Desejos desbloqueados com sucesso

Capítulo 2 – Desejos desbloqueados com sucesso

Saindo do restaurante, cheia de compras, segui para casa com a intenção de aproveitar o resto do dia para organizar como seria a minha semana.

Organizei as embalagens e verifiquei se seriam suficientes para as entregas da semana. Conferi os produtos e ingredientes em estoque, chequei as bandejas, formas e utensílios que eu tinha ou precisaria utilizar. Para minha alegria, não precisaria gastar com novas compras, conforme as encomendas recebidas e as entregas previstas.

Meu portfólio de doces foi criado com base nas referências da infância, da família e dos sabores mais consumidos no Centro-Oeste. Era uma mistura de ingredientes simples, caseiros, com uma pitada de insumos da atualidade.

Após toda a organização e planejamento da semana, comecei a pensar na encomenda especial feita pelo Sr. King — e nenhuma ideia surgiu. O peso de criar um doce autoral para uma das maiores franquias do ramo das cafeterias caiu sobre os meus ombros. Eu entendia que qualquer esforço tradicional que eu fizesse não seria suficiente para criar um doce com as características especiais que a oportunidade e a ocasião pediam.

Então eu pensei, pensei e pensei mais um pouco. Cheguei à conclusão de que precisaria fazer um estudo de campo sobre a empresa, os ingredientes e os sabores. Sabia que a Janete trabalhava até as 18h e peguei o telefone para contatá-la. O telefone tocou duas vezes, uma pessoa atendeu e disse que iria chamá-la. Janete atendeu e falou que já estava quase saindo, mas poderia me atender.

Comecei explicando o motivo do meu contato e perguntei se seria possível fazer uma pesquisa de campo na loja sede por três dias. Janete adorou a ideia e informou que os melhores dias para esse tipo de visita seriam terça, quinta e sexta. Pediu que eu procurasse o Matias, que já estaria informado sobre o meu pedido.

O cansaço do dia pesou e estava difícil manter os olhos abertos. Mas eu ainda tinha uma missão: estudar por duas horas sobre cafés, suas nuances, diferenças e sobre a mistura de café em doces. A tentativa foi em vão — o sono bateu, e em cinquenta minutos eu já estava dormindo.

No dia seguinte, despertei às 7h e corri para tomar aquele banho furioso. Só de pensar que poderia ver aquele Deus King Poderoso, já me pegava caprichando nos cuidados e perfumarias. Mas a garota aqui era básica, clean e soft em estilo. Caprichei nos cuidados de beleza e depois vesti minha calça básica Levis, blusa de alça preta e o velho e bom Adidas branco. Dá para usar em qualquer situação e mantém o visual soft como eu gosto. Na make, procurei apenas realçar a beleza, sem exagerar ou mudar quem sou.

Já eram 8h30, e precisei sair para não perder a hora. Chegando à Café em Grãos, me apresentei no caixa e perguntei pela Janete.

O atendente a chamou, e Janete chegou pedindo que eu a acompanhasse até a cozinha.

Logo que entrei, avistei um rapaz jovem, de aproximadamente 24 anos, sorriso largo, aparência comum e ao mesmo tempo exótica. Aparentemente, uma pessoa bem-humorada e receptiva. Fomos apresentados, e Matias me recebeu com um abraço. Num primeiro momento, estranhei o abraço, achando inapropriado para o ambiente profissional. Mas logo entendi que esse modus operandi fazia parte da forma como ele tratava todas as pessoas — era apenas uma pessoa amorosa.

Meu intuito na primeira hora na cafeteria era degustar alguns itens do cardápio, sem conhecimento prévio da história ou informações sobre os ingredientes. Expliquei para a Janete que essa degustação tinha a finalidade de sentir os sabores sem a influência das informações que eu receberia depois. Janete ficou impressionada com o meu plano e não imaginava que eu fosse mergulhar tão fundo nessa oportunidade. Matias concordou na mesma hora e combinamos de nos encontrar em uma hora.

No salão de vendas, pedi três itens para iniciar a saga da degustação: um cappuccino com notas de hortelã, café coado com grãos especiais da casa e uma cheesecake de café com nozes.

Quando chegou, fiquei impressionada com a aparência simples e carregada de presença. Experimentei tudo que pedi e precisei me controlar para não ficar com a cara boba de satisfação estampada.

Antes de terminar, percebi que o meu King do Café, Sr. Gabriel, estava entrando no salão, acompanhado de três beldades que pareciam ter saído direto de uma novela da Globo. Estavam na beca, cada uma com seu Louboutin, bolsas Prada e Louis Vuitton. Na mesma hora, tive a certeza de que eu jamais teria uma fagulha de chance com aquele cara. As mulheres que o cercavam tinham infinitamente mais beleza que eu. Mas isso já era sabido — aquele cara era só para admirar. E até o dia em que admirar continue sendo grátis, seguirei admirando.

Me encontrei com Matias no horário combinado, e ele me convidou para começarmos a visita guiada pelo salão de vendas. Antes de iniciarmos, pediu que eu vestisse as roupas apropriadas para circular pela cozinha e demais dependências internas da empresa, que possui um elevado padrão de higiene e qualidade.

De forma muito estruturada, Matias iniciou contando sua trajetória profissional, que incluía o início como jovem aprendiz aos 14 anos, após um convite do Gabriel para que ele pudesse aprender sobre o mercado de trabalho e, depois, assumir uma posição diferenciada na empresa.

Começou no estoque, seguiu para auxiliar de cozinha, atendente de balcão, caixa de loja, gerente de franquia e, atualmente, ocupa a posição de supervisor de franquias. Seu endereço fixo de trabalho era na loja sede da cafeteria Café em Grãos, mas as visitas e inaugurações de novas lojas eram constantes.

Seguimos para as cafeteiras e estufas, e Matias contou a história do café na família, a produção, os testes, as diferenças e tipos de cafés, os equipamentos e a inspiração para o cardápio doce e salgado.

Deu uma verdadeira aula inicial, e eu engoli cada palavra que ele falou. Minha vontade era fazer algumas perguntas sobre o Sr. Coffee, mas isso seria demais para a minha cabecinha e iria me desconcentrar.

— Não é hora para isso, Júlia. Dá uma segurada e não mistura as coisas — disse a voz adulta na minha cabeça.

Mas tinha uma voz quinta série falando também. A voz quinta série dizia coisas do tipo:

— Pergunta logo! Descobre as intimidades desse God do cafezal! Alimenta esse desejo de saber mais sobre ele! Só se vive uma vez!

Perdida nesse embrolho entre ser adulta ou quinta série, ouvi a Janete me chamando.

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