Everton Narrando
Se Priscila acha que vai se livrar de mim tão fácil assim, está muito enganada. Eu sei que estou mexendo com as emoções dela, eu sei que ela não vai me esquecer, e eu não vou deixar isso acontecer de novo. Não vou ser descartado dessa maneira, não depois de tudo que passamos, de tudo que eu senti por ela. Não é fácil, nem para ela nem para mim, mas agora é pessoal. Eu a vi indo embora, a vi fechar aquela porta, e algo dentro de mim me dizia que era a última vez que eu iria ver a Priscila daquele jeito. Ela estava se afastando, se guardando, e isso me deixava ainda mais determinado a fazer o que fosse preciso para deixá-la entender que eu não sou mais o mesmo. Que o Everton de antes, aquele que a deixou ir, não existe mais. Eu mudei. E se ela quiser me afastar, vai ter que lidar comigo de outra maneira. Mas antes de resolver isso com ela, preciso entender o que está acontecendo com Sophie. Eu sabia que ela estava voltando a fazer das suas, mas agora ela foi longe demais. Fui até a loja onde Priscila trabalha, mas não entrei. Não fui pra mexer com ela naquele momento. O que ela disse ficou martelando na minha cabeça. Ela quer distância, e eu, por um tempo, vou dar. Mas eu preciso saber de uma coisa: por que a Sophie foi lá? O que ela queria com a Priscila? Ela sabia que isso iria afetá-la. Sophie nunca faz nada sem um motivo. E se ela estava ali, foi porque queria algo. Agora, Sophie não vai sair impune dessa. Eu não gosto de ser provocado. E se ela acha que pode sair afrontando a Priscila dessa forma, ela está muito enganada. Eu estava no meu escritório, a mente focada em mais uma noite de trabalho, quando o celular vibrou na minha mesa. Era Sophie. Não que eu estivesse surpreso, ela sempre tem um jeito de aparecer quando quer chamar atenção. Eu respirei fundo e atendi. — Então, Sophie, o que você estava fazendo na loja onde a Priscila trabalha? Me explique. A resposta dela veio com um riso baixo, aquele sorriso de quem se sabe no controle. — Você sempre foi tão fácil de ler, Everton — ela disse, com um tom provocador. — Eu só queria ver como ela reagiria. E, bem… parece que funcionou. Ela não parece muito feliz com a sua visita, né? Eu revirei os olhos, já irritado. Eu já sabia que ela estava se aproveitando da situação. Sophie gostava de me ver perdido entre o que eu sentia por Priscila e o que queria dela. — Você acha que isso é engraçado? — perguntei, tentando manter o controle. — Porque, sinceramente, não estou achando. — Oh, não me faça de vilã, Everton. Eu só estava me divertindo um pouco. E, acredite, se você quiser jogar esse joguinho com a Priscila, eu vou adorar ver como você vai lidar com isso. Sophie estava se achando demais. E isso me irritava ainda mais. — Escuta aqui, Sophie. Você pode fazer o que quiser, mas não vai interferir mais na minha vida. E nem na dela. Eu vou resolver isso à minha maneira. Então, se você tem algo a dizer, fala agora, porque depois não vai ser tão fácil assim. Ela riu de novo, dessa vez com mais diversão, como se tivesse o controle de tudo. — Claro, querido. Vai lá resolver, então. Só não se esqueça de que, no final, o que você sente por ela não vai mudar nada. Eu conheço você bem demais para saber como isso vai terminar. E eu vou estar por aqui, só esperando. Eu desliguei, já irritado. Não ia perder meu tempo com Sophie agora. Eu tinha mais coisas a resolver. E a principal delas era a Priscila. Ela pode estar tentando me afastar, mas eu não vou deixar ela fugir novamente. Agora, preciso voltar a minha atenção para o que realmente importa. Sophie vai ter que aprender que ninguém mexe com a minha vida sem consequências. E Priscila... bem, ela vai entender que, dessa vez, eu não estou indo embora. Depois de desligar o telefone, fiquei olhando fixo para a tela por alguns segundos. O silêncio no meu escritório era cortante. Sophie tinha mexido em um vespeiro e sabia disso. Ela jogou sujo, como sempre fez, e Priscila acabou levando a pior por algo que ela nem provocou. Isso me corroía por dentro. Não era assim que eu queria que as coisas acontecessem entre a gente. Passei as mãos no rosto, tentando organizar meus pensamentos. Eu precisava pensar com calma. Não podia simplesmente aparecer na frente da Priscila de novo e esperar que ela me recebesse de braços abertos. Não depois do que aconteceu hoje. Ela estava certa em se proteger, em querer distância. Ela tem um filho, uma vida nova, e eu, sinceramente, entrei naquilo como um furacão sem nem pensar duas vezes. Mas agora... agora era diferente. Eu queria ela. Não só o corpo, não só a lembrança dos nossos beijos ou do tempo que vivemos juntos. Eu queria fazer parte da vida dela de novo. Eu queria saber como ela toma o café, como ela penteia o cabelo pela manhã, se ela canta no chuveiro. Eu queria fazer parte da rotina, dos dias bons e dos ruins. Só que, antes de qualquer coisa, eu precisava pedir desculpas. Pelas palavras não ditas. Pela bagunça que deixei no passado. E, principalmente, por Sophie. Ela não tinha o direito de ir até a loja onde Priscila trabalha. Aquilo foi baixo. E, de certa forma, foi culpa minha também. Eu deixei espaço pra ela agir. Talvez por não ter sido firme, talvez por ter demorado demais pra cortar de vez qualquer expectativa. E isso acabou respingando justo em quem não merecia. Priscila. A mulher que eu deixei escapar uma vez… e que, agora, eu faria tudo diferente pra não deixar ir de novo. Me levantei da cadeira e caminhei até a janela. Lá de cima, via as luzes da cidade piscando, movimentadas, como minha mente. Eu precisava planejar. Não era só sobre reconquistar. Era sobre mostrar que eu sou outro homem agora. Que ela pode confiar. Que, mesmo com o passado batendo à porta, meu futuro, se ela quiser, pode ter espaço só pra ela. Primeiro passo: me desculpar. Segundo: reconquistar. E dessa vez… do meu jeito.