| Bad Guy - Billie Eilish |
Jeong ParkFinalmente o jatinho estaciona, pego minha mala e a porta se abre, desço as escadas móvel, segurando a mala e percebo que meu amigo está à minha espera. Ajeito meu óculos escuro e vou até eles puxando minha maleta e a mala com a outra mão.— Como foi a viagem? — Erick, meu motorista e amigo pessoal, pergunta.— Interessante. — Digo.Ele pega a minha bagagem — mesmo que não seja necessário fazer isso —, coloca dentro do porta mala no carro. Agradeço com um aceno de cabeça e vou me sentar no banco do carona.Erick demora um pouco para entrar no carro e sei que tem algo de errado. Pego um pirulito do bolso com sabor de morango e coloco na boca. Isso é um problema e meu amigo vai saber, eu sempre como doces quando estou irritado e muito frustrado.Aquela porra de reunião havia demorado mais do que o necessário fazer aliança amigável com alguns membros da Coreia do Sul, não tem sido fácil. E meu Don, confiou aquilo só em mim, a minha capacidade de persuasão sempre foi perfeita, sou fluente em coreano ( por ser minha língua materna) e sem falar que aquele é o meu trabalho.No entanto, aquela negociação demorou muito, mas no fim acabaram cedendo e todo mundo ganhou.No meu caso, eu só perdi tempo.Aconchego minha cabeça sobre o assento do banco e fecho os olhos. Ouço o barulho da porta ao lado e sei que não estou mais sozinho no carro.Erick dá a partida e um silêncio reina. Tiro o pirulito da boca e abro os olhos observando o pequeno globo avermelhado.— Desembucha! — peço sem rodeios.— Eu te conheço, sei que vai se irritar.— Já estou irritado, diga de uma vez!Coloco o pirulito de volta na boca sentindo o homem ao lado completamente tenso.— Nós temos um problema, um dos novatos deixou cair a carteira que tinha a documentação.Eu solto uma gargalhada, aquilo só podia ser uma piada.— Certo, essa foi boa, me rendeu um bom riso. Agora me diga o que está havendo?— Jeon — Erick chama meu apelido e suspira apertando as mãos no volante. — O problema é esse, estou falando sério.Observo a estrada do aeroporto por alguns momentos tentando processar a merda enorme que aconteceu.— Ah, fala sério. — Tento ficar calmo e continuo. — Onde foi isso?— No porto, os federais ficaram sabendo e deu muita merda, um novato deixou a carteira cair e…O interrompo fazendo um barulho com a boca e vou direto ao ponto:— A policial estava lá?— Sim.Solto uma risada de puro sarcasmo e logo explodo começando a praguejar em italiano, americano e coreano. Erick se mantém firme enquanto eu xingo todo mundo em várias outras línguas.Quando meu ataque passa, pego meu celular desligado e ligo para o don. Embora ele tenha me dado a completa permissão para fazer o que bem entendesse no solo americano, eu nunca o deixava sem saber o que se passava por aqui e agora não seria exceção.Ele atende no segundo toque:— il mio ragazzo, estava esperando sua ligação. Tem boas notícias?— Si, eles assinaram. Acordo fechado.— Oh! Questo è meraviglioso, o senhor nunca me decepciona, meu rapaz.— Meu Don. — Falo baixo e sei que ele já reconhece um problema na minha voz.— O que aconteceu? Está machucado? Alguém fez algo com você?Aperto o celular dando um meio sorriso pela preocupação dele, a covinha no meu rosto aparece e solto um suspiro.— Não, estou bem, o problema aconteceu aqui na América. — Conto o que sei.Ouço vários palavrões.— Desculpa, isso não é com você, sei que você não tem culpa dessa merda.— Eu sinto muito por não estar por aqui. Posso fazer alguma coisa?— Si, já sabe o que fazer, sabe que tem a permissão, e em breve estarei aí. Quero dar uma olhada nessa policial de perto, ela está fazendo muita bagunça.— Certo.— Eu preciso conversar com a minha amiga sobre essa policial, isso está me irritando e sinto falta dos seus pais.— Eles também sentem sua falta.