O silêncio da casa era tão absoluto que podia ouvir o leve zumbido da geladeira.
Foi até a poltrona próxima à parede de vidro. Abriu a cortina com um movimento lento, e a cidade lá embaixo, apareceu diante dela, iluminada pelos faróis dos poucos carros que cruzavam as avenidas. A madrugada tinha aquele tom meio azulado, frio, mas ao mesmo tempo acolhedor.
Ela ergueu os olhos para o céu, que mal se via entre os prédios, e sussurrou:
— Eu sei que disse que o Senhor não existia quando minha vida virou do avesso… — fechou os olhos por um instante, respirando fundo — me perdoa por isso. Hoje eu entendo porque meu filho veio no momento em que eu não queria. Obrigada pela vida dele, pelo meu casamento…
Um sorriso torto escapou, o lado “doidinha” surgindo mesmo na oração improvisada.
— Eu sei que estamos morando juntos, que já pequei bastante, meu Deus, e que pecado bom… — suspirou, quase sorrindo — desculpe, Deus, mas meu marido é um gostosão. Jesus, que homem… e eu virei uma pervertida. Ser