Quando parou diante dela, Angela percebeu algo novo:
Um vinco de preocupação marcava sua testa. — Você precisa saber — disse ele, a voz baixa, como se temesse que as próprias árvores pudessem ouvir. — Seu despertar... não passou despercebido. Angela franziu o cenho. — O que quer dizer? Theo passou uma mão pelos cabelos negros, um gesto que denunciava sua tensão. — Existem forças adormecidas neste vale. Forças que caçam o que você é... — Ele hesitou, olhando para além dela, como se pudesse ver o futuro se desenrolando em sombras. — Eles sentiram você. Angela cruzou os braços sobre o peito, tentando conter o frio repentino que se espalhou por sua pele. — Quem são eles? Theo deu um passo mais perto, tão perto que ela podia sentir o calor de seu corpo. — Criaturas antigas — disse ele, em um sussurro. — Corrompidas pela escuridão. Seres que caçam aqueles como você. Como nós. Angela sentiu uma pontada de medo. Não pelo que ele dizia... mas porque parte dela reconhecia essas palavras. Era como se, em algum lugar profundo em seu sangue, ela sempre soubesse que não estava apenas fugindo de um ex-namorado brutal. Ela estava fugindo de algo muito mais antigo. E agora, já não havia para onde correr. — Então estou em perigo? — ela perguntou, a voz tremendo apesar de si mesma. Theo ergueu a mão e, muito lentamente, tocou o lado de seu rosto. O gesto foi tão terno, tão cheio de devoção silenciosa, que Angela quase desmoronou. — Sempre estivemos em perigo — disse ele, com um pequeno sorriso triste. — Mas agora, você não está mais sozinha. Os olhos de Angela se encheram de lágrimas. Ela piscou rapidamente, recusando-se a deixá-las cair. Havia algo na maneira como Theo a olhava — como se ela fosse algo precioso, algo digno de ser protegido, e não apenas possuído ou controlado. Era diferente do desejo bruto de Zane. Diferente da fome sombria de Damian. Com Theo, era como se ela finalmente pudesse respirar. Angela baixou a cabeça, lutando contra a onda de emoções. — Não sei se consigo... — murmurou. Theo inclinou a cabeça, seus dedos traçando uma linha lenta pelo maxilar dela. — Você já está conseguindo, amore mio. — A voz dele era um abraço quente, envolvendo-a. — Você sobreviveu. Você despertou. Você é mais forte do que pensa. Angela ergueu o olhar para ele, e o mundo pareceu encolher até restar apenas aquele espaço entre eles. Ela não pensou. Simplesmente se moveu. Seus lábios tocaram os dele em um beijo suave, quase tímido. Diferente da explosão que fora com Zane, este beijo era uma promessa silenciosa. Um sussurro de confiança nascida do medo e da esperança entrelaçados. Theo respondeu gentilmente, suas mãos segurando seu rosto como se ela fosse feita de vidro precioso. O beijo se aprofundou, lento, exploratório, cheio de uma reverência que fez o coração de Angela doer. Quando finalmente se separaram, Theo apoiou a testa na dela, os olhos fechados como se estivesse orando. — Eu juro — disse ele, sua voz rouca de emoção contida —, que nada vai te machucar enquanto eu respirar. Angela acreditou. Não porque queria acreditar. Mas porque era verdade. Ela podia sentir isso vibrando no ar entre eles — um fio invisível e inquebrável. Foi Damian quem interrompeu o momento. — Estão se aproximando — disse ele da borda da clareira, a voz como um trovão distante. — Sentem? A corrupção no ar? Angela estremeceu. Agora que Damian falava, ela podia sentir. Um cheiro azedo, como carne podre, flutuava no vento. O medo mordeu sua pele como garras invisíveis. Theo se virou imediatamente, o protetor emergindo em sua postura. — Fique perto de nós — ordenou com doçura firme. — Não importa o que veja, não solte nossas mãos. Zane e Damian já se posicionavam, formando um triângulo em torno dela. E pela primeira vez, Angela compreendeu. Ela não era apenas protegida. Ela era a peça central. O prêmio. A guerra estava apenas começando. E seu sangue... Seu poder... Era a arma mais cobiçada naquele jogo mortal. A noite parecia ter ficado mais escura de repente, como se as próprias estrelas tivessem se ocultado do céu. Angela sentia a tensão no ar, um zumbido elétrico que parecia fazer o chão tremer sob seus pés. Os três Alfas a cercaram, mantendo-se entre ela e a clareira aberta onde, mais uma vez, o vento parecia uivar com uma urgência sobrenatural. Theo estava à sua direita, firme, como uma rocha imutável, enquanto Damian se movia nas sombras, seus olhos vermelhos brilhando com antecipação. Zane, por sua vez, estava à sua frente, os músculos tensos, prontos para agir a qualquer momento. Ela olhou para ele, sentindo aquele calor familiar, mas agora algo mais se entrelaçava no ar. Não era só desejo. Era um pressentimento de que o que estava por vir mudaria tudo. — Eles estão perto — disse Damian, sua voz tão baixa que quase se perdeu no vento. — Sente? A podridão? Eles já estão sentindo o cheiro do seu poder. Angela engoliu em seco, o medo apertando seu peito. — O que são eles? — ela perguntou, sua voz falhando. Não importava o quanto quisesse ser forte, a verdade era que ela não estava pronta para enfrentar o que fosse aquilo. Theo olhou para ela com uma expressão grave, mas seus olhos eram suaves, como se quisesse transmitir segurança, mesmo que soubesse que ela estava longe de estar preparada. — São sombras corrompidas — ele explicou. — Criaturas que foram uma vez humanas, mas perderam suas almas em busca de poder. Agora, são caçadores. Caçam o que ainda é puro. Angela sentiu um arrepio. A pureza da sua magia. A essência que ela começava a entender e controlar. — E nós? — ela perguntou, os lábios secando. — O que acontece conosco? Zane virou-se para ela, um sorriso sombrio atravessando seu rosto. Seus olhos dourados brilhavam com uma ferocidade que fazia Angela tremer. — Eles não podem nos tocar. Mas... você — ele olhou profundamente nos olhos dela, como se estivesse buscando algo — você está marcada, Angela. Eles vêm por você. O medo virou fúria no peito dela. Ela não sabia se era medo do que estava por vir ou da ideia de ser caçada. Mas uma coisa ela sabia: não iria ser a vítima novamente.