A Feira de Artesanato respirava vida em cada canto. O sol da tarde dourava as bancas de miçangas, transformando colares e pulseiras em cascatas de luz. Malú parou diante de uma barraca onde brincos de cerâmica pintada pendiam como frutos exóticos. Seus dedos tocaram um par azul-turquesa, lembrando as águas do Caribe que Dmitry uma vez descrevera.
Derick observou-a à distância, o sorriso dele um reflexo do encanto dela. Antes que ela percebesse, ele já pagara pelos brincos e surgiu ao seu lado, o calor do corpo dele quase tocando o dela.— Não são os brincos que brilham, Malú — sussurrou, prendendo delicadamente um deles em sua orelha. — É você que faz até o vidro parecer diamante.Malú sentiu o rosto incendiar, desviando o olhar para esconder o turbilhão de emoções. Olga e Rosa riram baixinho, trocando um olhar cúmplice. May, no colo de Olga, esticou as mãozinhas para agarrar uma boneca de pano vestida de renda — réplica perfeita das que Dmitry fazia paraMalú discou novamente, mas Ravi não atendeu. Em vez disso, uma mensagem seca apareceu: “Te ligo depois. Aproveite para conversar com seu ‘priminho querido’. Boa noite!” Ela cerrou os punhos, frustrada. — Que infantilidade, Ravi! Com ciúmes de Derick! — murmurou, mordendo o lábio para conter as lágrimas. Decidida, a pedir desculpas ao seu primo, ela abriu a porta do quarto, e no corredor, ela viu que Derick ainda estava parado, a sombra dele era alongada pela luz do abajur. Então se aproximou dele dizendo: — Desculpe por ter sido tão rude com você… Você tem razão: estou numa guerra. E não quero lutar sozinha, quero toda a minha família ao meu lado, inclusive você.Derick virou-se devagar, os olhos verdes brilhando sob a meia-luz. Então ele, observou ela ainda segurando o celular.— Tá tudo bem, agora? — perguntou, cruzando os braços. Malú apagou a mensagem com um movimento rápido, forçando um sorriso. — Sim, foi só… um mal-entendido. Ele riu, baixo, e aproximou-se até qu
Treze dias se arrastaram em um silêncio pesado.Malú estava dilacerada pela dor, sem coragem para buscar Ravi. Ele, mergulhado em culpa, mantinha distância. Seu plano com Gabriel precisava prevalecer — era a única forma de protegê-la, mesmo que isso significasse afundar seu próprio coração em gelo. A felicidade de ambos dependia de sua frieza. Dois dias depois, Viktor recebeu a notícia que aguardava: Ravi estaria em uma festa VIP em Gramado, no Rio Grande do Sul. A chance perfeita para capturá-lo. Após a proibição de Mikhail Kuznetsov de atacar a Fazenda dos Castellani, Viktor sabia que precisava agir nas sombras — sem deixar rastros da máfia russa. Mas a manhã trouxe consigo uma tempestade de caos. Uma ligação fez Viktor explodir em fúria, sua raiva ecoando como um trovão entre os homens. Sentado em sua cadeira de couro preto, ele apertava o celular com força suficiente para trincar a tela. Seus olhos, antes calculistas, incendiaram-se. — O quê?! — rugiu, erguendo-se de um
O vento cortante do inverno gaúcho chicoteou o rosto de Ravi assim que ele saiu do carro. Enfiou as mãos nos bolsos do casaco, os lábios tremendo sob o frio que parecia trespassar até os ossos. À sua frente, o Hotel Wish Serrano impunha-se como uma fortaleza de vidro e luz, suas linhas modernas contrastando com o céu cinzento e pesado de Gramado. No lobby, o calor do aquecimento central envolveu-o como um abraço, enquanto seus olhos percorriam o ambiente: lustres de cristal cintilavam sobre o mármore polido, flores exóticas exalavam um perfume doce e a música clássica ecoava suave, quase hipnótica. Ravi caminhou em direção à recepção, cada passo ecoando em meio ao silêncio elegante. — Seja bem-vindo, senhor Castellani — cumprimentou o recepcionista, com um sorriso treinado. Ravi assentiu, entregando o cartão de crédito sem perder o olhar vigilante. A chave do quarto 1005 brilhou em sua mão, fria e metálica. O elevador d
