Mundo de ficçãoIniciar sessão
Londres, dezembro de 2015
— Vem, Gabriel, o pessoal já está nos aguardando, cara! Agiliza aí, irmão — meu amigo Mike me apressa para nos encontrarmos com nossos amigos em um bar na Covent Garden, em Londres. Resolvi sair de férias com alguns amigos durante o recesso de fim de ano.
— Não enche, Mike, temos a noite toda. Me deixa só retornar à ligação para o meu velho, senão vou ter que ouvir um sermão dele por não dar notícias.
— Falou o filhinho do papai — ele j**a um travesseiro em mim ao dizer isso e se j**a em uma das camas disponíveis em nosso quarto de hotel. — Quando é que você vai parar de dar satisfação ao seu pai por tudo o que faz, Gabriel? Você já tem 22 anos, cara! — pergunta ele, debochando da minha cara.
— Dá um desconto pro meu pai, Mike. Depois do acidente da mamãe, ele se tornou muito protetor. Todo aquele processo de tratamento, internado em hospitais, não foi fácil para nenhum de nós — tento justificar as ações do meu pai.
— Claro, irmão, não tinha pensado por esse lado.
— Avisa ao Alex que já estamos a caminho, pra ele não pegar todas as garotas — peço, rindo, enquanto faço a ligação para o meu velho. — Oi, pai...
— Nossa, Gabriel, não faz isso comigo, meu filho — diz meu pai assim que atende.
— Desculpa, pai. Ficamos passeando quase o dia todo e, quando chegamos, fui descansar um pouco. Acabei esquecendo de te ligar pra dizer que está tudo bem — tento tranquilizá-lo.
— Que bom que estão se divertindo. Só toma cuidado e evita bebidas em excesso. Pega leve, está bem? — aconselha ele com o cuidado de sempre.
— Não se preocupe, pai. Sabe que não costumo beber muito, e quando faço isso é só pra fazer média com os caras — sorrio enquanto falo, olhando para o Mike, que me j**a o travesseiro novamente, e eu desvio dele.
— Tudo bem, filho. Só mais uma coisa — ele faz uma pausa, e já imagino do que se trata. — É sobre a nossa ceia de Natal, Gabriel. Você precisa estar presente dessa vez, por favor, filho.
— Pai, você sabe que isso não vai funcionar — digo, sentindo o mesmo pesar de sempre. — O senhor sabe como fica o clima quando me reúno com vocês. Não quero contrariá-lo, mas é difícil lidar com o Logan e a Abigail.
— Sim, eu sei. Mas pensa com carinho, está bem? — percebo a tristeza em sua voz.
— Não quero que gere expectativas, pai, mas vou pensar sobre isso. Agora vou sair um pouco com meu amigo. Te ligo amanhã ou mando mensagem. Te amo, pai. Fica bem.
— Você também, filho. Eu também te amo. Seja prudente e não beba muito — e encerra a ligação.
Saio do hotel com o Mike e encontramos nossos amigos, muito animados nos bares mais badalados de Londres. Todos éramos universitários em férias, em busca de momentos de distração e descontração. Em certo momento, resolvo ir ao banheiro. No caminho, observo uma garota próxima ao balcão do bar. Ela é linda, parece meio deslocada. Será que está sozinha aqui? Não consigo deixar de olhar para ela. Seus cabelos longos e ruivos, sua pele clara... ela parece um anjo. Me aproximo mais um pouco e fico ainda mais encantado com o que vejo. Ela tem lindos olhos verdes, parecem grandes esmeraldas. Estatura pequena e delicada.
Passo por ela e sigo em direção ao banheiro. Nossos olhos se encontram, e tive a sensação de que tudo ao nosso redor parou. Eu parecia andar em câmera lenta. Consegui chegar até o meu destino e, ao abrir a porta, me deparei com um casal transando ali.
— Sai daqui imbecil! — gritou o homem para mim. — O banheiro está ocupado, não está vendo, idiota?
— Calma aí, cara! Só acho que deveria aproveitar sua namorada em outro lugar. Vê se tranca a porta pra não expô-la tanto assim — digo, enquanto saio e os deixo lá.
Sigo em direção ao bar para ver se meu anjo ainda está lá, e logo vejo um homem importunando-a. Ela parece não gostar da insistência dele, mas o imbecil não se toca. Resolvo me aproximar.
— Que bom que te encontrei, querida! — digo e dou um beijo rápido em sua bochecha.
Ela fica surpresa com minha atitude e me olha assustada. Dou um olhar rápido para o homem que a incomodava e olho para ela novamente, tentando convencê-la de que estou ali para ajudá-la. Ela compreende e dá um sorriso tímido. E que sorriso!
— Ah, pensei que não viria mais. Já estava até querendo ir embora — ela entra na encenação.
— Desculpe, amigo, mas acho que esse lugar está ocupado — me dirijo ao homem, que fica contrariado com minha interferência e sai resmungando.
— Me desculpa por ter chegado assim, tão invasivo, mas percebi que ele estava sendo muito inconveniente e resolvi tentar ajudar — falo, enquanto olho para aqueles olhos que me enfeitiçam.
— Não precisa se desculpar. Eu que tenho que agradecê-lo por me ajudar com aquele homem tão inconveniente — ela fala, também me olhando nos olhos, parecendo hipnotizada.
— Aí, idiota, o que faz aqui com minha namorada? — ouço alguém falando atrás de mim e me viro, dando de cara com o mesmo homem que encontrei no banheiro, agora acompanhado da moça com quem estava.
Olho para os dois e depois para a garota que me arrebatou por alguns instantes. Ela me olha constrangida; a outra garota está com um riso debochado, enquanto ele vai para o lado do meu anjo, me encarando, aguardando minha resposta por estar ali.
— Me desculpa, eu...
— Dá o fora, imbecil — o playboy me corta. — Vai procurar outra, que essa já tem dono. — Ele abraça a ruiva, enquanto ela abaixa a cabeça com aparente constrangimento.
Saio dali com a certeza de que nunca mais vou esquecer aqueles olhos esmeraldas e o rosto daquela garota. Saber que ela namora um babaca que estava traindo-a no banheiro com a outra garota — que possivelmente é amiga dela — me revolta e me deixa ainda mais convencido de que algumas mulheres gostam mesmo é dos mal caráteres.







