainda um mistério para o público. Seus negócios se expandiam, sua frieza estratégica era comentada com admiração — e medo. Mas nada, absolutamente nada, vazava sobre seu passado.

Até que, no quinto ano, tudo mudou.

Mas isso... é outra história.

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