Matteo:
O homem sacou uma faca e se aproximou de mim, os olhos faiscando de raiva. — É você! Seu desgraçado!
Levantei devagar, ignorando as garotas e focando apenas no homem à minha frente. Tudo em mim estava em alerta. Ele era a razão daquele comportamento suspeito. Era o que eu vinha esperando.Num instante, ele avançou com a faca erguida. Reagi sem hesitação, agarrando seu braço e torcendo-o para trás, enquanto minha lâmina pressionava sua garganta. Mas antes que pudesse dizer algo, ele cabeceou minha testa, desorientando-me. Tropecei para trás, batendo na mesa, e ele avançou novamente, olhos ferozes.
Desviei, girando para o lado e o empurrando contra a mesa ocupada por meus colegas. Eles saltaram em choque, enquanto o homem rugia de frustração. Ele veio para cima de mim outra vez, atacando com a lâmina. Mergulhei para o lado e desviei de seu golpe, fazendo-o colidir com uma mesa vazia, derrubando-a.
— Eu não sei quem você pensa que sou — falei em voz baixa, minha raiva crescente, sentindo os olhares dos meus colegas pesando sobre mim. — Mas você não me vencerá.
— Eu sei exatamente quem você é! — ele gritou. — E tenho que vencê-lo!
Peguei uma garrafa de vodka da mesa e a segurei pelo pescoço. O desespero nos olhos dele era palpável, mas isso não me impediu. Quando avançou novamente, estilhacei a garrafa contra sua cabeça. O impacto o fez cambalear, mas ele se recuperou, cortando o ar com a lâmina em direção ao meu abdômen.
Inclinei-me para trás, desviando do ataque, e então minha própria lâmina encontrou seu alvo. Tudo aconteceu em um instante. O som da lâmina penetrando a carne ecoou, e o homem sufocou um grito, caindo no chão, segurando o pescoço de onde escorria o sangue. O fluxo vermelho brilhava sob as luzes do bar, formando uma poça ao redor de seu corpo, agora imóvel.Fiquei ali, olhando para ele, sentindo a realidade se distorcer. Pela primeira vez em anos, não me sentia Matteo Romano, herdeiro da Blackwood. Me senti apenas Matt, o garoto que costumava ler com Caterina e lutava contra pesadelos. Por um momento, voltei a ser aquele garoto assustado.
Uma sensação de vertigem tomou conta de mim. Eu estava congelado, incapaz de me mover ou falar, enquanto o homem perecia aos meus pés. O bar inteiro estava em silêncio. Ninguém gritou, ninguém ligou para ajuda. Apenas me observavam, seus olhares avaliadores. Como se esperassem por algo.
Atordoado, me afastei e corri para o banheiro. Precisava tirar o sangue das minhas mãos. Matei alguém. O homem veio até mim… me atacou… e eu o matei. Talvez fosse esse o plano. Talvez meus colegas quisessem me desafiar, testando o que eu seria capaz de fazer.
Lavei o sangue das mãos freneticamente, tentando limpar as evidências, quando a porta se abriu. Virei-me para gritar que me deixassem em paz, mas congelei ao ver quem era.
Era Alessandro. E ele estava sorrindo.
— Muito bem, meu garoto — disse, se aproximando e colocando as mãos em meus ombros. — Você conseguiu.
— O quê? — perguntei, confuso, a voz quase um sussurro.
— Sua primeira morte — ele falou com orgulho.
O ódio e o asco explodiram dentro de mim, mas Alessandro continuou.
Explicou que tudo havia sido planejado. O homem tinha uma dívida com a Blackwood, e a promessa de quitá-la se conseguisse me matar. Meus colegas sabiam, e aquela era a razão pela qual ninguém reagiu. Era um teste. Um teste para provar se eu estava à altura de meu destino. Alessandro parecia satisfeito, eu tinha me tornado o homem que ele sempre desejou.
Segundo o código da Blackwood, eu havia provado meu valor. Era um soldado, pronto para matar e morrer pela irmandade. Eu deixara para trás o garoto assustado que chegou à Rússia seis anos antes.
Naquela noite, trilhei o primeiro passo do caminho que me levaria ao Falcão.
Após aquela noite no bar, as mentiras ao meu redor começaram a ruir como um castelo de cartas em pleno vendaval. Alessandro decidiu que eu estava pronto para conhecer a verdade sobre a morte da minha família, e essa verdade veio afiada, gelada como a lâmina de uma faca que corta na carne.
Minha família não foi apenas uma vítima do acaso; eles foram caçados, executados. A mando de um grupo rival, a máfia chinesa conhecida como Leyong Tyen — ou simplesmente LYN. Eles queriam Nova York, queriam infiltrar-se nos Estados Unidos. Precisavam de Enzo Romano, o capitão da Blackwood, fora de cena. Meu pai, com seu olhar de aço e postura inquebrável, jamais cederia. Para a LYN, a única saída era eliminá-lo, e a mim, no processo. Uma guerra silenciosa, um sangue disputado pelo controle das rotas invisíveis que atravessavam oceanos. Por isso, em uma fração de segundos, tornaram-me órfão, e deixaram a morte de minha família pairar como uma sombra gélida sobre meu futuro.
A fúria que tomou conta de mim foi visceral, um ódio que queimava como brasas, sufocante e desesperado. Eu senti algo se quebrar dentro de mim, um ponto de ruptura onde a esperança cedeu, e em seu lugar, nasceu algo mais sombrio. Pedi que Alessandro me desse os nomes, os rostos. Eu queria justiça. Não, queria que cada um deles soubesse que o fim havia chegado. Eu queria a vingança pelo sangue que corre em minhas veias, pela família que me foi arrancada.
Mas Alessandro me negou essa única coisa. Ele falou de paz. Disse que o tempo já havia resolvido a questão e um acordo fora selado: a Blackwood e a LYN haviam feito um pacto silencioso para coexistir. Para Alessandro, essa verdade parecia aceitável. Para mim, era veneno. Ele não queria guerra. Deixou claro que eu não deveria procurá-la. Mas eu sabia que nunca descansaria enquanto os assassinos da minha família respirassem.
Então, canalizei cada centelha de ódio, cada resquício de dor e vazio em algo que ninguém poderia tirar de mim. A vingança se tornou meu único impulso, minha razão, minha chama que queimava em silêncio. Dia após dia, entreguei meu corpo e minha mente ao treinamento, forjando uma arma daquilo que um dia fora apenas um garoto perdido. Meu propósito era simples, direto: destruir a LYN e aniquilar tudo que ela representava.