— Então, maravilha, no fim de semana chegarei de viagem e resolva essa situação como quiser, confio totalmente em você.Dou um sorriso e me despeço do Don, desligo o celular.— Onde o homem está? — pergunto, chupando o último vestígio de doce no pirulito.— Com os outros rapazes.— Ótimo.Abro minha maleta, a princípio parece ser a mala de um homem de negócios, cheia de papéis e contratos. Mas quando toco no pequeno botão e coloco minha digital, a primeira parte da maleta levanta, minha pistola glock com silenciador está disponível.Faz tempo que não uso você não é, minha querida? Penso comigo mesmo enchendo o cartucho com as balas.— Acha que 6 balas é o suficiente? — indago olhando para o meu amigo.— Creio que sim — Erick afirmou sério e suspirou —, vai fazer mesmo isso? Você não gosta de sujar suas mãos.— Às vezes se sujar um pouco não faz mal — dou um sorriso. — Quando as coisas ficam difíceis não me importo de limpar o estrume. Algo a acrescentar sobre o infeliz?— Eu acho que ele tem família.— Questa merda sta peggiorando sempre di più.— Fala a minha língua, por favor, eu não sou poliglota como você.— Essa merda está fedendo cada vez mais. — repito aumentando a minha voz. — Família? Contratamos agora um homem de família?— Quem contratou?— Foi o Carlos, me deixaram de folga já que você não estava por aqui, quer dizer nossa turma ficou de fora.— Esse puto chegou tem dois meses e acha que pode mandar. Eu avisei ao Don que esse cara ia dar problema, mas ele insiste nele, que tem potencial.— Também não gosto dele.— Acelera mais isso — ordeno irritado — vou tirar a banca desse otário, quero ver se ele tem culhão para me enfrentar.|...|— Por favor, eu fiquei desesperado, olha se quiser eu posso sumir — suplica o homem se tremendo inteiro de medo. — Por favor, senhor, eu prometo que sumo daqui, não direi nada.— Você acha mesmo que vai ser tão fácil? — questiona Erick se abaixando para ficar na mesma direção do olhar homem — Acha mesmo que ele vai te deixar ir embora e lhe dar uma florzinha em agradecimento depois do que você deixou acontecer?— Eu sei que não, mas eu tenho meus filhos, eu só entrei nisso por causa deles, por favor.Observo o homem implorando pela vida e confesso que sinto pena, mesmo que às vezes não pareça, há uma parte humana dentro de mim, e acho que é essa parte que o Alex gosta tanto.Ainda estou dentro do carro quieto esperando a hora certa para agir, ninguém sabe ainda que retornei. Olho para o lado e observo Carlos e os outros membros rindo.Alex só pode estar brincando, esse cara não pode ser o escolhido para ser seu futuro substituto. Ele não tem honra alguma e não oferece dignidade, esse cara nunca terá o meu respeito.— Mate-o logo fantoche — diz Carlos com um sorriso — esse velhote é um imprestável, só irmos atrás da família dele em seguida.Erick o olha e não é difícil imaginar o que está pensando, sei que quer mirar a bala nele. Eu não vou me importar se ele fizer isso.— Está com medo né... do seu chefinho? — zomba Carlos com o ar de desdem — aquele amarelo… Asiático de merda nem sabe o que quer, so fica com aquela maletinha para cima e para baixo.Ah racista nojento!Agora Erick puxa a arma para ele e sei que está tão puto quanto eu.— Veja como fala do meu amigo, seu imbecil escroto.Então eu saio do carro, ouço as exclamações à minha volta. Puxo a minha arma escondida no bolso do meu sobretudo e percebo que Carlos e o restante dos homens — pelo menos os que se uniram a ele — ficaram com medo.— Senhor Carlos Carpentine, poderia repetir o que acabou de dizer?Ele foi caminhando para trás conforme ando na direção dele.— Era só uma brincadeira, sabe que eu sou muito brincalhão.— Brincadeira? Você entende o que é a máfia, senhor Carpentine?— Sim, claro — responde o homem.— Então, sabe que todos nós respeitamos uns ao outros sem ligar para sua cor ou etnia. Não temos nenhuma discriminação, eu exijo respeito a mim e ao meu povo.