EROS
Ao chegar, estaciono e vou direto para o vestiário. — Faz tempo que chegou? — pergunto, dando um toque de mão no meu irmão, ao constatar que ele já está à minha espera. — Alguns minutos — ele responde, sorrindo com o olhar fixo na tela do celular. — Que cara é essa? Abro o meu armário e começo a me trocar. — Olha a gata que eu saí ontem — ele vira a tela do seu celular em minha direção. — Eduarda Magalhães, brasileira e está de férias na Grécia. — Quantos anos a garota tem? — Vinte e oito. — Ela por acaso sabe que você é um bebezinho de vinte anos? — Digamos que ela acha que eu tenho uns vinte e quatro anos. — Mentiu sua idade? — o encaro, perplexo. — Não. Ela perguntou a minha idade, eu perguntei quantos anos ela achava que eu tinha e ela falou vinte e quatro anos. A conversa encerrou aí. — Então você não mentiu a sua idade, mas fez ela achar que você tinha vinte e quatro anos? — pergunto, dando um tapa em sua cabeça. — Mais ou menos isso — o idiota sorri, presunçoso. — Ela é gata, tem um bom papo e o beijo é incrível. Senti falta de saber falar português, como você. Seria ótimo para impressioná-la. — Conversaram em grego? — Não. Ela também não sabe nada de grego. Conversamos em inglês, mas ela também fala um pouco de italiano. Após nos exercitarmos por aproximadamente uma hora, meu irmão e eu vamos almoçar em um restaurante perto do escritório. — E a garota da Itália? — Atlas pergunta, olhando o cardápio. Atlas foi a única pessoa com quem conversei sobre a estranha da Itália, que agora sei que se chama Chiara Giordano. — Eu descobri o nome dela — respondo, tentando parecer indiferente. — E qual é o nome da garota? — Chiara. Ela é modelo, tem fotos e vídeos de várias campanhas publicitárias dela em suas redes sociais. — Tem imagens dela? — pergunta, sorrindo. — Preciso ver o rosto da garota que tem tirado o foco do meu irmão no trabalho. — Não viaja, Atlas — reviro os olhos. — Já não basta nosso pai, agora você também vai vir com essa conversa? — O velho também notou? — ele sorri ainda mais. Antes que eu possa dar uma resposta atravessada para o meu irmão, o garçom nos interrompe. Fazemos os nossos pedidos e, enquanto esperamos, mostro a foto da garota. — Uau! Bem gata — fala —, mas é diferente do perfil de mulheres que te vejo saindo. — Como assim? — Não é loira, não aparenta ser tão alta e nem tão magra, apesar de ser modelo. Pelo visto, não é só nas passarelas que os padrões estão mudando. — Está falando isso pela Penélope? — E pela Sophia. — Só coincidência. — Pode ser, mas e aí? Deixou uma mensagem? — O quê? Para a garota da Itália? — pergunto. — Claro que não. Só fiquei intrigado e curioso. — Sei... — é notável que o meu irmão está sendo irônico. — Vai se ferrar, Atlas — retruco. — Não precisa ficar bravinho. Só acho que, se gostou da garota, deveria procurá-la. Nosso almoço é servido. Como temos muitas coisas para resolver até a mudança para a Itália, mudo o foco do assunto. — Já decidiu sobre a universidade da Itália? — Praticamente. Estou pensando em me matricular na mesma que você. — É uma das melhores universidades. Tenho certeza que você vai gostar. Atlas direcionou o olhar para algo atrás de mim. — Não é Penélope ali atrás? — Penélope está aqui? — pergunto, girando o meu pescoço. — Será que é coincidência? — Só você para acreditar nessas coincidências. Penélope sabe que costumamos almoçar nesse restaurante. — Restaurantes são locais públicos, não posso impedí-la de frequentar. Pelo menos ela não está mais indo até o escritório. — Ela só parou de ir no escritório porque você barrou a entrada dela. — Eu não barrei, só pedi que ela não ficasse aparecendo lá sem avisar. — Ou seja, a barrou educadamente. Eu e Penélope namoramos por alguns meses. Eu não sei o que acontece comigo, mas não consigo fazer com que os meus relacionamentos durem. É como se faltasse algo, e quando passa o “encanto” pela atração física, não consigo permanecer na relação. — Não olha para trás, mas a sua ex está vindo em nossa direção — Atlas alerta. — Eros, posso falar com você? — Penélope pergunta, se colocando em pé em frente a nossa mesa. — Como vai, Penélope? — pergunto. — Oi para você também, Penélope! — Atlas fala, propositalmente. — Oi, Atlas! — ela responde ao meu irmão com um certo desdém e direciona o olhar para mim novamente. — Eros, eu tentei te dar espaço, não estou indo mais no seu trabalho como você me pediu, mas essa sua insanidade está durando tempo demais. — Insanidade? — pergunto, com o meu cenho franzido. — Sim. Qualquer pessoa percebe que nós somos perfeitos juntos — ela insiste. — Eu não acho — Atlas retruca. — O quê? — Penélope pergunta, incrédula. — Você pode ter um rostinho bonito e muitos seguidores nas redes sociais, mas nada disso te tornou uma pessoa humilde, muito pelo contrário, você é prepotente, se sente superior as outras pessoas, tudo que o Eros não gosta em uma mulher. Assim, maninho, na lata? — Pirralho, não se mete — Penélope fala, com seus olhos semicerrados. — A conversa ainda não chegou no jardim de infância. — Atlas tem razão, Penélope. — falo. — As pessoas podem até achar que somos "perfeitos juntos", como você mencionou, porque não nos conhecem intimamente e não viveram a nossa relação. Nós não queremos as mesmas coisas, não nos amamos... — Como pode falar isso? — ela pergunta, não permitindo que eu continue a falar. — Eros, é claro que eu amo você. — Não, Penélope, você gosta do que o status da minha família pode te proporcionar. Busque alguém que queira as mesmas coisas que você, eu não sou esse cara. — Eros Makris, você vai se arrepender por estar me dispensando e, talvez, quando cair na real eu não estarei mais aqui — ela fala, virando as costas, dando passadas firmes de volta à sua mesa. — Já se imaginou casado com Penélope e tendo que aguentá-la todos os dias? — meu irmão pergunta, sorrindo. — Não. — Posso imaginar porquê. Seria um verdadeiro pesadelo.