Capítulo 6

Capítulo 6

Assim que o elevador chegou ao último andar, Leonardo respirou fundo e ajeitou os óculos, que, naquela manhã, insistiam em escorregar com o calor do nervosismo. Caminhou pelo corredor impecável até a sala de Alana, onde Margareth já o aguardava com um leve sorriso.

— Bom dia, Leonardo.

— Bom dia, senhora Margareth. — respondeu, mais calmo do que realmente se sentia.

Ela apenas assentiu com a cabeça, sinalizando a porta. Leonardo deu dois toques leves e, ao ouvir o “Entre” firme de Alana, girou a maçaneta.

Ao cruzar a porta, Alana estava em pé ao lado da mesa, olhando para algo em seu tablet. Quando levantou os olhos, franziu levemente a testa, não por desgosto, mas por surpresa. Ele parecia outro homem. O cabelo estava com um topete, o rosto livre do acessório dental deixava o sorriso mais confiante, e as roupas, apesar de simples, desenhavam um corpo bem mais atlético do que ela imaginava.

— Bom dia, Leonardo. — disse ela, tentando disfarçar o leve descompasso na respiração.

— Bom dia, senhora Alana. — respondeu, aproximando-se com um sorriso tímido.

— Sente-se, por favor. Temos algumas pendências para alinhar. — falou, indicando a cadeira à sua frente.

Leonardo obedeceu.

Alana se recostou levemente na cadeira, cruzando uma perna sobre a outra. Segurava o tablet em mãos, mas seus olhos haviam perdido momentaneamente o foco na tela.

Leonardo se ajeitou na cadeira, passando a mão pelos cabelos, num gesto quase nervoso ou seria charme inconsciente?

— Aconteceu algo com seu estilo habitual? — ela perguntou, com um pequeno sorriso brincando nos lábios. A pergunta parecia casual, mas seus olhos percorriam cada linha do rosto dele com interesse.

Leonardo engoliu seco, desviando o olhar por um instante.

— Ah… não. Quer dizer, sim. Eu… dormi demais. E acabei pegando a primeira coisa que vi no armário. — respondeu, sem coragem de encará-la diretamente, embora o sorriso dela fosse gentil.

Alana inclinou levemente a cabeça, como se estivesse analisando uma obra de arte que acabara de ganhar novos traços.

— Interessante. Você parece… mais confiante hoje.

Leonardo corou, mas tentou manter a compostura.

— Talvez eu esteja começando a me sentir mais confortável aqui.

Ela assentiu lentamente, seus olhos ainda fixos nele.

— Fico feliz em ouvir isso. A propósito, você almoça comigo hoje. Quero discutir algumas funções novas.

— A-almoço? Claro, com certeza! — disse ele, mais animado do que gostaria de parecer.

— Ótimo. Estarei pronta ao meio-dia. — Alana pegou o tablet novamente, mas sua expressão agora era mais leve.

Leonardo assentiu e levantou-se, pronto para sair. Antes de alcançar a porta, ouviu a voz dela mais uma vez:

— Leonardo?

Ele se virou.

— Sim?

— Gostei do topete.

Ele sorriu, sem saber o que dizer, e apenas saiu da sala tentando conter o salto que o coração deu.

***

Pontualmente ao meio-dia, Leonardo apareceu na porta da sala da CEO. Bateu de leve e, ao ouvir a voz suave dizendo "Entre", entrou com o coração acelerado. Alana estava de pé, colocando o tablet sobre a mesa e pegando a bolsa.

— Vamos? — disse ela com um sorriso profissional, mas havia um brilho em seus olhos que deixava Leonardo completamente desarmado.

— Claro — ele respondeu, caminhando ao lado dela.

Desceram juntos no elevador. Leonardo tentou não parecer nervoso, mas sentia o suor brotar em sua nuca. Quando saíram no saguão, os olhares voltaram a se voltar para ele. Mulheres que antes nem notavam sua presença agora o acompanhavam com os olhos. Uma delas chegou a cutucar a colega discretamente e apontar com o queixo. Ele, no entanto, só tinha olhos para Alana, e ela parecia saber disso.

Alana os levou a um restaurante discreto, elegante e aconchegante. Um lugar que poucas pessoas da empresa saberiam que existia. Sentaram-se perto de uma janela ampla, com vista para um jardim interno. O garçom os atendeu imediatamente, reconhecendo a CEO com respeito.

— Pode pedir o que quiser — ela disse a Leonardo, enquanto cruzava as pernas com naturalidade.

— Vou querer o mesmo que você, se não se importar — respondeu ele, tentando parecer confiante.

Alana sorriu com o canto dos lábios.

— Sempre tão cuidadoso.

Os pratos chegaram rápido, acompanhados de uma taça de vinho branco para ela e água com gás para ele.

— Então, Leonardo… — ela começou, cortando o filé — gostaria de reorganizar algumas funções suas. Percebo que você tem facilidade com planilhas, e também uma forma interessante de lidar com pessoas. Isso é raro.

— Obrigado… estou me esforçando ao máximo.

— E tenho percebido. Você está se adaptando muito bem, até demais. — Seus olhos se fixaram nos dele por um instante longo o suficiente para deixá-lo sem ar. — Me diga… sempre foi assim tão dedicado?

— Eu… bom, quando acredito em algo, sim. — Ele deu um leve sorriso. — E acredito que essa empresa merece minha dedicação.

Ela observou-o em silêncio por um segundo, antes de murmurar:

— E eu?

Leonardo arregalou os olhos, não esperando aquela pergunta. O garçom apareceu nesse exato momento para oferecer mais vinho, quebrando o clima. Leonardo respirou fundo e tentou disfarçar o tremor leve nas mãos.

— Você… é inspiradora, senhora Alana.

Ela assentiu, satisfeita com a resposta. Pegou a taça com leveza e brindou:

— Às surpresas agradáveis.

Ele ergue o copo de água e brindou de volta.

— Às surpresas.

Leonardo retornou ao trabalho com o coração ainda acelerado pelo almoço. Estava sentado à sua mesa, dentro da ampla sala da CEO, digitando alguns relatórios com atenção redobrada. Ainda se perguntava se tinha entendido bem aquela pergunta inesperada dela. “E eu?” Ecoava em sua mente feito uma canção que não se esquece.

Foi então que a porta se abriu com força. Sem bater, Armand entrou com sua presença marcante e olhar dominador.

Leonardo levantou-se imediatamente, em respeito.

— Senhor Dumont — disse com um leve aceno de cabeça.

— Boa tarde, rapaz — respondeu o empresário, com um tom curto.

Leonardo recolheu alguns papéis, ajeitou a gravata e saiu da sala discretamente. Mas antes de fechar a porta, Armand o acompanhou com o olhar atento, a expressão endurecida suavizando por alguns instantes. Quando a porta se fechou, ele ficou em silêncio, observando o lugar que o rapaz havia ocupado.

Virou-se para a filha e perguntou com uma sobrancelha erguida:

— Esse é o mesmo assistente de ontem?

Alana, que estava digitando no tablet, ergueu os olhos com calma e respondeu, contendo um leve sorriso:

— O mesmo.

Armand se aproximou da mesa com um olhar desconfiado.

— Ele parece… diferente.

— Às vezes, só precisa olhar com mais atenção, pai.

— E você andou olhando com mais atenção? — ele provocou, desconfiado.

Alana não respondeu de imediato. Apenas voltou os olhos para a tela do tablet e disse com suavidade:

— O senhor veio aqui para falar de negócios ou para inspecionar meu assistente?

Armand riu baixo, mas o olhar perspicaz continuava em sua filha.

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