Sentada na rede, ajeitou os cabelos com os dedos, tentando se recompor. Lembrou-se do copo de água e o pegou do chão ao lado da rede. Caminhou lentamente até a cozinha.Colocou o copo na pia com cuidado e foi então que percebeu uma fruteira de madeira sobre a bancada, cheia de frutas frescas. Pegou uma banana e comeu. Estava tão madura e doce que, ao terminar, pegou outra sem pensar. Só então percebeu o quanto estava com fome. A falta de apetite dos últimos dias começava a dar lugar a uma necessidade física que seu corpo não conseguia mais ignorar.Abriu a geladeira à procura de algo mais. Seus olhos pousaram sobre uma garrafa de iogurte de morango. Serviu-se em um copo pequeno e bebeu devagar, sentindo o sabor doce e suave invadir a boca. Fechou os olhos por um segundo. Aquela simplicidade lhe trouxe uma sensação estranha de conforto.Passou a mão no ventre, como se buscasse ali um pouco de força, um pouco de coragem. E encontrou.Levantou a cabeça. Era hora de ir até ele.Decidida,
Celina o olhou nos olhos, profundamente. As lágrimas caíam sem controle.Thor soltou seus braços e se afastou.— Eu tenho culpa. Por não ter resolvido minha vida com Isabela antes de me envolver com você. Errei. Devia ter proibido o livre acesso dela à minha cobertura antes de te levar pra lá. Mas eu queria ficar mais tempo com você. Porque eu não estou brincando de casinha, Celina.Ele fez uma pausa, respirando fundo.— Errei por ter transado com Isabela sem preservativo. E agora ela tá grávida. Ela soube muito bem como me prender com isso. Sim, o casamento tá marcado, mas tudo por interesse familiar. Eu não tive escolha... até te conhecer.Thor deu um passo à frente.— Estou aqui reconhecendo meus erros pra você. Mas você... você colocou a cabeça pra funcionar? Porque no jantar, eu estava com você. O tempo todo. E por fim, fui pro quarto resolver minha vida, porque você é minha prioridade. E o que você fez?Celina soluçou.— Amor... me perdoa. Mas se coloca no meu lugar. Eu fiquei n
Thor subiu as escadas em silêncio. Cada passo ecoava no corredor como um lembrete de tudo que estava acontecendo, tudo que estava por vir. Ao chegar no quarto, encontrou Celina já dormindo, envolta pelos lençóis brancos, o rosto sereno sob a luz tênue do abajur.Ficou ali, parado na porta, observando-a.Seu peito apertava. O desejo de deitar ao lado dela, de esquecer tudo e apenas sentir... era quase irresistível. Mas ele não podia. Não daquela forma.Tirou os sapatos, com movimentos lentos. Depois, foi se desfazendo da roupa, peça por peça, como se precisasse se libertar de mais do que apenas tecido.Entrou no banheiro e ligou o chuveiro. A água quente escorreu por sua nuca, pelo pescoço, descendo até as costas. Ele baixou a cabeça, apoiando as mãos na parede fria.Ficou ali, imóvel, lutando para silenciar a confusão na mente, o aperto no coração.Então, sentiu.Duas mãos pousaram suavemente em suas costas. Ele não se virou, mas fechou os olhos ao reconhecer o toque.Celina.Ela enco
O silêncio cortante da manhã foi o primeiro golpe que atingiu Celina ao despertar. Não era apenas a ausência de som — era a ausência dele. De novo. O lençol de cetim, frio e intacto ao seu lado, gritava uma verdade que ela já não conseguia mais ignorar: César não havia voltado para casa. E aquilo se repetia há meses. Com os olhos ainda grudados pela noite mal dormida, ela permaneceu imóvel, encarando o teto branco do quarto gigantesco que mais parecia um palco abandonado. A mansão, imponente por fora, era agora uma prisão dourada por dentro. O luxo dos móveis, as obras de arte nas paredes, os arranjos de flores perfeitamente trocados pelas mãos das funcionárias... tudo era supérfluo diante do vazio que consumia seu peito. Ela se sentou devagar, com um nó apertando a garganta. Os pés descalços tocaram o chão gelado. O eco dos seus próprios passos, enquanto caminhava até o closet, parecia zombar da solidão que a rodeava. Parou diante do enorme espelho e se encarou. O reflexo a fez pre
