Clarisse, uma enfermeira dedicada, acaba de se mudar para um novo apartamento em busca de recomeço após um relacionamento fracassado. Seu vizinho, Miguel, é um policial militar que também está lidando com um coração partido e a pressão de sua profissão. Desde o primeiro encontro, a convivência entre eles é marcada por desentendimentos e brigas divertidas, já que suas personalidades fortes colidem constantemente. À medida que o tempo passa, a tensão entre os dois se transforma em um jogo de provocações, mas ambos não conseguem ignorar a química subjacente que se forma. A situação muda radicalmente quando, por coincidência, eles se encontram em uma viagem. Durante essa experiência compartilhada, Clarisse e Miguel começam a ver um lado diferente um do outro, e os sentimentos ocultos começam a emergir. O que começou como uma relação conturbada pode se transformar em algo mais profundo, enquanto eles aprendem a lidar com suas feridas emocionais e a abrir seus corações novamente.
Leer másEra a primeira vez em anos que eu dava um sorriso sincero. É estranho pensar que, por tanto tempo, eu não me permiti essa alegria. Lembro-me das brigas com minha mãe, sempre me cobrando por estar tão distante, tão fechada. Meu sorriso havia se tornado uma máscara, uma obrigação. Sinceramente, eu não me via motivada a sorrir. Um sorriso alegre, afinal, depende de um motivo alegre, não é mesmo? Mas hoje, eu tinha um motivo.
Dois anos atrás, assinei a escritura do meu apartamento e, finalmente, estava aqui, dentro dele, exatamente como sempre sonhei. No entanto, havia um buraco no meu coração, e ele parecia se abrir ainda mais quando olhava para a porta e via aquele porta-chaves que dizia: “E viveram felizes para sempre”. Eu deveria me livrar daquilo, eu sei. Mas gostava de tê-lo ali, era a última lembrança de um tempo bom, de uma época em que eu era feliz e sorria sem pensar que estava sendo obrigada a isso por educação. Lembro-me de como eu não era hostil nem antipática, apenas eu mesma.
Balancei a cabeça, tentando me livrar da frustração que me corroía a cada dia. Sabia que um dia teria que superar toda aquela dor; era fácil pensar assim, mas colocar isso em prática era outra história. Olhei para o meu aparelho de som. Poderia ativar a Alexa, mas havia dias em que nem mesmo a minha própria voz me agradava. Então, decidi ligar a playlist de rock pelo celular, e a voz do Axl Rose ecoou pelo apartamento.
Foi nesse momento que finalmente sorri de verdade. Meus olhos se fixaram na janela da sala, onde o pôr do sol se escondia atrás de uma colina próxima. As cores laranja e amarelo pintavam o céu de uma forma deslumbrante. Nunca foram minhas preferidas, já que eu ficava péssima usando roupas nessas cores, mas no céu, era simplesmente lindo! Com a música ao fundo, tudo parecia perfeito.
Respirei fundo, segurando a caneca de café com meus dedos longos, permitindo-me sentir o aroma do café. Finalmente, era só eu e a minha casa. Era uma mistura de tristeza e consolo, pois nos últimos anos, minha companhia havia sido detestável. Claro, minha família era educada o suficiente para não dizer isso na minha cara, mas eu sabia que, ao ficar em silêncio nos encontros familiares, estava fazendo um favor a todos. Eles me amavam, mas eu havia me tornado alguém difícil de lidar.
“Lar doce lar”, pensei, aumentando um pouco o volume da música. Sabia que não havia vizinhos por perto; o porteiro havia me dito que, por enquanto, eu era a única no bloco. Queria aproveitar essa pequena liberdade que finalmente conquistara.
— Miguel Galvão — repeti para o porteiro, tentando manter a paciência.
— Ah, o senhor está no bloco T, isso? — Ele parecia estar testando minha sanidade. Forcei um sorriso e assenti. Não era possível que ele não tivesse escutado isso um minuto atrás. — O senhor sabe onde vai ser seu apartamento?
— Sim, senhor, eu sei onde fica o meu apartamento — respondi, controlando a irritação. “Calma, Miguel. Você vai ver esse homem todo dia”, me repreendi mentalmente.
