O tempo passou a ser um inimigo invisível. Não o vejo, mas o sinto me sufocar. Cada novo dia parece igual ao anterior: acordo, tomo banho, ensaio, componho, subo ao palco, sorrio para câmeras e multidões… mas no fundo sei que é apenas uma cortina. Atrás dela, existe só eu — e o medo.
A carta de Emi continua ali, intacta, como uma sombra constante. Não importa em qual canto do apartamento eu a esconda, sempre sei onde está. Basta fechar os olhos para ver cada palavra, cada linha. E quando tento me distrair, é o silêncio que me entrega. Um silêncio diferente, cheio de vozes antigas.
Ontem, durante o ensaio com Sakura, ela percebeu que eu estava distante. Perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, mas dentro de mim, uma parte queria gritar: não está, nunca esteve. Toquei as cordas do violão com força demais, quase as quebrei. No final, ela me abraçou rápido, como quem sabe que há algo errado, mas não tem coragem de perguntar o quê.
À noite, deitei cedo. Mas não consegui dormir