— Sim, claro senhor.Eu evito dar uma boa surra nesse cara por mais que minha vontade seja essa. Ele é filho de um dos poderosos magnatas italiano, amigo do Don. Carlos fazia contrabando de drogas na Itália e quase foi pego pelos repórteres, para apaziguar a situação ele foi mandando para cá.Se eu machucar esse cara pode haver um problema, se ele for o escolhido pelo Don. No entanto, deixo exposto totalmente a minha vontade mata-lo.— Respeito senhor Carpentine. Lembre-se disso.Então me viro para o homem ajoelhado no chão ele se curva quando nossos olhos se encontram.— O senhor então é o problema aqui.O homem não responde.— O senhor perdeu a língua? — Olho para os homens em volta — Alguém tirou a língua dele e eu não vi?— Não — o homem finalmente falou. — Eu só, eu… não quero morrer.— Eu também não, acho que ninguém quer morrer aqui, senhor problema — solto um suspiro — Mas, a sua atrapalhada me deu uma dor de cabeça e a melhor opção seria me livrar de você. — Falo com tranquilidade colocando as mãos para trás.— Por favor! Não! Eu sumo daqui, eu tenho filhos, senhor, são crianças e…— Você contou algo para elas?— Não, minha mulher pensa que estou trabalhando numa peixaria.Ouço as risadas atrás de mim, olho para trás na hora e todos param. Reviro os olhos sentindo minha paciência se esgotar.Qual é a graça disso? Seria um trabalho digno e honesto.— Certo. Você deixou sua carteira cair, sabe que a essa hora a polícia já sabe quem é?— Tenho consciência disso, ninguém sabe de nada, por favor se não puder me poupar pelo menos poupe minha família.O senhor problema — gostei desse apelido — começa a choramingar, fecho os olhos e decido o que fazer.— Se realmente se sua esposa não souber de nada, e for pega pela polícia ela será interrogada e liberada depois de algumas horas. Agora se ela souber de algo, a coisa vai ficar muito feia, ela será presa como cúmplice, as crianças podem ser mandadas para um abrigo e…Paro de falar quando o homem chora desesperado na minha frente, é uma cena depreciativa.— Está bem, pare de chorar, eu verei o que posso fazer, contanto que você suma logo depois disso.Todos se assustam com minha declaração, inclusive o chorão.— Sério, senhor?Olho para Erick e dou a ordem.— Mantenha ele no lugar secreto, vamos limpar essa bagunça direito.— Obrigado senhor, obrigado! — o homem diz enquanto é levado de volta para van.Ignoro Carlos e os outros, vou até a van que está as pessoas de minha confiança.— Com certeza vão atrás da família dele. — Um dos rapazes disse. — O que faremos?— Como eu disse, temos que limpar a bagunça e nem tem como culpar a polícia, dessa vez a mancada foi nossa. — Pego outro pirulito no meu casaco, abro e coloco na boca — vamos lá, tenho que colocar as coisas em ordem.Dou um sorriso e volto para o carro. Erick entra ao meu lado e guardo minha arma na mala.— Estou feliz que nem precisou usar isso.— Está com medo?— Eu sei como você fica quando está em ação.Dou uma risada. Era só o que me faltava.— Como eu fico?— Assustador, somos amigos há tempos e desconheço você. — Erick sussurra. — Sabe que entrei nisso por você, isso tudo sempre vai me assustar.— Mais do que estar na guerra?— Isso é uma guerra.— Sim, você pode pular fora quando quiser, não quero te obrigar a ficar aqui.— Eu vou ficar, merda, você é meu melhor amigo e te considero um irmão. Não vou deixar você.— Isso é bom. — Dou um sorriso. — E eu vou te proteger também irmão. Fique tranquilo.— Eu sei disso, consigliere.Um sorriso se forma em meus lábios e minhas covinhas aparecem, ele finalmente me chamou pela a hierarquia na qual pertenço dentro da máfia. O Consigliere, o braço direito do Don da máfia.Fecho os olhos e tiro um cochilo até chegar em casa, deixando minha mente limpa por hora.