A Volta do Fantasma

Cinco anos depois...

O envelope preto repousava sobre a mesa de mármore como uma bomba prestes a explodir. O brasão dourado gravado no papel reluzia sob a luz fria do escritório. Ethan girava entre os dedos o cartão de convite, franzindo o cenho ao ler o nome em destaque:

Ema Castro.

Havia algo naquele nome que incomodava. Uma memória vaga, um gosto amargo no fundo da garganta. Ele o encarou por longos segundos, como se o papel fosse zombar dele a qualquer momento.

— Está tudo certo com o senhor? — perguntou Lucca, seu assistente, ao notar o silêncio do chefe.

Ethan ergueu os olhos.

— Quem é essa Ema Castro?

— A herdeira da família Castro, líder no setor de petróleo. Só agora ela está aparecendo publicamente. O evento beneficente em Revieras será a primeira aparição oficial dela como anfitriã. Você foi convidado como homenageado pela contribuição da Sanchez Corp. à tecnologia limpa.

Ethan assentiu, mas ainda franzia o cenho.

— Ema… — repetiu, baixo, como se degustasse o nome.

O mesmo nome que ele não ouvia há cinco anos. O mesmo nome que evitava em voz alta para não abrir feridas que lutava para esquecer.

Mas Castro? Não, isso não fazia sentido. Sua Ema não era ninguém, usava o sobrenome Lina, vinda de uma família comum, sem pompa, sem fortuna. Era impossível que fossem a mesma pessoa.

E ainda assim… algo o incomodava.

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O salão do hotel La Couronne, em Revieras, transbordava luxo e opulência. As mulheres exibiam vestidos de grife, os homens ostentavam ternos sob medida, e os fotógrafos se acotovelavam para capturar o momento em que Ema Castro desceria a escadaria principal para sua grande apresentação ao mundo.

Ethan chegou com postura imponente, mas o olhar levemente inquieto. Ele não sabia explicar por que o nome daquela mulher martelava em sua mente. Tudo nele dizia que havia algo errado.

Até que ela apareceu.

Ema surgiu no topo da escada com um vestido preto de seda que deslizava pelo corpo como água. Os cabelos estavam presos em um coque elegante, com alguns fios soltos acariciando o rosto. Os olhos, marcados com delineador, tinham o mesmo brilho de fogo que um dia o encarou com dor e paixão.

O ar fugiu dos pulmões de Ethan.

Era ela.

O mundo à volta ficou em silêncio. A orquestra tocava, os flashes explodiam, mas tudo o que ele via era o passado diante de si — vivo, radiante e perigosamente intocável.

— Lucca — sussurrou, tenso — é ela.

— Quem, senhor?

— É a Ema. Minha Ema.

Lucca franziu o cenho.

— Tem certeza? Ela é a herdeira dos Castro, senhor. Está nos jornais desde ontem. Só que ninguém sabia que existia uma filha. Foi tudo um mistério muito bem guardado.

Ethan não respondeu. Seu coração batia tão alto que quase abafava a música de fundo. Era ela. Os olhos, a postura, a boca — tudo nela era a mesma mulher que ele havia perdido. A mulher que ele acreditou ter morrido. A mulher que agora surgia como um furacão elegante, mudando tudo com um único olhar.

Ema desceu os degraus lentamente. A cada passo, os olhares a seguiam, mas o dela não se desviava do horizonte. Não procurava por ele. E isso o torturava mais do que qualquer desprezo.

Quando ela chegou ao centro do salão, foi recebida com reverência. Empresários se curvavam para cumprimentá-la. Jornalistas sussurravam sobre sua beleza, inteligência e o mistério de seu reaparecimento. Mas Ema sorria com frieza educada, como se nenhum deles realmente importasse.

Ela sabia que ele estava ali. E não fez menção de olhar para ele.

---

Durante o discurso de abertura, Ethan se manteve imóvel, como se seus músculos tivessem esquecido como agir.

— Boa noite — começou Ema, com a voz firme e melódica. — Hoje, oficialmente, dou início a um novo capítulo da Fundação Castro. Por muito tempo, meu nome permaneceu fora dos holofotes. Era uma escolha. Agora, é uma estratégia.

A plateia riu suavemente.

— O império que meu pai construiu está pronto para ser não apenas um gigante do petróleo, mas um agente de transformação social. E eu… estou pronta para mostrar quem sou.

Aplausos. Muitos.

Mas Ethan mal os escutava. Ele não via apenas uma mulher poderosa discursando. Ele via a garota que ele humilhou, agora retornando como a versão mais letal e inacessível de si mesma.

Quando a cerimônia terminou, ele se moveu quase sem pensar. Passou pela multidão com determinação e encontrou-a nos bastidores, sozinha por um instante, ajeitando a alça do vestido.

— Ema.

Ela se virou.

Os olhos dela demoraram meio segundo para o reconhecer. Quando o fizeram, não foi com surpresa. Foi com um sorriso leve, gélido e cheio de veneno doce.

— Ethan Sanchez.

Ele engoliu seco.

— Você está viva.

— Pelo visto, sim.

— Você é... dos Castro?

Ela deu um passo à frente.

— Sempre fui. Você só nunca se deu o trabalho de perguntar. Ou de olhar além do que queria ver.

— Eu pensei que você tivesse morrido, Ema. Eu sofri. Me culpei...

— E você me julgou — cortou ela, com os olhos faiscando. — Você me esmagou, Ethan. Me chamou de interesseira, me afastou, me humilhou. Agora olha só: parece que eu nunca precisei de você.

Ele tentou tocar o braço dela. Ela recuou.

— Eu preciso conversar com você. Só nós dois.

— Que pena — sussurrou, com um sorrisinho debochado. — Eu estou muito ocupada vivendo uma vida que você não faz mais parte.

Ela passou por ele com elegância cortante, deixando para trás o homem que, por tanto tempo, a deixou de lado. Só que agora, ele era quem havia sido deixado.

E no fundo, Ethan sabia: ela não era mais a mesma.

Ema Castro voltara. E ela não estava ali para perdoar.

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