— Oh, meu Deus! É claro que aceito me casar com você! — sussurro em frente ao espelho, tentando parecer natural. — Não. Está muito forçado.
Tento de novo, dessa vez colocando a mão no peito, como se estivesse emocionada. O resultado é o mesmo: completamente artificial. — Droga, já está na hora de voltar do almoço — murmuro, pegando minha bolsa antes de sair do banheiro. Quando entro na minha sala, Melissa está me esperando com algumas pastas nas mãos. — Você demorou, hein — minha amiga resmunga, colocando os papéis sobre a mesa. Então me encara. — Você está… diferente hoje. O que aconteceu? Me sento na cadeira, fingindo mexer nas pastas enquanto seguro um sorriso bobo. Como contar isso sem parecer uma completa boba apaixonada? — Hoje estou completando três anos de namoro — respondo, sorrindo. — Três anos de namoro com seu namorado invisível. Estou começando a achar que ele nem existe, por isso nunca nos apresentou. — É claro que ele existe, Mel — reviro os olhos. — Só é… discreto. Além disso, ele finalmente vai me pedir em casamento hoje. — Pedido de casamento? Mas isso não deveria ser uma surpresa? Como você sabe disso? — Porque… encontrei o recibo de um anel no bolso dele — respondo, sorrindo ainda mais. — Estamos completando três anos hoje. Não é coincidência. — Com certeza não — ela murmura, finalmente sorrindo, e aponta para os papéis. — Ann, entregue isso ao Sr. Hartwell, por favor. — Considere feito, Mel. — Ah, e não esquece de me contar tudo amanhã — pede, abrindo a porta. — Quero fotos! Assinto com um sorriso bobo, observando-a sair da minha sala. Meu estômago revira de ansiedade. Preciso manter a normalidade ou o Robert vai perceber que descobri a surpresa antes da hora. Quando o relógio marca 17h, eu quase pulo da cadeira. Pego minhas coisas para sair, mas, ao andar pelo corredor, interrompo os passos. Uma mulher está sentada na recepção, passando a mão na barriga redonda, bebendo água enquanto parece procurar alguém. — Posso te ajudar em alguma coisa? — pergunto, tentando ser educada. Ela se levanta de repente, batendo a barriga na mesinha. — Você é Ann Sterling? — questiona, com a mão na cintura, destacando ainda mais a barriga de grávida. — Sim, sou. De repente, ela dá um passo à frente e sua fisionomia muda completamente, fica… raivosa. A água em sua mão atinge meu rosto como um tapa. — SUA VAGABUNDA! VOCÊ DESTRUIU MINHA FAMÍLIA! SEDUZIU MEU HOMEM! NÃO TEM VERGONHA? Na mesma hora, funcionários que passam pelo corredor param para assistir à cena. Meu rosto queima de vergonha. — Eu não seduzi ninguém! — respondo, tentando manter a calma. — Nem sei quem é seu… homem. — DEIXA DE SER MENTIROSA, VADIA! — ela grita. — VOCÊ SEDUZIU O ROBERT, MEU NAMORADO! Furiosa, ela desbloqueia o celular e quase esfrega na minha cara. Meu estômago revira quando vejo a foto na tela. Robert, abraçando essa mulher no terraço da casa dele. Usando o pijama que comprei para ele. — Robert disse que você é só um passatempo — ela diz, com um sorriso malicioso. — Que você nem sabe que ele odeia bolo de carne! — Isso é… mentira! Namoramos há três anos! Ele já comprou um anel, vai me pedir em casamento hoje! — tento me defender, mas por dentro já estou completamente destruída. — Anel? Está falando desse anel? — Ela levanta a mão, exibindo o diamante que acabei de perder. — Ele me pediu em casamento ontem, depois que descobri sobre você! Os murmúrios começam ao meu redor. O som inconfundível de celulares gravando a cena só piora tudo. — A Ann é mesmo uma desavergonhada — alguém sussurra. — É. Seduziu o Sr. Hartwell, que já tem outra e até será pai — responde outro. — Eu teria vergonha disso. — Aposto que só conseguiu o cargo porque dormiu com o chefe — comenta um terceiro. — Eu achava que a Ann tinha caráter. Engulo em seco. As desculpas, os fins de semana que ele “precisava trabalhar”… Tudo faz sentido agora. Um sentido cruel e devastador. — Vem, Ann. Melissa agarra minha mão e me puxa para longe daquele pesadelo. — Seu namorado é mesmo o nosso chefe, Ann? — ela pergunta assim que as portas do elevador se fecham. — Era por isso que ele não te assumia, claro. — Por favor… — sussurro entre lágrimas. — Não me julgue também. Isso está errado. Ele… ele não mentiria para mim. Pego o celular com os dedos trêmulos e tento ligar. Uma, duas, dez vezes. Nada. Ele não atende. — Desiste, Ann — Melissa diz, olhando para o celular. — O Sr. Hartwell saiu pouco antes daquela mulher aparecer. O que você vai fazer agora? — Eu… não sei — murmuro, a voz falhando. As lágrimas voltam a cair sem controle. Meus ombros se contraem com os soluços enquanto começo a andar pela calçada. Melissa me acompanha, tentando me acalmar, mas a voz dela soa distante. Embaçada. Então, meu celular toca. Desesperada, pego o aparelho, acreditando que é Robert. Mas não é. — Ann Sterling? — uma voz feminina pergunta assim que atendo. — S-sou eu. — Devido ao escândalo de hoje, você está demitida — ela diz, seca. — Não podemos manter uma funcionária que mancha a reputação da empresa dormindo com homens comprometidos. — Mas… você não pode fazer isso. Eu preciso desse… — Estou te avisando, não negociando. Ela encerra a chamada sem dar tempo de resposta. — Era o Sr. Hartwell? — Melissa pergunta, esperançosa. — Não. Era o RH. Fui demitida. — Mas isso é um absurdo! Você nem fez nada! — Preciso ficar sozinha, Mel — murmuro, tão baixo que nem sei se ela me ouviu. — A gente se fala depois. Nem espero pela resposta. Simplesmente a deixo para trás e continuo andando, com a blusa ainda molhada, o rosto inchado e o coração em pedaços. Quando me dou conta, estou em frente a um bar. O letreiro em neon brilha diante de mim, me fazendo hesitar. Nunca fui de beber. Robert sempre dizia que mulheres bêbadas eram “patéticas” e “sem classe”. Mas o traidor também dizia que me amava. O que mais pode acontecer hoje?