Celina viu aquele abdômen definido e musculoso reluzindo com os respingos d’água. Ela não conseguiu evitar o olhar. Ele era bonito. Bonito demais para a situação em que estava. E aquilo... aquilo era estranho. Ela se levantou, ainda atordoada, e notou o ombro dele avermelhado. Deu um passo em sua direção, preocupada, mas tropeçou no pé de uma mesinha antiga no quarto. Antes que pudesse cair, ele a segurou com firmeza. Os olhos escuros dele a observaram com atenção, estudando cada detalhe do seu rosto. Celina o encarou por alguns segundos. Havia algo naquele homem que a intrigava. Um magnetismo silencioso e perigoso. Talvez fosse a bebida. Talvez o desespero. Então, ele a beijou. Um beijo possessivo, intenso, como se quisesse devorá-la por inteiro. O clima entre os dois esquentou, e Celina correspondeu. Queria aquele momento tanto quanto ele. Ela interrompeu o beijo, ofegante. — Isso não pode acontecer... é loucura. Eu nem sei quem você é. Nem o seu nome... — Também não
Celina estacionou o carro na garagem da mansão e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo. As mãos ainda tremiam no volante, e sua mente estava um turbilhão. A noite anterior parecia um borrão, um sonho — ou talvez um pesadelo. Desceu do carro com passos incertos e entrou na casa em silêncio. A mansão estava mergulhada na escuridão, apenas algumas luzes de presença iluminavam discretamente o caminho até o quarto. Subiu as escadas devagar, o coração acelerado. A cabeça martelava, reflexo da bebida e da madrugada intensa que tivera. Quando empurrou a porta do quarto e entrou, encontrou tudo escuro. Suspirou aliviada, pensando que poderia deitar e tentar esquecer tudo. Mas então, um clique suave ecoou no ambiente. A luz do abajur ao lado da poltrona foi acesa, e Celina conteve um grito ao ver a silhueta de César sentado ali, à sua espera. Os olhos dele estavam sombrios, o rosto rígido, uma expressão de puro ódio. — Onde você passou a noite? — a voz dele cortou o silêncio co
Sentado atrás da enorme mesa de mogno, olhando-a com um misto de surpresa e divertimento, estava ele. O mendigo, o morador de rua. Os olhos dele, agora friamente calculistas, a encararam com um leve toque de diversão — quase desdém. Havia algo de diferente nele agora… não apenas o terno perfeitamente alinhado, ou o corte de cabelo impecável. Era o modo como ele a olhava. Como se tivesse vencido algum tipo de jogo que ela nem sabia que estava jogando. — Senhorita Bernardes… — ele murmurou, cruzando os dedos sobre a mesa. — Que coincidência interessante. Celina engoliu em seco, tentando disfarçar o choque. O que ele estava fazendo ali? Mais importante: o que ele sabia sobre ela? Celina ainda sentia o impacto da surpresa enquanto se sentava na cadeira de couro à frente da enorme mesa de mogno. O choque de o encontrar naquele escritório luxuoso, o homem daquela noite, o mendigo, a deixou sem palavras por alguns instantes. Ele estava ali, à sua frente, como seu possível chef
Celina virou-se vendo uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar. — Que saudade, amor! Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam as alianças douradas. Thor levantou-se da cadeira com uma expressão fechada, passou por Celina sem dizer uma palavra e seguiu Isabela até o corredor. Celina permaneceu sentada, com o coração disparado e um nó se formando em sua garganta. No lado de fora, a voz ríspida de Thor ecoou, ainda que ele tentasse conter a irritação: — Isabela, já falei que não quero interrupções no meu trabalho. Isso é inaceitável. — Você está levando isso a sério demais, amor — ela respondeu, emburrada. — Eu só queria te ver. — Não é o momento. Vá para casa. A gente se fala depois. Isabela revirou os olhos. — Deixa de ser chato, amor. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, disse: — Porra Isabela, já falei e não vou repetir novamente, vai pra casa agora. Isabela bufou, cruzand