DanteVi Olivia descer do palco radiante, com o diploma nas mãos e aquele sorriso pequeno — o sorriso dela, reservado e iluminado ao mesmo tempo.Segurando Leo agora no bebê-conforto, não pensei duas vezes. Caminhei até ela e a puxei para um beijo, sem me importar com quem estivesse olhando. Não era mais hora de esconder o que a gente tinha.Era nosso. Só nosso.Senti ela sorrir contra minha boca e sorri também.Estava tudo bem. Ia ficar tudo bem.Até eu ouvir aquela voz.— Que bonito.Me virei devagar, ainda segurando Olivia pela cintura.Ester.A bengala na mão direita, o corpo ainda frágil da recuperação, mas o olhar… O olhar era o mesmo. Aquele brilho gelado, arrogante, venenoso.Leo resmungou baixinho dentro do bebê-conforto. Como se sentisse a tensão.Olivia endureceu ao meu lado. Eu apenas soltei um longo suspiro interno e me virei por completo, ficando entre as duas.— O que você tá fazendo aqui, Ester? — perguntei, a voz baixa, mas firme.Ela deu um sorriso cínico.— Achei qu
OliviaA vida estava começando a encontrar seu próprio ritmo de novo. Depois de choros intermináveis, sensações eufóricas de recomeços e um medo avassalador... tudo parecia estar se encaminhando para o normal.Depois da formatura, aquele susto com Ester aparecendo mesmo debilitada e os primeiros passos após deixar a Glass para trás, Dante e eu finalmente pudemos respirar um pouco longe de toda essa bolha caótica. Ou pelo menos foi o que tentamos acreditar para não enlouquecer sem conseguir prever qual seria o próximo passo do jogo que chamamos de vida.Fiz algumas entrevistas de emprego. Empresas grandes, outras menores. E depois da indicação do namorado de Zayn - é, estava sério assim - eu visitei o colégio onde ele trabalha como contador. É uma escola particular, nada gigantesco ou cheio de gamour como o estágio na Glass, mas de alguma forma, me cativou. Era um prédio bonito, crianças correndo pelos correndo pelos corredores, professores exaustos e sorridentes enquanto os menores os
DanteAs últimas semanas tinham sido mais tranquilas do que eu esperava — e, ao mesmo tempo, cheias de pequenas rachaduras que eu fingia não ver. A calmaria, pra mim, sempre foi um aviso. Como se o mundo estivesse respirando me preparando antes de mergulhar outra vez no caos.Ester tinha insistido em voltar à rotina mesmo sem estar completamente recuperada. Primeiro, tentou convencer o Conselho de que estava pronta pra retomar o cargo na Glass. Queria aparecer nos eventos, fazer reuniões com sócios, soltar notas à imprensa. Mas não colava mais.A verdade é que nem a empresa a queria por perto. A diretoria já não disfarçava o incômodo com a forma como ela tratava os funcionários. As reclamações eram frequentes. Falta de empatia, comentários agressivos, decisões impulsivas. A imagem pública dela estava se deteriorando — e isso, pra alguém como Ester, era o pior tipo de castigo.Eu já tinha tomado minha decisão. Entrei na galeria de arte do Eduardo com os dois pés, sem medo algum de dar
DanteMeu dedo apertava o botão de chamada de novo, e de novo. Nada.O celular da Ester só ia pra caixa postal. Eu tentei o número da babá, o telefone fixo do antigo apartamento, até o porteiro. Tudo sem resposta.O apartamento estava vazio.Sem sinal de ninguém. Sem vestígios do bebê. Sem Leo.Senti a mão suar enquanto saía do prédio, o estômago embrulhado em um aperto que fazia parecer que a última refeição tinha sido há dias. Na verdade, eu nem me lembrava se tinha comido alguma coisa naquele dia.Entrei no carro e fechei a porta com mais força do que pretendia.Disquei o número da Olivia, mesmo sem saber o que ia dizer. Quando ela atendeu, meu coração pulou no peito, como se uma parte de mim estivesse esperando que ela dissesse que estava tudo bem — que o Leo tinha sido deixado por ali, que estava comigo o tempo todo e que isso era só um mal-entendido.Mas não era.— Liv...— Dante? O que aconteceu? Você tá com uma voz estranha.— Ela não tá lá — minha voz saiu engasgada. — Eu fui
Olivia FernandesA primeira coisa que me disseram sobre o que aconteceu com Ester foi que ela sobreviveu.A segunda, que ela escolheu ir embora.Dante não entrou em detalhes. Só disse que, depois que a equipe de resgate conseguiu tirá-la da ponte, ela ficou em observação alguns dias e, no primeiro momento de lucidez, assinou os documentos cedendo a guarda total do Leo e recusou qualquer tipo de contato.Ela não queria ajuda. Não queria acompanhamento, nem tratamento. Apenas silêncio. Um desaparecimento. Um adeus, não dito, mas definitivo.Dante, claro, ofereceu o que pôde. Conversou com os médicos, com os advogados, fez o que era certo mesmo sem saber se aquilo ainda adiantava. Mas, no fim, Ester só queria desaparecer.E foi o que ela fez.Por alguns dias, me perguntei se era cruel demais pensar com alívio ao imaginar que ela tinha ido embora. Depois disso, a vida não mudou de repente, mas aos poucos, como um animal assustado que começa a sair do esconderijo, se acostumando com o toq
Dante SalvatoreA galeria estava vazia, o silêncio cortado apenas pelo som baixo de um soul antigo tocando nos alto-falantes discretos espalhados pela cobertura. O terraço parecia uma cena tirada de um filme: luzes amarelas penduradas por fios quase invisíveis cruzavam o teto sob a lona translúcida. O ar quente da noite de verão deixava tudo com um peso gostoso, quase íntimo.Foi aqui que eu quis trazer ela. Pra lembrar o que é estar só nós dois. Sem Leo no colo. Sem planos pra amanhã. Só pele. Só desejo.Quando ouvi o som leve dos passos dela subindo, me virei com um sorriso. E quase perdi o fôlego.— Tá tudo muito bonito aqui — ela disse, surgindo na porta com aquele sorriso meio desconfiado, meio encantado. Estava usando um vestido leve, o cabelo preso no alto com algumas mechas soltas que emolduravam o rosto.— Eu queria impressionar — brinquei, indo até ela e pegando sua mão. — E me redimir um pouco por ter te roubado de Leo por uma noite inteira.— Falando nisso… — ela me olhou
DedicatóriaQuando comecei a escrever essa história, eu era outra. Animada e cheia de expectativas, esqueci que a vida tem das suas pegadinhas. Tive momentos difíceis, onde achei que não fosse superar e que me fizeram ficar meses sem atualizar, e por isso, peço desculpa mais uma vez aos leitores pela ausência. Mas, no entanto, como os personagens, fui lembrada diariamente de que a vida não é perfeita, mas tem seus momentos que fazem valer a pena. Não é fácil, mas não precisa ser fácil pra ser bonito quando precisa ser. Escrevi essa história para alguns que podem achar que é tarde demais, para mostrar que amor de mãe nasce no peito também, e que nunca podemos pensar que não há mais chance de viver o que merecemos. Espero que essa história tenha te levado algo bom, e agradeço por ter amado Olivia e Dante tanto quanto eu. Com carinho, Lia Oliver.____________________________________________Olivia FernandesEu sempre achei que o casamento fosse aquele momento do filme em que tudo se
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor