Mundo de ficçãoIniciar sessãoO carro deslizava pelas ruas estreitas, cortando o amanhecer. Sofia estava desacordada, deitada no colo de Matteo .
Matteo por sua vez estava em silêncio, seu semblante como sempre , muito sério. Olhava para a estrada , e olhava para Sofia . A presença dela preenchia o espaço. Era motivo de preocupação . Pela primeira vez , Matteo estava preocupado . Até Morandi percebeu .
- Nunca vi o Senhor tão preocupado , Chefe.
- Deve ser porque você nunca me viu passar por isso . Eu fico me perguntando o que Frederico Lupiani faria numa situação dessa .
- Talvez ele já teria eliminado . O Senhor entende o que eu quero dizer né?
- Claro que eu entendi . Você nunca me viu errar ao fazer escolhas , Morandi . Espero que eu não tenha errado dessa vez .
- O Senhor sabe que pode contar comigo , Chefe . Estamos chegando num posto de gasolina . Acho melhor abastecer . A gasolina já está na reserva.
- Faça o que tem que fazer .
Chegaram no posto de gasolina . Morandi estacionou perto da bomba de gasolina .
- Complete o tanque por favor . - Morandi entregou a chave para o frentista abastecer o carro.
Enquanto isso , sem que ninguém percebesse , Sofia foi acordando aos poucos . Abrindo os olhos lentamente.
- Chefe , a loja de conveniência daqui tem um café que é uma delícia . Vai querer alguma coisa ? Está com fome?
- Quando você fala isso , é porque você é que está com fome , Morandi. Pode ir , sem problema.
- Obrigado , Chefe. Eu não demoro .
Neste momento , o frentista se aproximou do carro , devolveu a chave . Morandi pagou em dinheiro . Ligou o carro , e estacionou o carro mais próximo da loja de conveniência . Desceu do carro e entrou na loja .
Sofia começou a se mexer , e esfregou os olhos .
- A bailarina acordou . Teve bons sonhos ?
Sofia se levantou abruptamente . Olhou assustada pelo vidro do carro .
- Que lugar é esse? Onde eu estou? SOCORRO!!!! ESTOU SENDO SEQUESTRADA!!!!
Matteo tapou a boca de Sofia com sua mão.
- Shshshsh .... fica quietinha... quer dormir de novo? Não teste a minha paciência , bailarina . Eu não tenho muito.
Sofia congelou , começou a se dar conta que não ia conseguir nem sair daquele carro . Começou a chorar , mas sem fazer barulho .
- Posso soltar agora? Promete que vai se comportar direitinho?
Sofia balançou a cabeça dizendo que sim . Matteo soltou . Sofia respirou fundo . Mas nada disse . Mais uma vez se sentiu em estado de bloqueio.
Morandi chegou .
- Chefe, eu acabei trazendo café e um lanchinho para o Senhor também . Ué... a bailarina acordou ?
Sofia nem respondeu nada .
- Rápido , Morandi . Estou com pressa. Vou comer em casa . A não ser que a bailarina esteja com fome . Quer comer alguma coisa? - Perguntou Matteo olhando fixamente para Sofia .
- Nem pensar ! E se essa comida estiver envenenada ? Eu não confio em vocês!
- Se essa comida estiver envenanada , então eu vou morrer aqui na frente de vocês . - Respondeu Morandi quase dando gargalhada .
Morandi entrou no carro , e a viagem continuou . No banco da frente, Morandi as vezes desviava o olhar para o retrovisor, observando Matteo discretamente. Havia algo naquele olhar que ele nunca tinha visto antes. Algo quase… humano.
A mansão DeLuca ficava afastada da cidade, cercada por ciprestes, arbustos , árvores , vegetação e silêncio. Quando o portão de ferro se abriu, Sofia sentiu um arrepio percorrer a espinha. Nunca na vida ela tinha visto uma casa tão grande.
O carro parou diante da entrada principal.
Ela hesitou, mas acabou aceitando.
- Bem-vinda ao inferno, bailarina. - murmurou, enquanto a guiava para dentro.
O interior da mansão era luxuoso, mas frio. Mármore, vidro, silêncio. Cada detalhe gritava poder , controle e solidão. Muito brilho , muita limpeza , muita organização.
- Você vive aqui sozinho? - perguntou Sofia.
Matteo respondeu sem emoção:
Ela o fitou por um longo momento.
Morandi se aproximou.
Matteo respirou fundo.
Sofia ergueu o queixo, desafiadora.
Matteo se virou, a expressão impassível.
Ela riu, amarga.
Ele se aproximou, parando a poucos centímetros dela. Os olhos se encontraram, e o mundo pareceu se calar.
E então se afastou, deixando o ar mais leve , e o coração dela, aos pulos. Por dentro , Sofia não conseguia se acalmar.
Lá fora, a chuva recomeçou a cair. Do alto da janela de seu quarto, Sofia observava o jardim escuro da mansão.
Abriu a mochila . Pegou camiseta, calcinha, uma calça jeans , sutiã . Decidiu tomar um banho .
Ao entrar no banheiro , ficou impressionada com tanto luxo . Olhou para aquela banheira linda, branca , brilhante. Nunca tinha visto nada igual . Só pela TV . Encheu a banheira , entrou e pela primeira vez , Sofia conseguiu relaxar , respirar . Ela precisava daquele silêncio, um pouco de tranquilidade.
Enquanto isso, no andar de baixo, Matteo observava o copo de uísque sobre a mesa, o olhar distante.
- Matteo… o que ela significa pra você?
O Mafioso ficou em silêncio por um longo tempo.
- Nada. Ainda.
Mas o brilho em seus olhos dizia o contrário.
- Mande levar o jantar para ela . A coitada deve estar com fome .
- Sim, Chefe . Vou pedir para a Clarissa . Posso fazer mais um pergunta ?
- Pode fazer , Morandi.
- Por quanto tempo ela vai ficar aqui?
- Ainda não sei , Morandi . Pela primeira vez em anos na minha vida , eu não tenho plano nenhum . Eu não planejei absolutamente nada . O que eu posso dizer é que fiquei desesperado naquele momento ... ela viu tudo ..... eu não estou me reconhecendo .... eu não costumo errar .
- Eu também não estou reconhecendo o Senhor . - disse Morandi antes de ser retirar .