— Tudo bem então, é só seguir por ali e... — ele começou a me explicar o caminho. Eu já tinha ido ali umas cinco vezes, e em todas elas, ele estava lá. Jesus, era confiável deixar a portaria nas mãos de alguém tão despistado? — Veja só que desastre, avisei a senhora... como era o nome dela? Eu lembro que começava com C...
Fechei os olhos, pedindo a Deus para me livrar daquela situação. — Eu avisei semana passada que já me mudaria. Inclusive, descarreguei um caminhão de mudança ontem aqui.
— Verdade — murmurou ele, como se tentasse lembrar da informação. “Deus me leve agora!”
— Tudo bem, seu Júlio. Ela vai perceber que tem alguém do lado dela. Qualquer coisa, faço questão de me apresentar. Estou com pressa, preciso ir — disse, sem dar chance para que o velho me questionasse novamente. Acelerei a moto em direção à minha vaga, mas quando cheguei, um carro preto estava estacionado ali. Que diabos!
— Ótimo, o senil deve ter dado a vaga errada para mim! — pensei, mas não iria voltar lá apenas para perguntar qual era minha vaga certa. Esperaria a troca de turno e perguntaria para o outro porteiro, que eu esperava que não fosse tão senil quanto ele. Deus não poderia ser tão cruel assim, certo? O outro era conhecido por ser formal e educado. Eu precisava de um descanso, trabalhar e se mudar ao mesmo tempo era horrível!
Desci da moto e não pude evitar um sorriso. Agora, finalmente, teria um canto só meu. Eu tinha 30 anos e já passava da hora de sair da casa da minha mãe. Viver com três mulheres não era nada agradável. Claro, tinha que dar crédito à minha irmã mais velha, Lisa, que se mudara aos 15 anos. Mas o tempo que passei com a Nala, minha irmã gêmea, me fez entender o que era ter uma irmã insuportável. Ela sempre foi uma criatura difícil, e apesar de amá-la, Deus, Nayara era um demônio! Bagunceira e intrometida, principalmente quando se tratava da minha vida amorosa.
Balancei a cabeça, aliviado por finalmente ter meu espaço. Mas ao chegar no hall de convivência, percebi que havia agradecido a Deus cedo demais. Minha vizinha, a tal que começava com C, estava ouvindo rock a todo volume. Que inferno! Era o mesmo estilo musical que minha irmã ouvia. Respirei fundo e segui para a porta do meu apartamento. Não hoje, não ia falar com ela. Não ia culpar a vizinha pela falta de informação do porteiro. Mas daria sinais sutis de que alguém estava morando ao lado, e se ela não perceber, faria questão de me apresentar. Suportar a irmã era uma coisa, mas ter que suportar a vizinha era outra bem diferente!
Foi em um dia ensolarado, perfeito para lavar roupa, que conheci o insuportável do 201. Não costumo ser uma pessoa incomodada; na verdade, sou conhecida por meu mau humor quando estou quieta. Claro, quando estou confortável com alguém, falo horrores, pulando de assunto em assunto. E sim, herdei um defeito horrível do meu pai: ouvir som alto. Muitas vezes, não prestava atenção no que estava passando na TV; simplesmente não gostava do silêncio por muito tempo. Estranho, eu sei, mas detesto o silêncio, até mesmo à noite, quando estou prestes a dormir. Preciso de algum barulho, seja do ventilador ou da chuva.
Nesse dia, estava ouvindo minhas músicas e limpando a casa, já que tinha acabado de me mudar e logo voltaria ao trabalho. Então, ouvi um barulho na porta. Franzi o cenho. O porteiro tinha avisado que alguém havia chegado? O interfone tinha tocado e eu não ouvi? Bom, isso era bem plausível, já que o som estava alto.
Fui abrir a porta e, bem, a visão que tive foi chocante. Na minha frente, estava um homem enorme, quase dois metros de altura, com um porte atlético que basicamente tapava a entrada da porta. Seu rosto era lindo e másculo, com um maxilar quadrado e bem definido, pele limpa e levemente pálida, com uma sombra de barba que logo iria crescer. As sobrancelhas eram grossas e pretas, arqueadas, com uma falha na direita que cortava até o supercílio — seria uma cicatriz ou uma falha de nascença? Seus olhos eram negros, a primeira vez que vi alguém com aquela cor, com cílios espessos. O cabelo era curto e preto como carvão. Eu percebi que estava diante do homem mais lindo que já vi.
