Marta acorda com o corpo moído, como se tivesse apanhado da vida por dentro e por fora. Cada músculo dói, mas nada se compara ao que arde por dentro, a alma em frangalhos, em pedaços tão pequenos que ela sequer sabe por onde começar a juntar.
O quarto do hotel é simples, limpo, sem luxo algum, mas com dignidade. O travesseiro ainda tem o cheiro do sabão barato dos lençóis, e isso de alguma forma a acolhe. Um cheiro que não pertence a ninguém além dela mesma. Pela primeira vez em muito tempo, está sozinha, completamente sozinha e, paradoxalmente, isso a fere e a liberta.
Ela se senta na beira da cama. Encarar o chão já exige esforço. Encarar o dia, então, parece um desafio imenso. No canto do quarto, a mala ainda meio aberta guarda as roupas. Uma parte dela quer deitar de novo, fechar os olhos e sumir do mundo. Dormir por dias, semanas, meses. Desaparecer até não sentir mais nada.
Mas ela não vai.
Ela respira fundo. Fecha os olhos. Uma. Duas. Três vezes.
Não dessa vez.
Com lentidão, le