Capítulo 19 – A Corte dos Enraven
O salão dourado sempre me pareceu maior do que precisava ser. O teto abobadado, sustentado por colunas ornamentadas, exibia os brasões das Casas do Império como se cada refeição fosse, em si, um ato político. Os candelabros encantados pairavam sobre nossas cabeças, derramando luz cálida sobre a longa mesa de ébano, polida a ponto de refletir não apenas os pratos, mas também cada olhar lançado.
Havia apenas três lugares ocupados naquela imensidão. Eu, o imperador e a imperatriz. E, mesmo assim, o ar parecia saturado.
Meu pai, Stefano Enraven, cortava a carne no prato com movimentos calculados, como se cada lâmina fosse um prolongamento da sua autoridade. Tinha o porte de um homem que fora moldado para governar — ombros largos, barba bem cuidada, e um olhar que, embora ainda firme, trazia as marcas de anos negociando com inimigos que vestiam coroas. Hoje, porém, havia algo mais pesado em suas feições. Um cansaço que ele jamais admitiria em voz alta.