— Oi — a voz dele era tão grossa que as janelas pareciam tremer.
— Oi — respondi, me odiando por soá tão trêmula.
— Você, pelo jeito, não sabe, mas sou seu vizinho de parede — ele estava com uma expressão de quem não estava a fim de fazer amizades.
— Não sabia que tinha vizinhos... — comecei, mas ele me cortou.
— Eu percebi que você não sabia que tinha vizinhos, já que ouve músicas como se estivesse tocando para todos os outros blocos — trinquei o maxilar, ótimo, um insuportável. — Sem contar a TV. Eu tenho uma em casa e não preciso saber qual série está passando na N*****x, já que, como eu disse, eu tenho uma TV! E pelo que estou vendo, a sua TV fica bem próxima ao sofá. Não há necessidade de ouvi-la tão alto; a três metros de distância, dá para ouvir muito bem.
Aos céus! Ele estava me dando um sermão, e ainda nem se apresentou.
— Bom, olá, vizinho. Meu nome é Clarisse e é um prazer te conhecer também! Como eu gostaria de ter lhe informado, não sabia que tinha um vizinho, já que o porteiro me avisou que não teria ninguém. Então, realmente sinto muito pelo incômodo — ele não respondeu, apenas me encarou por alguns segundos e finalmente assentiu.
— Ótimo, Clarisse. Espero não ter que reclamar novamente sobre o barulho — ele simplesmente não se apresentou e se virou, indo para o seu apartamento. Bem, já que ele não se apresentou, ele seria o insuportável do 201!
-Migueel, abre essa porta logo- reclamei com a língua enrolada.-Calma casseeetee ta tudo rodando aqui- ele disse mais bambo do que eu e isso me fez rir.-Eu vou fazer xixi- disse apertando as pernas.-Porra de novo? – finalmente ele conseguiu abrir a porta e eu entrei cambaleando , e consegui lembrar onde era o banheiro , fiz xixi e comecei a rir, meu deus eu e o Miguel estávamos fazendo competição de bebida e acabou que os dois idiotas beberam mais do que podia, no final das contas os dois acabaram bêbados, e quase não conseguimos voltar para o hotel de tão chapado que a gente ficou. Aproveitei que estava no banheiro e tomei um banho para tirar a areia do corpo, esperei um pouco para ver se a cachaça saia mais parece que piorou, me enrolei na toalha e sai para o quarto.-Ai meu deus até que em fim- disse o Miguel entrando no banheiro, pensei que era para vomitar mais era para fazer xixi, comecei a rir.-Vai o mijão- gritei na porta e ele me xingou de volta o que me fez rir ,ouvi ele
Sentei-me na cama com uma sensação estranha, quase... excitada? Que merda era essa? Ainda bem que Miguel estava no banheiro, tomando banho, porque seria muito estranho acordar assim ao lado dele. Passei a mão na nuca, tentando me livrar daquela sensação, mas acabei me arrepiando de novo. Fui até minha mala e peguei minhas coisas para tomar banho. Finalmente, depois de uns longos 20 minutos, Miguel saiu do banheiro.— Nossa, finalmente! — exaltei, ao vê-lo sair com a toalha enrolada na cintura. Deus do céu, aquele fogo voltou de novo. A visão do cabelo molhado e do corpo dele exposto era um ato de maldade contra meus hormônios.— Bom dia para você também! — disse ele, com um sorriso travesso, e eu revirei os olhos.— Você não tem roupa, não? — perguntei, passando por ele.— Para que me vestir se eu posso ver esse seu rostinho sedento logo de manhã? — Ignorando o comentário dele, fui direto para o chuveiro. Coloquei meu biquíni e minha saída de praia, mas então tive uma ideia infantil.
