— Você despertou — disse, a voz baixa, reverente. — Você é uma de nós.
Angela balançou a cabeça, confusa. — Uma de vocês? O que vocês são? Theo se ajoelhou também, do outro lado, seu olhar cheio de algo mais profundo que compaixão — devoção. — Somos Alfas — disse suavemente. — Não apenas homens. Não apenas feras. Somos algo além... ligados à magia antiga desta terra. Damian permaneceu em pé, observando como um rei diante de sua rainha caída. Seus olhos vermelhos ardiam com a verdade que ele sempre soubera. — E você, piccola — disse com aquela voz grave que fazia sua pele arrepiar —, é algo ainda mais raro. Você é a chave. A chave para quê, ela não sabia. Mas uma coisa era certa. O destino dela não pertencia mais a ela mesma. Ela era parte de algo maior, algo sombrio e belo, perigoso e inescapável. Angela fechou os olhos, respirando fundo o cheiro da terra, da chuva, da magia. E quando abriu os olhos de novo, havia uma decisão brilhando neles. Ela não seria mais levada pelas correntes da vida. Ela se tornaria a tempestade. E, de alguma forma, sabia que esses três homens — selvagens, perigosos, irreversivelmente conectados a ela — seriam tanto sua ruína quanto sua salvação. E, pela primeira vez em muito, muito tempo... Ela sorriu. O caminho era estreito, ladeado por árvores antigas que pareciam sussurrar segredos esquecidos. Angela seguia entre Zane e Theo, com Damian logo atrás, sua presença escura como uma sombra viva. Ainda sentia o eco da energia que explodira dentro dela minutos antes — uma eletricidade adormecida agora pulsando sob sua pele como uma segunda batida cardíaca. O ar era mais denso ali, saturado de magia. Ela podia senti-la, como se estivesse respirando algo mais pesado que o próprio oxigênio. — Onde estamos indo? — perguntou, a voz ecoando estranhamente entre as árvores. Zane olhou para ela de relance, seus olhos dourados brilhando sob a luz da lua. — Para o começo de tudo. Ela não sabia o que aquilo significava, mas não havia como voltar atrás. E, estranhamente, não queria. Chegaram a uma clareira oculta, onde as árvores se abriam em respeito a uma construção antiga de pedra branca coberta por musgo. Era bela e assombrosa. Pilares partidos se erguiam como dedos apontando para o céu, e inscrições em uma língua que Angela não reconhecia cobriam as superfícies. Ela sentiu algo se agitar dentro dela ao ver o lugar. Algo primal. Algo que reconhecia aquele espaço como lar. — Este é o Santuário de Eterna — explicou Theo, sua voz suave como o vento entre as colunas. — Onde os nossos juramentos são feitos. Onde o sangue encontra seu destino. Angela se aproximou, fascinada. Tocou uma das pedras frias, e um arrepio percorreu seu corpo. Viu flashes — visões — de rituais antigos, homens e mulheres banhados em luz e sombra, promessas sussurradas em línguas esquecidas. Seu corpo reagiu antes de sua mente compreender. Ela cambaleou, e foi Zane quem a amparou. Seus braços fortes envolveram sua cintura, puxando-a contra seu peito largo. O calor dele era como fogo contra sua pele arrepiada. Angela ergueu o rosto, e seus olhos se encontraram. O mundo pareceu se dissolver. Havia algo entre eles — algo feroz e indomável. Zane respirou fundo, lutando visivelmente contra algo. — Você é... — ele começou, mas a voz falhou. — Você é feita para nós. Ela engoliu em seco. Parte dela queria lutar contra aquele absurdo. Parte dela sabia, instintivamente, que era verdade. Angela sentiu o cheiro dele — madeira queimada, couro, tempestade — e o desejo cravou garras em sua barriga. Zane passou a mão pela lateral do rosto dela, traçando seu maxilar com um toque surpreendentemente delicado. — Angela — ele murmurou, a voz rouca —, você não tem ideia do que está despertando em mim. Os dedos dele afundaram no quadril dela, puxando-a ainda mais para perto. Ela sentiu a dureza do corpo dele contra o seu. Sentiu o calor crescendo entre eles, uma promessa sombria e deliciosa. O coração de Angela batia tão rápido que ela mal podia ouvir outra coisa. — Eu deveria te dar tempo — Zane rosnou, fechando os olhos como se lutasse contra seus próprios demônios. — Deveria ser paciente... Ela poderia tê-lo afastado. Deveria ter recuado. Mas, em vez disso, se ergueu na ponta dos pés, guiada por algo maior que a lógica. E, sem pensar, roçou os lábios nos dele. Foi como acender um fósforo em um campo de pólvora. Zane respondeu com um grunhido profundo, a mão em sua nuca, puxando-a com uma fome selvagem. O beijo era tudo menos gentil. Era exigente, brutal, desesperado. E ela queria mais. Queria se perder naquele calor, esquecer o passado, esquecer o medo. Ele a pressionou contra uma das colunas antigas, seu corpo dominando o dela com facilidade, mas não havia medo em Angela. Havia apenas uma necessidade latente que ela nunca soubera que possuía. Quando finalmente se separaram, ambos ofegantes, Zane encostou a testa na dela. — Você é nossa — ele disse, uma promessa e uma sentença ao mesmo tempo. Angela abriu os olhos e viu Theo e Damian observando de longe. Theo, com um sorriso triste e paciente. Damian, com um brilho de aprovação escura. Eles não estavam com ciúmes. Eles esperavam. Sabiam que seu tempo também viria. O destino de Angela não era pertencer a um homem apenas. Era pertencer a eles. E, no fundo, ela sabia: Estava disposta. Mesmo sem compreender todas as consequências, mesmo sem entender ainda todo o seu poder. Angela era deles. E eles eram dela. Para o bem. Ou para o mal. A noite parecia viva. O vento sussurrava entre as árvores como vozes antigas tentando avisá-la de algo que ela ainda não compreendia. Angela se afastou da coluna onde Zane a havia deixado, os lábios ainda formigando do beijo voraz que trocaram. O corpo tremia — não apenas de desejo, mas de uma sensação incômoda, uma ansiedade que se enroscava em suas entranhas. Ela caminhou sem direção, tentando acalmar o coração descompassado. Foi então que Theo a encontrou. — Angela — chamou com sua voz tranquila, mas carregada de urgência. Ela se virou, aliviada ao ver seus olhos verdes, calmos como florestas profundas. Theo caminhou até ela com passos firmes e seguros. Ele parecia carregar o próprio peso do mundo nos ombros, mas ainda assim, era o mais centrado dos três.