6- Priscila

Priscila Narrando

Eu sabia que algo estava errado. A maneira como aquela mulher entrou na loja, como se fosse a dona do lugar, com aquele sorriso provocador e olhar de quem já havia vencido a batalha antes de começar. Cada palavra dela foi como uma agulha fincada, me fazendo questionar o que estava acontecendo. E, pior, como tudo o que ela dizia mexia comigo de um jeito que eu não queria sentir.

Mas eu não poderia demonstrar nada. Não na frente dela.

Eu sou gerente, certo? Sou a mulher que está controlando sua vida, suas escolhas, sua carreira. Eu não tenho espaço para ser vulnerável, para ser mexida por uma ex do passado, por alguém que já não faz parte da vida de Everton. Eu não posso ser fraca. Não posso.

Mas, caramba, como é difícil ignorar a provocação dela. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Não me bastava ser profissional e atender aquela mulher como qualquer cliente. Não. Ela precisava me tocar, me fazer lembrar de Everton de um jeito que eu não queria.

— Ele sempre disse que eu ficava maravilhosa de vermelho.

Aquela frase ecoou na minha mente como um grito. Como se ela estivesse jogando o passado na minha cara. Como se estivesse me dizendo que, no fundo, nunca estive à altura dela. Aquela mulher nunca precisou de mais do que a sua beleza e charme. Ela era... tudo o que eu não sou. Livre. Despreocupada. E, pelo visto, ainda tinha o poder de mexer com Everton.

Eu vi como ela me desafiou. Ela queria que eu reagisse. E, talvez por um momento, eu tenha dado a ela a satisfação de ver que eu me importava.

Quando ela saiu, não pude evitar de olhar pela vitrine, vendo-a se afastando pela rua. Minha cabeça estava uma bagunça. O que estava acontecendo? Como eu fui parar nesse jogo com ela? Eu já havia deixado o passado pra trás, ou pelo menos tentei. Agora, Sophie aparecia de novo, como um lembrete do que Everton e eu tivemos, como se quisesse mostrar que nada tinha mudado. Que ainda havia uma linha invisível entre nós, uma linha que ele não conseguia cortar.

Mas eu não vou ser a mulher que perde pra outra, que se entrega às memórias e aos fantasmas de um passado que já devia ter ficado pra trás.

Eu sou mais forte que isso. E não vou deixar aquela mulher me fazer perder o foco. Eu tenho que continuar minha vida, minha carreira, o que é melhor para o meu filho... e para mim mesma.

Mas o que eu realmente não esperava era sentir que, talvez, ainda houvesse algo, uma fagulha, uma lembrança de Everton que não se apagava tão facilmente.

Era o fim de mais um dia, a loja já estava fechada e as últimas luzes foram apagadas. Eu estava fazendo a limpeza rápida, tentando colocar a cabeça em ordem depois da visita de Sophie. Não podia negar, tudo o que aconteceu me abalou mais do que eu gostaria de admitir. Eu sabia o que ela estava tentando fazer. E eu sabia que estava caindo na armadilha.

Mas, quando estava quase saindo pela porta, o som da campainha me fez parar. Não precisava olhar para saber quem era. Aquele passo firme, aquela maneira de se mover, inconfundível.

Everton.

Ele entrou na loja, sua presença imediatamente preenchendo o ambiente. O modo como ele me olhou, como se tivesse vindo buscar algo. Meu coração disparou, mas tentei controlar. Não ia deixar ele ver que ainda me afetava, não agora.

— Eu… não esperava te ver por aqui — falei, tentando manter a voz estável.

Ele deu um sorriso, como se estivesse à vontade, como sempre. Eu podia ver que ele sabia que algo estava errado. Ele sempre soube. Sempre soube quando eu estava inquieta, quando as coisas não estavam bem. E, por um momento, me senti vulnerável demais.

Mas, eu já estava exausta demais para ficar dando voltas, para fingir que estava tudo bem. Sophie já havia feito o seu trabalho, e eu não ia dar mais espaço para ninguém, nem para ele. Não mais.

— Eu sei o que você está pensando — ele começou, aproximando-se com aquele olhar de quem queria se justificar, de quem queria me convencer de algo. — Sei que a Sophie te provocou e…

Eu interrompi. Não ia deixar ele ter a chance de falar o que quer que fosse. Não mais. Eu sabia o quanto ele me conhecia, mas eu também sabia o que precisava fazer.

— Não, Everton. Eu já sei o que você vai dizer. E eu não quero ouvir. — Respirei fundo, tentando manter a calma, mesmo que fosse difícil. — Hoje, eu vi a Sophie. E, sinceramente, não sei o que você quer de mim. Mas eu não quero mais esse tipo de problema na minha vida. Não com ela, não com você. Não quero ser envolvida em mais nada que me faça questionar o que eu estou fazendo aqui, o que eu construí.

Ele olhou para mim com uma expressão confusa, quase irritada. Mas eu mantive os olhos firmes. Não ia deixar ele se aproximar, não dessa forma. Eu tinha que ser forte. Para o meu filho, para mim mesma. Não era mais sobre ele ou sobre o que nós tivemos no passado. Era sobre o que eu sou agora. E eu não iria me perder por causa de ninguém.

— Priscila, você sabe que eu…

— Não, eu sei exatamente o que você vai dizer. Mas não vou mais me envolver em brigas de passado. Eu sou mãe, sou gerente, e estou cuidando da minha vida. Então, por favor, se afasta. Se afasta da minha loja. Da minha vida. Eu não quero mais problemas com você ou com ninguém.

Eu disse as palavras com mais firmeza do que imaginava ser capaz. Eu estava cansada de me fazer de forte. Agora eu era forte, verdadeiramente. Não por causa dele, mas por mim. Eu tinha que ser. Eu tinha que seguir em frente.

Everton me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando decifrar o que havia acontecido. Mas eu sabia. Ele também sabia que não havia mais nada entre nós. E talvez, por mais que ele tentasse lutar contra isso, ele também sentisse que o que restou de nós estava enterrado no passado.

— Eu não vou te forçar a nada, Priscila — ele disse, com um tom de resignação. — Se você quer me afastar, então eu vou embora. Só não se esqueça de que, no fundo, eu sempre estarei por aqui.

Ele virou as costas e, dessa vez, eu não o segui. Não o chamei. Fiquei ali, observando sua figura se afastando pela porta, com a sensação de que algo dentro de mim tinha finalmente se fechado.

Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim sentiu um vazio. E eu não sabia se era a despedida do que poderia ter sido, ou se era só o começo de uma nova fase em que eu teria que aprender a viver sem o passado, sem ele.

Eu estava sozinha. E, talvez, fosse a melhor coisa.

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