Mundo de ficçãoIniciar sessãoSofia respirou fundo. Estava nervosa .
Abaixo da janela, o muro parecia distante, e o chão, uma promessa de queda. Mas ficar ali... seria uma queda digna de cena de filme de ficção, ou seja , muito pior.
Acabou tendo uma ideia : usar os lençóis da cama . Amarrou os lençóis, prendendo as pontas com alguns nós.
Segurou firme o lençol e passou as pernas pela janela. A chuva já tinha parado mas o ar estava frio . O frio cortou seus braços, o vento bagunçou seu cabelo.
O primeiro passo foi fácil. O segundo, uma tortura. Quase escorregou . O terceiro… um estalo, um pequeno barulho.
Mas não havia tempo nem para pequenos gritos.
- Pare aí! - uma voz masculina ecoou do jardim.
Sofia congelou.
O medo tomou conta dela.
O lençol se soltou, rasgando-se por completo, e ela caiu nos braços do homem como uma presa frágil.
- Me solta ! Não toque em mim! - ela gritou, a voz embargada. - Por favor!
- Quietinha, princesa... o Chefe vai querer falar com você. Fique calma!
Minutos depois, a porta do quarto se abriu com força. Matteo entrou, o olhar escuro como a noite lá fora.
Sofia estava sentada na beira da cama novamente, os pulsos marcados pela força com que fora segurada.
Matteo caminhou até ela devagar, os passos lentos, pesados.
- Você achou mesmo que podia fugir de mim? - ele perguntou, a voz baixa, rouca. Olhando nos olhos de Sofia.
Sofia ergueu o olhar, os olhos marejados de raiva e medo.
- Eu não sou sua prisioneira! Não pode me prender aqui !
Matteo inclinou a cabeça, um meio sorriso surgindo nos lábios.
- Não? - ele se aproximou mais um passo, até que ela pôde sentir o perfume amadeirado que sempre o acompanhava. - Então por que tentou escapar pela janela como uma ladra?
Ela hesitou.
- Porque eu quero minha vida de volta. - sua voz saiu firme, mesmo tremendo.
Matteo soltou um riso breve, sem humor.
- Sua vida está nas minhas mãos, Sofia. E da próxima vez que você tentar fugir... - ele fez uma pausa, olhando-a nos olhos - não vou ser tão gentil como estou sendo agora , na verdade estou sendo um cavalheiro ainda!
Morandi se aproximou, tocando o ombro do chefe.
- As câmeras mostraram tudo. Cada movimento. Tudo fica gravado.
Sofia piscou, confusa.
- Câmeras? Têm câmeras aqui?
Matteo voltou a olhá-la.
O peso daquelas palavras caiu sobre ela como um golpe.
Matteo se inclinou, a voz quase num sussurro junto ao ouvido dela:
- Não tente de novo, bailarina. Não brinque com fogo.
- Na primeira oportunidade que eu tiver eu te entrego para a polícia seu desgraçado! - Sofia gritou.
- Isso se você tiver uma oportunidade. Agora vá dormir! Boa noite!
Então ele se afastou, deixando-a ali sozinha, com o coração acelerado e o gosto amargo da própria derrota.
Olhava para o espelho , com muita raiva . Sofia estava indignada . Pois agora tinha a certeza de que a liberdade, mais uma vez, escapou por entre seus dedos.
Andando pelo corredor , Matteo foi logo dando ordens :
- Morandi, não se esqueça que amanhã temos que sair logo cedo . Lembra que temos uma cobrança para fazer?
- Sim, Chefe. Amanhã , o dia promete . Tenha uma boa noite .
- Pra você também.
Em seu quarto , Sofia não teve outra saída a não ser deitar e tentar dormir. Tinha que se acalmar . E começar a tomar decisões movidas pela razão e não pelo coração .
- É melhor eu dormir . Amanhã é outro dia . Tenho que tomar cuidado para não acabar enlouquecendo.
E mais uma noite passou . A madrugada passou . E mais um dia amanheceu. Um novo dia começa , e com ele as emoções.
A manhã amanheceu fria, envolta por uma névoa densa que cobria as ruas como um véu de silêncio.
- Ele sabe o que o espera, - Matteo murmurou, acendendo um cigarro.
A fumaça subiu devagar, se misturando ao ar frio.
- Mas vai querer bancar o esperto mesmo assim.
Morandi respondeu com um leve sorriso de canto.
- Acha que vai tentar nos enrolar?
- Você sabe que sempre tentam. - Matteo deu a primeira tragada e soltou o cigarro pela janela. - E você também sabe que ninguém fica devendo pra mim, Morandi. Ninguém.
O carro avançou pela estrada, quilômetros depois , pelas ruas estreitas até parar diante de um pequeno armazém. A fachada era velha, com uma placa descascada e um cheiro forte de álcool derramado.
Lá dentro, o homem que deviam encontrar - Tony Russo, dono de uma distribuidora de bebidas - fingia estar ocupado empilhando algumas caixas.
Mas o suor em sua testa denunciava o nervosismo.
Matteo caminhou devagar, o som dos sapatos ecoando no chão de concreto.
- Tony, - Sua voz cortou o ar. - Quanto tempo, hein?







