* Cafeteria *

— Agradeço por ter vindo. Sei que não nos damos muito bem. – Seu tom era baixo junto aos lábios que se moviam lentamente, aquilo era charmoso, ela não ia negar.

— Você não gosta de mim. E só vim, porque se o Ronny concordou então deve ser algo bom. Não que eu espere algo bom vindo de você. - Foi ousada, se ele não demonstrasse simpatia, ela faria o mesmo.

— Eu não sou um monstro como acha, só não concordo com esse namoro. - Ela revirou os olhos.

— É porque eu sou pobre? – Uma pergunta como aquela num lugar público, poderia ser motivo de ofensa, olhares feios dentre outras coisas. Sorte que as mesas eram afastadas e o garçom que se aproximava com o pedido feito pouco antes ainda estavam longe.

Os olhares estavam vidrados e talvez avançassem um no outro a qualquer momento, porém com vontades diferentes, enquanto um arranharia o rosto do homem, o outro agarraria os cabelos longos e a traria para mais perto.

Levantaria o vestido até poder ver tudo que havia escondido, a beijaria com força, sugaria sua pele, a teria para si em qualquer lugar, até mesmo o chão sujo da livraria, ou numa mesa recheada de café e doces. Ele não iria se importar, apenas iria tê-la.

— Está me escutando? – Ele despertou dos sonhos tornando a encarar a moça — Não sou boa para seu filho porque sou pobre?

— Não vim aqui para falar sobre isso. Mas para lhe fazer um convite, pessoalmente – Clarisse piscou algumas vezes, aquilo era sério? — Estarei oferecendo uma festa de Natal para meus sócios e nessa festa irei apresentar Ronny como meu herdeiro.

— Uau! – Sorriu orgulhosa. — Pode não parecer, mas o Ronny te respeita muito, ele te admira como o homem mais incrível do mundo… Isso vai deixá-lo tão feliz. Ele também fala que quer ser como você, só que de jeito legal para se admirar.

— E você… Me admira de algum jeito? – O sorriso que Clarisse dava se desmanchou sem saber da onde veio à pergunta, tão pouco como daria aquela resposta.

— E porque eu faria algo assim? Não somos parentes e eu com certeza não quero ser como uma pessoa como você. - Ele ergueu uma sobrancelha.

— Uma pessoa rica?

— Uma pessoa chata. Inconveniente, arrogante, e rabugento. Sério, você nem é tão velho assim, então…

Essa era a visão que ela tinha dele? Revirou os olhos também pegando uma das xicaras para tomar café.

— Enfim, só posso fazer essa apresentação se ele estiver presente, o que não vai acontecer se você não estiver. E só para deixar claro, fazer com que meus sócios saibam que tenho um herdeiro é muito importante para o mundo dos ricos… - Clarisse desviou o olhar quase querendo ir embora. — Então vá a essa festa.

— De convite virou uma ordem? - Tornaram a se encarar e embora quisesse ficar séria, Se divertiu ao ver o rosto do homem endurecer em ódio. Riu, quebrando aquele clima péssimo. — A última festa a qual estive você ignorou minha presença e apresentou outras garotas para seu filho namorar como se eu não estivesse bem ali ao seu lado. Não quero passar por isso novamente.

— Prometo que isso não vai acontecer. Sequer vou chegar perto de você ou de outra garota para apresentar ao Ronny. - Ela assentiu — Se você o ama mesmo como diz, vá à festa, se não, nem precisa pisar mais na minha casa ou no quarto dele.

— Está duvidando do meu amor?

— Duvido sim. Você é bonita demais para amar o meu filho – Sem filtrar suas palavras, soltou o que seus pensamentos informavam como resposta. E na mesma hora, se arrependeu.

O olhar dela de surpresa, a xícara parada no ar. Ele tinha mesmo que chamá-la de bonita? Não era uma mentira, mas soou estranho.

Sem dizer nada, tirou do bolso de seu paletó um envelope vermelho com enfeites natalinos e o empurrou em sua direção.

— Gostaria que estivesse na festa. Sua presença será apreciada.

Ela desceu o olhar para o convite depois para ele.

Vicent levantou deixando a conta paga e foi embora, abandonando uma garota perplexa a e atordoada.

Os olhos arregalados de Clarisse assistiram atentamente quando o homem atravessou a porta e saiu sem nem mesmo olhar para trás.

Desviou para as notas em cima da mesa, os doces que pediu até sua mão que foi baixando aos poucos até chegar à mesa.

Porque ele iria elogiá-la? Seria um truque ruim para que fosse a festa depois do convite? Porque embora fosse importante para Ronny, não seria o lugar que gostaria de estar na noite de Natal.

Também não terminou de comer ou tomar seu café.

Pescou o convite na mesa e saiu pegando o primeiro táxi que lhe apareceu. Sua mente confusa a levou até a casa de sua melhor amiga a poucos metros da sua.

Tocou a campainha insistentemente até finalmente a porta ser aberta revelando a garota do lado de dentro. A expressão de ódio é felicidade ao mesmo tempo, Clarisse entrou mesmo assim.

— Sei que somos amigas, mas me interromper no meio do meu sono de beleza é complicado. – Praguejou fechando a porta.

— O pai do Ronny - A garota se interessou deixando tudo ao seu redor para atender sua amiga.

— Se ele te chamou de alguma coisa feia dessa vez, me conte, eu mesma foi enfrentar aquele rabugento desgraçado, ele pensa que é quem?

— Ah, não, dessa vez ele não me xingou… Na verdade ele me convidou para a festa de Natal - Ergueu o convite…

— AH MEU DEUS.

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