Consegui dar alguns cochilos durante a viagem, mas estava exausta. Chegamos em Paraty às 3:00 da manhã, e eu tinha tempo suficiente para dormir no quarto até as 7:00. Desci primeiro que Miguel, que ficou incrivelmente em silêncio o resto da viagem após nossa conversa profunda. Fui fazer o check-in no hotel enquanto ele ficou quase no final da fila.— Bom dia, moça. Clarisse Maia — disse para a atendente, que logo digitou rapidamente e assentiu.— Cadê o seu acompanhante? — perguntou ela, e eu franzi a testa.— Acompanhante? — perguntei, confusa.— Sim, aqui diz que é quarto para casal. — Olhei para ela, ainda confusa.— Moça, acho que há alguma confusão. — Ela negou com a cabeça.— Aqui está: Clarisse Maia e Miguel Galvão. — Só podia ser brincadeira.— Só pode ser brincadeira! — suspirei, sentindo a frustração subir.— Olha, se for confusão, temos um problema. Estamos em alta temporada e não temos quartos separados. — Apertei os lábios e fechei os olhos. — Posso te recomendar outros h
Eu andava tão estressada ultimamente que precisava urgentemente sair e fazer algo novo. Foi então que vi um anúncio na entrada do condomínio sobre uma viagem para Paraty de dois dias. Pensei que seria uma ótima oportunidade para espairecer um pouco. Comprei a viagem e pedi folga do serviço. Já se passavam semanas desde o ocorrido com Miguel; nós tínhamos aprendido a nos suportar, mas ele ainda insistia em me chamar de "surda" de vez em quando, e eu fingia que não queria matá-lo.No dia da viagem, peguei um Uber até o local onde o ônibus estaria estacionado. Tudo parecia lindo, perfeito, até que cheguei à minha poltrona.— Só pode ser brincadeira! — disse ao ver Miguel sentado ali.— Ah, Deus do céu, o que foi que eu fiz na vida passada? Taquei pedra na cruz, no mínimo! — ele comentou, olhando para mim com uma expressão de desespero.— O que você está fazendo aí? — perguntei, irritada.— Sentado. E você? — ele respondeu, sorrindo.— Bati nele com a minha passagem, e ele riu. — Eu vou v
Deus do céu, minha cabeça estava doendo tanto que parecia que tinha sido atropelada por um caminhão. E meu nariz? Parece que não existia mais. Finalmente, parecia que eu estava começando a recuperar os sentidos, especialmente o olfato. Fiz uma lavagem nasal só por garantia e decidi aproveitar minha folga. Estava tudo tranquilo até ouvir uma gritaria no corredor.Comecei a ignorar, pois não estava no clima de bancar a intrometida, mas então reconheci uma voz que me deixou alerta.— Senhora, abaixe a faca agora! — Merda, era o Miguel? E por que alguém estava com uma faca? Levantei do sofá e abri a porta rapidamente. No meio do hall de entrada, vi Miguel tentando acalmar uma mulher que estava com uma faca de cozinha enorme, enquanto outra mulher gritava com as duas que estavam do outro lado dele.— O que está acontecendo? — perguntei, confusa.— Clarisse, volta agora para o apartamento! — Miguel disse, sua voz firme.— O que está acontecendo? — perguntei de novo, sem entender.— Essa vag
— Miguel, para com isso! É uma ordem! — disse Giovanni, ainda meio grogue da anestesia.— Essa pode ser a única oportunidade que eu tenho de atormentar essa mulher sem receber um chute nas bolas — respondi, dando-lhe um sorriso malicioso.— Você está atormentando ela como se fosse um menino de 13 anos apaixonado! — ele me olhou com reprovação.Ignorei o comentário dele, e nesse momento, Clarisse apareceu na porta do quarto, com uma expressão de quem estava pronta para me matar.— Miguel, vou arrancar seus olhos! — ela realmente parecia disposta a fazer isso, mas, no fundo, meu eu demoníaco queria ver até onde ela aguentaria sem me xingar.— A TV não liga — eu disse, tentando ser casual.Ela franziu a testa para mim.— Não me acabei de estudar por quatro anos, fiz uma pós-graduação de dois anos e um mestrado de três em oncologia para vir aqui a cada cinco minutos porque você quer atormentar minha vida, Miguel! — ela estava furiosa.— Peço perdão pelo meu subordinado. Não estou em condi
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