O choque em seus olhos era notório. Não tinha se recuperado da surpresa de ver aquele homem ali, e logo recebeu outra ainda mais forte.
O que tinha que fazer? Falar?
O que Vicent queria? Oferecer dinheiro para que ela fosse embora, como nas novelas com mães narcisistas? A ameaçar jogando toda sua família na rua da amargura até se mudarem para longe como nos livros de romance?
Voltou a respirar sem nem mesmo notar que havia prendido a respiração.
Encarar aquele homem parecia no momento um desafio grande. Sabia que ele não gostava de sua presença, mas seu olhar… O olhar de desejo que sentia vir dele promíscuo. Não parecia ser real ao mesmo tempo em que lhe dava curiosidade.
E novamente, iria morrer, ou ser fodida?
— Um café… Com você? – Gaguejou pelo menos duas vezes antes de seus pensamentos se formarem naquela pergunta engraçada. — Quer que eu tome café com você? Eu não posso sair do meu emprego no momento. Como bem sabe, não sou dona da livraria ou de uma empresa grande para passear pela cidade quando bem quero.
Ele riu abaixando os olhos para seu corpo… E subiu outra vez. Ela estreitou seu olhar, sem saber se começava a discutir ou a tirar a roupa.
NÃO.
— Você pode me acompanhar para um lugar onde possamos conversar melhor? - Reformulou sua pergunta e Clarisse desviou o olhar deixando suas coisas de lado, gostaria de ouvir sua proposta, certeza que ele mandaria terminar o relacionamento — Gostaria de fazer um pedido.
— Ah meu Deus - Ela virou outra vez para ele — Não quero dinheiro para deixar meu namorado.
— Se isso funcionasse, eu não estaria aqui pessoalmente. - Clarisse arregalou os olhos — Por favor, pode me acompanhar? - Ele foi cordial, muito educado até para sua pessoa. Evitou olhá-la de verdade ainda que estivesse lhe observando do lado de fora desde que chegou.
Ela parecia feliz dentro daquela livraria. Era seu lugar preferido? Gostava de livros tanto assim? E as aulas? Vinha porque era obrigada? Precisava ser tão estudiosa? Até isso era atraente, seu jeito simples de viver. Tinha que sair dali, as estantes eram do tamanho certo para erguê-la e fazê-la sua.
— Eu presumo que não tenho nada para falar com o senhor – disse de uma forma tão calma. Parecia realmente saber o que dizer e quando fazer isso.
— Eu prometi ao Ronny que falaria com você. Podemos conversar em um lugar melhor? – Insistiu em sair dali, fazer o pedido, dar um convite, tudo tinha que ser em lugar público.
O silêncio e o cômodo pequeno lhe davam pensamentos para outros caminhos. Seus desejos poderiam o trair.
— Ah ele sabe disso? Então tudo bem. Eu vou só tirar o avental.
Claro… agradar a garota parecia ser mesmo um desafio, no entanto, prometeu ao filho que faria isso. Deu alguns passos pelos corredores do lugar e não pode evitar sentir o cheiro dela.
Era doce e sagaz tudo combinava perfeitamente. Andou mais entre os corredores até vê-la novamente.
Era apenas um momento de tirar um avental ridículo, dobrar e colocar sobre o balcão, mas o caimento do cabelo pelos ombros do vestido de alcinha… o jeito como ela sorria ao jogar seus cabelos de um lado para o outro, até mesmo em passar suas mãos pelo corpo alisando o vestido bonito… Céus… Aquela garota era excitante, totalmente excitante.
Não.
Ele não podia ter esses pensamentos.
Quando acordou naquela manhã de outro sonho quente justamente com Clarisse, ele só conseguia pensar em como iria fazer com que ela aceitasse o convite para a festa, precisava de Ronny lá. Ele tinha que manter sua cabeça no lugar.
10 minutos depois Clarisse adentrou o carro de Vicent junto ao motorista. Assim que a porta fechou, ela pôde sentir o aroma vindo dele e não mentiria dizendo que não gostou.
Nunca pode pensar naquele homem do mal como uma pessoa legal. Só de estar no mesmo ambiente que ele, notava-se o descontentamento vindo de sua parte, lhe passava desconforto e a vontade de ir para qualquer lugar longe dele era grandiosa.
— O que é tão importante que não poderíamos ter conversado na livraria? – Ela quebrou o silêncio. Vicent a olhou de relance — Vai me mandar embora da vida de seu filho?
— Se eu pedisse isso, você iria?
— Por nenhum dinheiro no mundo, eu deixaria o Ronny. – Eles se encararam — Pode se adiantar se o assunto for esse.
Ela sabia que não era bem-vinda, que tinha ódio, que havia desprezo, mas porque não conseguia enxergar nada disso no olhar dele? Seus olhos claros e cinzas brilhavam em sua direção. Que tipo de ódio era aquele? Pois podia jurar que conhecia aquele mesmo desejo dos olhos de Ronny.
E de novo? Iria morrer ou ser fodida? Alguém por favor, explique a situação.
— Chegamos. – O motorista avisou fazendo com que ambos quebrassem aquele contato visual e saiu do carro para abrir a porta.
Primeiro para a dama que gostou do lugar escolhido. Já tinha vindo algumas vezes, afinal, como uma boa apreciadora de café, seria um erro não ter visitado todas da cidade.
Foi bem recebida pelos atendentes e colocada em uma mesa bonita e organizada. Sentou-se com toda sua elegância agradecendo ao garçom educado. Todos seus movimentos eram assistidos pelo homem mais velho.
O coração acelerado podia ser um problema, até mesmo suas mãos trêmulas lhe incomodavam. O que os pais não fazem por seus filhos?
Pois estava ali diante de seu maior desejo, na esperança dela acompanhar seu filho numa festa de família.