Alice Kim
O tempo passou.
Não muito, mas o suficiente pra criar um abismo entre dois quartos separados por um corredor. Eu me afundei nos estudos. Na faculdade. Nos projetos. Nas aulas com Julian. Até passei a frequentar a biblioteca fora do horário, coisa que eu jurava que nunca faria. Tudo pra não estar em casa. Tudo pra não estar com ele.
Zion, por outro lado, fez o mesmo. Sai cedo, volta tarde. Às vezes, nem volta. Outras, volta e se tranca no quarto como se o resto da casa fosse um campo minado. Nossas conversas se resumem a grunhidos, acenos com a cabeça e, quando muito, um “tem comida na geladeira”.
A guerra fria ganhou nova definição com a nossa rotina. A louça ele lava no silêncio. O som do chuveiro dele eu reconheço de longe — e agora me esforço pra não pensar nele molhado. A toalha esquecida no sofá virou só mais um incômodo visual. E eu? Eu aprendi a respirar com fones no ouvido, a sorrir pra ninguém, a me ocupar com tudo, menos com ele. Mas às vezes... nos esbarramos no co