CAPÍTULO 08

Ele apenas me observava, analisando cada uma das minhas reações. Eu estava sendo sincera, embora por dentro tudo doesse intensamente. Levantei-me e disse que precisava me trocar e ir até a casa do meu irmão para contar sobre a gravidez.

Entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro. Mais uma vez, aquele nó na garganta me sufocava, e eu precisava extravasar antes de sair de casa. Tirei a roupa e entrei no chuveiro. As lágrimas escorriam silenciosas, misturando-se à água que caía sobre mim.

Tudo o que eu mais queria naquele momento era o apoio do Julian, mas ele sempre havia sido claro comigo — e não seria justo, agora, pedir que ele permanecesse. Quando saí do banho, sentia-me mais leve, embora meus olhos inchados entregassem o quanto eu havia chorado.

Não havia como sair daquele jeito. Vesti uma roupa confortável e me deitei na cama, adormecendo em um sono reconfortante. Quando acordei, já era noite. Evitei sair do quarto — não queria encontrar o Julian naquele momento. Sabia que, ao vê-lo, toda a tristeza voltaria com força total, e eu não estava pronta para enfrentar isso de novo.

Quando a fome apertou, tive que sair do meu esconderijo, mas o Julian não estava no apartamento. Enquanto preparava um sanduíche, ouvi a porta da sala se abrir. Meu coração disparou, mas decidi que não me comportaria como uma criança, correndo de volta para o quarto. Para meu completo alívio, era apenas a Manu.

— Oi, Amanda! Como você está? Esses plantões andam tão malucos que mal tenho conseguido te ver! E aí, como está seu irmão? E o processo da gravidez? — disparou ela, me enchendo de perguntas de uma vez só.

— Calma, amiga, é muita pergunta de uma vez só — respondi com um sorriso cansado. — Estou bem… e ligeiramente grávida. Quanto ao meu irmão, ele está cada dia mais debilitado. De vez em quando, passa muito mal, com dores intensas, mas continua se recusando a voltar para o hospital.

— Caramba! Sinto muito pelo seu irmão… Espera aí, você disse que está grávida? Quer dizer que deu tudo certo?

— Sim, amiga! Estou grávida — respondi com um sorriso, passando a mão na barriga.

— Nossa... nem sei o que dizer numa situação dessas. Parabéns? Ou só fico feliz porque deu tudo certo, mesmo o bebê não sendo seu de fato?

Comecei a sorrir enquanto ela me envolvia num abraço. Nossa amizade sempre foi assim — mesmo sem nos vermos com frequência, uma se alegrava com as conquistas da outra. Depois, ela me olhou com calma, analisando-me.

— Você estava chorando? — perguntou, olhando com mais atenção para mim.

— Você sempre consegue ver o que eu tento esconder. É complicado...

— O que é complicado, amiga? Você queria tanto que tudo desse certo e, quando aconteceu, eu te vejo chorando e triste.

— No processo, pedi o Julian, Manu. Ele vai trabalhar em outro hospital no exterior, em Toronto.

— Não é verdade que ele está indo embora por causa disso, né? — ela perguntou, estupefata.

— Ele recebeu uma proposta, amiga. Quantos de nós não torceríamos para que algo assim acontecesse com a gente? A chance de se destacar no exterior, especialmente na área dele, com a oportunidade de participar de uma excelente pesquisa em neurocirurgia.

— Mas… — ela tentou argumentar.

— Sem mais, Manu. Não seria justo pedir para ele ficar. Ele até me convidou para ir com ele, mas eu teria que desistir do procedimento, e não concordei com isso. Fiz minha escolha, e ele fez a dele.

— A gravidez dura cerca de nove meses, não a vida toda. Você não está pedindo para ele criar um filho de outro homem, Amanda. Você está apenas pedindo a chance de realizar o sonho do seu irmão. Depois disso, a vida segue.

— Em nove meses podem acontecer muitas coisas, inclusive nada, Manu. Fui a primeira a incentivar que ele fosse; é uma grande oportunidade, e não sabemos se daqui a nove meses haverá outra igual. Eu o amo, e é por isso que estou sofrendo, mas também estou feliz pela conquista dele e pela chance que recebeu.

— Só penso que ele está sendo um tolo por perder a mulher que ama por medo. Ele teve essa mesma oportunidade assim que nos formamos, mas recusou o convite. Decidiu ficar por sua causa, e agora, justamente quando você mais precisa dele, resolveu partir? Ele está sendo um escroto — afirmou ela. E foi exatamente nesse momento que o Julian chegou, ouvindo o final da nossa conversa.

— Quem foi o cara que te deixou tão chateada a ponto de você chamá-lo de escroto, Manu? — perguntou Julian, sem perceber que ele próprio era o protagonista da nossa conversa. Eu sabia que aquilo não terminaria bem.

A Duda era uma amiga maravilhosa, mas muito sincera, e sinceridade demais nem sempre era a melhor solução, podendo acabar machucando as pessoas.

— Você, Julian! Está se revelando um cara totalmente escroto — afirmou Manuela.

Julian me lançou um olhar confuso, depois voltou a encará-la, como esperando que ela explicasse o motivo daquele comentário. A expressão descontraída dele rapidamente mudou, tornando-se séria, enquanto nos encarava fixamente.

— Julian, você já tinha recebido essa proposta de trabalho em Toronto meses atrás? — perguntei, decidida a confirmar o que minha amiga havia dito.

— Sim, Amanda!

— E por que você não aceitou? — perguntei, sem conseguir entender.

— Porque eu queria construir uma família com você! Mas agora tudo mudou, então decidi aceitar o convite que havia deixado em suspenso antes.

Olhei para a Manu, e ela simplesmente deu de ombros, como quem diz: “Eu te avisei.” Voltei o olhar para Julian, mas já não conseguia mais enxergar o homem que eu pensava que ele fosse.

Será que o fato de eu ter engravidado para realizar o sonho do meu irmão, que poderia morrer a qualquer momento, interferiu no sonho que ele tinha para nós?

Eu carregava no ventre um filho que não seria meu, com a esperança de realizar o sonho de vida do Felipe, meu irmão. Não me deitei com outro homem, nem estava pedindo para ele assumir a criança.

Seriam apenas nove meses, não uma vida inteira. Ali, vi um homem diferente daquele que eu conhecera antes, e notei, pela primeira vez, um olhar carregado de preconceito — não era só medo que havia ali. Então, simplesmente deixei a cozinha sem provar meu sanduíche. Minha fome desapareceu, dando lugar à decepção que eu sentia.

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