Assim que Gabriel baixou o celular ele voltou a vibrar como um alarme. Gabriel atendeu, a voz de tia Rosa explodindo em pânico: — Gabriel! Derick levou um tiro! Foi só no braço, mas… levaram a Malú! Ele quase deixou o aparelho cair. — Como assim? — rugiu, os dedos branqueando ao apertar o telefone. — Invadiram a casa… trancaram todos no quarto… Derick chegou na hora, mas… — Rosa engasgou em soluços. — Ela sumiu, Gabriel! Faz mais de uma hora! Gabriel encostou-se na parede, o coração batendo freneticamente. O mundo girava. Viktor. Só pode ser Viktor. — Merda. Merda! — golpeou a parede com o punho, mas a dor sequer chegou ao cérebro, ele precisava agir. Digitou freneticamente para Ravi, e a ligação foi atendida antes do primeiro toque: — Ravi, Viktor ele… — Já sei… — cortou Ravi, o sussurro tão gelado que quase congelou a linha. — Ele está aqui. Na festa. Com
A música ressoava pelo salão, envolvendo os convidados em uma atmosfera sedutora. Todos dançavam, riam, bebiam… menos Ravi e Malú, paralisados em seus próprios infernos. Helena, com um sorriso calculado e um vestido que parecia feito de sombras, aproximou-se dele: — Vem dançar — ordenou, os dedos fechando-se em seu braço com força disfarçada. Ele hesitou, os olhos fugindo para Malú, que observava tudo a alguns metros de distância. Mas recusar seria suspeito. Deixou-se levar, os passos mecânicos, enquanto o olhar permanecia grudado nela. Conforme os passos de ambos se sincronizavam, ela colocou as mãos suavemente em seu pescoço e inclinou-se para murmurar algo ao ouvido dele.Ravi virou-se abruptamente após as palavras de Helena e seu olhar cruzou com o de Malú novamente. Havia algo devastador na expressão dela – uma mistura de tristeza profunda e um medo que para Ravi parecia perfurar a sua alma. Seu coração apertou, e embora seus braços
Enquanto Ravi subia as escadas, a respiração ofegante ecoando no vazio do corredor… No salão abaixo, sete agentes disfarçados de garçons surgiram como sombras, posicionando-se ao lado de Helena. Em minutos, os homens de Viktor Petrova caíam um a um. Mas nem todos se renderam: dois fugiram para a cozinha, e o tiroteio explodiu em rajadas curtas e mortais. Helena, com o distintivo da Interpol erguido, gritou para a multidão aterrorizada: — Polícia internacional! Abaixem-se e fiquem imóveis! Um tiro raspou seu ombro, estilhaçando o espelho atrás dela. Sem piscar, ela apontou para dois agentes: — Kay, Marlon! Protejam os civis! Ninguém sai até meu aviso! Com um gesto brusco, ordenou ao resto da equipe: — Acabem com essa festa! — E avançou em direção à cozinha, os passos sincronizados com os tiros que ecoavam. Quando o último capanga de Viktor caiu, Helena sabia: o verdad
Naquele momento, Gabriel surgiu. A ventania gelada gerada pelo motor do helicóptero colava suas roupas ao corpo. A neblina reduzia a visibilidade a quase nada — só um louco como Viktor arriscaria voar naquele caos, pensou ele. Mas agora, aquela era sua única saída. Quando os olhos de Gabriel se ajustaram, avistou Malú e Ravi escondidos atrás de uma estrutura metálica. Ravi, com o braço esquerdo ensanguentado e o rosto pálido de exaustão, ainda mantinha os homens de Viktor sob fogo. O policial que o acompanhava jazia no chão, vítima de um tiro fatal. Do outro lado, Helena e dois colegas disparavam contra os capangas. Ela gritava por reforços, mas os policiais restantes estavam ocupados nos andares inferiores. Gabriel sabia que a ajuda demoraria — e Viktor tinha números a seu favor. Foi então que Viktor surgiu das sombras. Antes que Gabriel pudesse gritar, um tiro ecoou. Ravi caiu de joelhos, as mãos pressionando o peito.
Dois meses se passaram desde aquela noite fatídica em Gramado. O cenário sombrio da festa, a morte de Viktor e a turbulência emocional que se seguiu haviam deixado marcas profundas. Agora, porém, a calmaria começava a despontar no horizonte. Malú, Ravi e Olga — que há muito deixara de ser apenas a ex-babá de Malú para se tornar uma figura materna tanto para May quanto para ela — encontravam, enfim, paz na mansão de Ravi. A residência, com seus jardins amplos e atmosfera acolhedora, era um refúgio após meses de caos. Os dias seguintes à queda de Viktor foram marcados por depoimentos intermináveis, batalhas jurídicas e a luta para reconstruir o que fora destruído. Malú mergulhara de cabeça na recuperação de tudo o que pertencia a ela e a May por direito: a fortuna roubada por Viktor, às propriedades da família Petrova e a Zenit Motors, a renomada fábrica de carros que era o legado de gerações. O processo foi exaustivo. Malú viajava constantemente entre