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07. A Bailarina na janela

Sofia respirou fundo. Estava nervosa . 

Abaixo da janela, o muro parecia distante, e o chão, uma promessa de queda. Mas ficar ali... seria uma queda digna de cena de filme de ficção, ou seja ,  muito pior.

Acabou tendo uma ideia : usar os lençóis da cama . Amarrou os lençóis, prendendo as pontas com alguns nós.

Cada nó era um pedaço de esperança de que tudo daria certo , e ela conseguiria fugir. 

Cada respiração, uma prece silenciosa. Sofia não conseguia disfarçar a ansiedade . Ficou com medo até de vomitar todo o jantar . A única coisa boa que teve durante o dia todo .

Segurou firme o lençol e passou as pernas pela janela. A chuva já tinha parado mas o ar estava frio . O frio cortou seus braços, o vento bagunçou seu cabelo.

Por um instante, ela olhou para cima - para o quarto iluminado - e viu o reflexo de si mesma no vidro: pálida, assustada, mas decidida.

O primeiro passo foi fácil. O segundo, uma tortura. Quase escorregou . O terceiro… um estalo, um pequeno barulho.

O tecido se rasgou um pouco e ela soltou um pequeno grito abafado.

Mas não havia tempo nem para pequenos gritos.

Sofia desceu mais um pouco, sentindo o ar pesado da noite e o cheiro distante de gasolina - os carros dos seguranças, talvez.

O chão estava a poucos metros quando uma luz forte cortou a escuridão.

- Pare aí! - uma voz masculina ecoou do jardim.

Sofia congelou.

Olhou para o lado. Um dos seguranças apontava uma lanterna diretamente em seu rosto.

O medo tomou conta dela.

Ela tentou se soltar, pular, correr - mas mãos fortes a agarraram pela cintura, puxando-a de volta com violência.

O grito que escapou de sua garganta foi engolido pelo silêncio da noite.

O lençol se soltou, rasgando-se por completo, e ela caiu nos braços do homem como uma presa frágil.

O segurança a segurou firme, imobilizando-a enquanto ela se debatia, desesperada.

- Me solta ! Não toque em mim! - ela gritou, a voz embargada. - Por favor!

- Quietinha, princesa... o Chefe vai querer falar com você. Fique calma! 

Minutos depois, a porta do quarto se abriu com força. Matteo entrou, o olhar escuro como a noite lá fora.

Atrás dele, Morandi observava em silêncio, braços cruzados, a expressão fria de quem já sabia que nada daquilo iria dar certo.

Sofia estava sentada na beira da cama novamente, os pulsos marcados pela força com que fora segurada.

O segurança que a capturara se mantinha próximo à porta, imóvel, como uma sombra.

Matteo caminhou até ela devagar, os passos lentos, pesados.

O silêncio era sufocante. Aquele olhar penetrante , aquela pose de autoridade  que poderia impor medo em qualquer pessoa que estivesse no lugar de Sofia.

- Você achou mesmo que podia fugir de mim? - ele perguntou, a voz baixa, rouca. Olhando nos olhos de Sofia.

Sofia ergueu o olhar, os olhos marejados de raiva e medo.
- Eu não sou sua prisioneira! Não pode me prender aqui ! 

Matteo inclinou a cabeça, um meio sorriso surgindo nos lábios.
- Não? - ele se aproximou mais um passo, até que ela pôde sentir o perfume amadeirado que sempre o acompanhava. - Então por que tentou escapar pela janela como uma ladra?

Ela hesitou.

As palavras estavam presas na garganta.

- Porque eu quero minha vida de volta. - sua voz saiu firme, mesmo tremendo.

Matteo soltou um riso breve, sem humor.

- Sua vida está nas minhas mãos, Sofia. E da próxima vez que você tentar fugir... - ele fez uma pausa, olhando-a nos olhos - não vou ser tão gentil como estou sendo agora , na verdade estou sendo um cavalheiro ainda! 

Morandi se aproximou, tocando o ombro do chefe.
- As câmeras mostraram tudo. Cada movimento. Tudo fica gravado.

Sofia piscou, confusa.
- Câmeras? Têm câmeras aqui?

Matteo voltou a olhá-la.

- Acha mesmo que há um canto nesta casa que eu não vejo? Nada escapa dos meus olhos! 

O peso daquelas palavras caiu sobre ela como um golpe.

Cada passo, cada respiração, cada lágrima -  tudo estava sob o olhar dele. Um verdadeiro Big Brother.

Matteo se inclinou, a voz quase num sussurro junto ao ouvido dela:

- Não tente de novo, bailarina. Não brinque com fogo.

- Na primeira oportunidade que eu tiver eu te entrego para a polícia seu desgraçado! - Sofia gritou.

- Isso se você tiver uma oportunidade. Agora vá dormir! Boa noite! 

Então ele se afastou, deixando-a ali  sozinha, com o coração acelerado e o gosto amargo da própria derrota.

Do lado de fora, o vento ainda batia contra a janela.

Sofia correu para o banheiro , abriu a torneira da pia , começou a lavar o rosto. E ao mesmo tempo, chorando sem parar . 

Olhava para o espelho , com muita raiva . Sofia estava indignada . Pois agora tinha a certeza de que  a liberdade, mais uma vez, escapou  por entre seus dedos.

Andando pelo corredor , Matteo foi logo dando ordens : 

- Morandi, não se esqueça que amanhã temos que sair logo cedo . Lembra que temos uma cobrança para fazer?

- Sim, Chefe.  Amanhã , o dia promete . Tenha uma boa noite . 

- Pra você também. 

Em seu quarto  , Sofia não teve outra saída a não ser deitar e tentar dormir.  Tinha que se acalmar . E começar a  tomar decisões movidas pela razão e não pelo coração . 

- É melhor eu dormir . Amanhã é outro dia  . Tenho que tomar cuidado para não acabar enlouquecendo. 

E mais uma noite passou . A madrugada passou . E mais um dia amanheceu. Um novo dia começa , e com ele as emoções.

A manhã amanheceu fria, envolta por uma névoa densa que cobria as ruas  como um véu de silêncio.

Na garagem da mansão DeLuca, o ronco grave do Maserati preto quebrou o sossego.

Matteo estava ao volante, terno escuro impecável, os olhos escondidos atrás de óculos escuros. Ao lado dele, Morandi ajustava a arma no coldre, sempre meticuloso, sempre calado.

- Ele sabe o que o espera, - Matteo murmurou, acendendo um cigarro.

A fumaça subiu devagar, se misturando ao ar frio.

- Mas vai querer bancar o esperto mesmo assim.

Morandi respondeu com um leve sorriso de canto.

- Acha que vai tentar nos enrolar?

- Você sabe que sempre tentam. - Matteo deu a primeira tragada e soltou o cigarro pela janela. - E você também sabe que ninguém fica devendo pra mim, Morandi. Ninguém.

O carro avançou pela estrada, quilômetros depois , pelas  ruas estreitas  até parar diante de um pequeno armazém. A fachada era velha, com uma placa descascada e um cheiro forte de álcool derramado.

Lá dentro, o homem que deviam encontrar - Tony Russo, dono de uma distribuidora de bebidas - fingia estar ocupado empilhando algumas caixas.

Mas o suor em sua testa denunciava o nervosismo.

Dois funcionários pararam o que faziam quando viram Matteo e Morandi entrarem. O silêncio caiu sobre o galpão como uma sombra.

Matteo caminhou devagar, o som dos sapatos ecoando no chão de concreto.
- Tony,  - Sua voz cortou o ar. - Quanto tempo, hein?

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