Capítulo 5

Helena Evelyn 

O fim de semana finalmente chegou, e eu agradeci mentalmente a Deus pelo simples fato de não precisar olhar para a cara daquele homem insuportável. Só isso já deixava meu peito mais leve. Nathan Keen era como uma pedra no sapato: arrogante, grosso, metido e capaz de estragar meu humor com uma única frase.

Só de lembrar do olhar dele, meu sangue fervia.

Mas hoje… nada de Nathan. Nada de estresse. Nada daquela sensação de que estou pisando em um campo minado dentro da Model.

As meninas insistiram para irmos a uma festa, e Victor — sempre gentil — havia me convidado pessoalmente. Eu aceitei no impulso, encantada com a educação dele, mas agora… não sei. Meu corpo dizia “vai”, mas minha cabeça dizia “fica em casa e dorme”.

Victor era maravilhoso. Cabelos ruivos com brilho de fogo, olhos tão azuis que pareciam o céu depois da chuva. Educado, carinhoso, um príncipe. E o mais estranho: solteiro. Com toda aquela beleza, com aquele jeito doce, não era possível que ninguém tivesse conquistado seu coração.

Talvez eu devesse perguntar por quê… mas que moral eu tenho para isso? Eu, que nunca tive um namorado?

Suspirei fundo. Eu queria viver aquele amor que os livros descrevem. Queria sentir o coração acelerar, as pernas tremerem, a respiração falhar. Queria viver um romance que mexesse comigo… e também queria perder logo minha virgindade — do meu jeito, na minha hora, com alguém que eu escolhesse. Não como… como teria acontecido se eu não tivesse fugido daquele inferno chamado Marcela.

Um arrepio percorreu minha espinha.

Eu odiava lembrar de tudo o que ela planejou para mim. Ódio. Era isso que eu sentia por ela.

— Valentina, no quê você está pensando? — a voz de Ketley me tirou do transe.

— Em tanta coisa… Mas primeiro, me explica uma coisa: por que um homem lindo como o Victor não tem uma namorada?

Ketley sorriu, mas algo em seu olhar… doeu.

— Ele já teve. Faz muito tempo. Ela terminou com ele. — Ela abaixou os olhos. — Nunca a vi. Ele nunca trazia ninguém para o trabalho. É muito profissional. Você foi a primeira que ele chamou para sair.

Meu peito apertou.

Não… não pode ser.

Ketley… gosta dele.

E eu nem notei.

— Ketley — tentei sorrir — e você? Está solteira?

— Tô. Tive um relacionamento péssimo. Ciúmes demais, possessividade demais… E eu não aceito isso. Trabalho tirando fotos de lingerie, e tem homem que não aguenta. Então deixei ele ir. — Ela deu de ombros. — Meu trabalho vem primeiro.

— Faz bem. Eu nunca tive um namorado, então não sei muito sobre isso.

Ketley arregalou os olhos.

— Como assim? Uma mulher linda como você? Nunca? Hel— digo, Valentina… você é virgem?

Engoli seco.

— Completei 18 anos há dois meses. E sim… sou virgem. Nunca senti vontade com ninguém.

Ela caiu sentada no sofá.

— Dezoito?! Mas… aqui só aceitam meninas acima de 20! Como você entrou?

Eu contei tudo.

Do passaporte falso.

Dos documentos adulterados.

Da viagem forçada.

Do medo.

— Eu tenho 25 anos… no papel — finalizei.

Ketley respirou fundo.

— Amiga, isso é sério. Muito sério.

— Eu sei… mas não quero pensar nisso agora. — Tentei sorrir. — Victor vem nos buscar às 21h30. Vamos nos arrumar.

Subi para meu quarto e me joguei na cama. Apaguei.

Quando acordei, eram quase seis da tarde. Me levantei rápido, o coração acelerado. Eu demorava séculos para me arrumar — especialmente porque não sabia me maquiar. Nem sabia usar metade das coisas que as maquiadoras da agência passavam em mim durante as sessões de fotos.

Pelo menos… estava longe de Marcela. Talvez isso fosse o suficiente para respirar.

Eu tentei escolher uma roupa, mas não tinha quase nada. Minhas roupas ficaram para trás, junto com minha antiga vida. E embora eu tivesse recebido meu primeiro salário — e um cartão lindo, brilhante, novinho — eu ainda não tinha tido coragem de gastar nada. Me sentia culpada morando naquele apartamento tão sofisticado, com piscina, paredes brancas como hotel de luxo e móveis que pareciam de revista.

— Valentina! — Ketley entrou sem bater. — Com que roupa você vai?

— Não sei! Não tenho nada. E ainda tenho que ouvir o seu chefe idiota dizendo que eu só tenho uma roupa pra trabalhar! — revirei os olhos. — Eu odeio aquele homem, Ketley. Ele é impossível.

— Calma… amiga. — Ela riu. — Vem no meu closet.

Quando ela abriu a porta, eu quase caí para trás.

Parecia a seção VIP de uma loja cara. Roupas com etiquetas, gavetas organizadas, sapatos impecáveis.

— Escolhe o que quiser — ela disse.

— Mas você compra roupas e não usa?

— Eu gosto de ter opções.

Rimos juntas. Aquilo me ajudou a respirar melhor.

Depois do banho, escolhi um vestido marrom elegante, salto plataforma e deixei o cabelo secar ao natural. Antes de descer, tomei coragem e liguei para minha família.

Meu irmão atendeu. Sua voz tremia.

— Helena? Meu Deus… Helena!

Ouvir aquele tom de alívio… quase me destruiu.

— Oi, mano…

Conversamos. Ele passou o telefone para minha mãe. Ela brigou comigo, chorou, reclamou — exatamente como eu esperava. Mas também disse que me amava e que ia abrir uma conta no banco, como pedi.

Eu prometi voltar.

Prometi mandar dinheiro.

Prometi tudo… tentando não desmoronar.

Só desliguei porque minha voz já estava falhando.

E então percebi:

Se minha mãe insistisse em ir me visitar…

Eu estaria arruinada.

Eu menti. Eu disse que estava em São Paulo.

São Paulo… sendo que estou do outro lado do oceano.

Meu estômago embrulhou.

Mas eu não podia pensar nisso agora.

Eu tinha uma festa para ir.

E uma vida nova para sustentar — mesmo que fosse construída em cima de segredos.

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