Era quase 9:40 quando Leilane, a colega de trabalho de Marina, estacionou seu Renault Clio na frente da casa, e Marina pulou no carro. Assim que chegou ao trabalho, Marina se lançou de cabeça em suas tarefas. Organizou os condimentos, varreu a areia das escadas e atendeu os clientes que apareciam para o almoço. Seu turno estava cheio, como esperado em uma sexta-feira. Quando terminou, ela viu sua chefe, Angélica, se aproximando.
Marina já sabia o que sua chefe costumava fazer nesses momentos. Sempre que seu turno terminava e Angélica se aproximava, era para pedir que Marina estendesse seu horário e cobrisse a tarde também.
— Marina, pode vir aqui um minutinho? — Angélica chamou.
Marina acompanhou sua chefe até uma sala nos fundos, onde ela administrava o quiosque. Angélica indicou uma cadeira para Marina.
— Então, Marina...
— Você não precisa me chamar até aqui para cobrir a tarde. Eu faria isso de qualquer maneira se puder estudar um pouco para minha prova de hoje à noite. — Marina interrompeu a chefe, tentando evitar a tradicional extensão de turno.
— Não é sobre isso. — Angélica respondeu, pegando Marina de surpresa.
Marina suspeitou do que se tratava.
— É pelos camarões? Eu juro que não fui eu, eu nem como camarão, sou alérgica. — Marina mentiu.
— Não, não é por isso...
— Ah, que bom. Por que foi eu, e eu não sou alérgica. Mas aqueles salmões não fui eu, não quero acusar ninguém, mas eu ouvi uma das meninas da tarde falar que comeu salmão a semana inteira.
Angélica assente.
— Marina, deixe-me falar. Não é por isso. Infelizmente, não posso mantê-la mais aqui. Precisarei dispensá-la.
Marina sentiu a boca secar. Essa situação já havia acontecido várias vezes antes, mas ela nunca conseguia se acostumar.
— É porque eu menti? O salmão também foi eu, mas estava estragando e eu dividi com as outras meninas...
Angélica para Marina.
— Eu vou te interromper antes que eu descubra que preciso chamar a policia, tá bem? Não é você, apenas cortes de orçamento. Alguém tinha que ir, e infelizmente foi você.
Marina assente. Ela já ouviu essa antes. Cortes de orçamento uma ova, é por causa do camarão sim, pensou ela.
— Vou pegar minhas coisas e já saio. — Marina disse, aceitando sua demissão com resignação.
Angélica estendeu a mão.
— Se precisar de ajuda ou uma recomendação, pode me ligar.
Marina se levantou, aliviada por deixar aquele lugar, mesmo que isso significasse perder o emprego.
— Você não vai mencionar o que aconteceu com a comida, né? Lembra daquela vez em que os clientes passaram mal? Eu fiz um favor levando toda aquela comida que estava prestes a estragar.
Angélica arqueou uma sobrancelha.
— Aquilo aconteceu logo quando você começou aqui... há quanto tempo você estava fazendo isso?
Marina percebeu que era hora de sair dali, então murmurou algumas desculpas, pegou suas coisas e partiu. No caminho, Marina se aproximou de Leilane, sua agora, apenas vizinha, com uma ideia.
— Leilane, você poderia cuidar da Demi e regar minhas plantas por uma semana? — Marina perguntou.
— Claro! Mas o que aconteceu? — Leilane perguntou.
— Fui demitida, então vou passar a semana no resort do casamento que te falei. — Marina respondeu.
Marina, então, fez o que fazia de melhor: se virar. Em uma tarde frenética, Marina revisou todo o conteúdo de Direito Processual Civil da última prova, fez as malas, tendo que lavar e secar rapidamente diversas peças de roupas que ela sabia que não poderia deixar para trás nessa semana, ligou para Isa, avisando que vai passar a semana no resort, o que causou uma discussão por ser um aviso de última hora, fez uma faxina relâmpago para não voltar a um apartamento sujo na próxima semana. No começo da noite, Marina já estava pronta, confiante de que fez uma prova decente, e em alguns dias saberia se teria ido bem ou não.
Mas a verdade é que Marina não estava ligando muito para a nota que ela iria tirar. Seus pensamentos estavam todos voltados para o casamento do fim de semana, o maior evento que a família de Marina já viu. Ninguém imaginava que Isa iria ficar noiva de um multimilionário que conheceu durante uma viagem que ganhou de sua família, no lugar da formatura da faculdade. Então, de repente, toda a família considerada por más línguas como "chucra", estava indo passar a semana no resort mais luxuoso do estado. E Marina se sentia mais preparada para a prova na qual ela estudou por apenas algumas horas, do que para essa semana.
Foi pensando nisso que Marina dormiu na noite de sexta-feira. Nisso e em mais uma coisinha que grudou em sua mente como chiclete.