Patrícia acordou com a sensação incômoda de quem percebe que algo importante está mudando.
Não era medo. Também não era entusiasmo puro. Era consciência. Aquela percepção nítida de que, ao permitir que alguém fique, a vida começa a pedir ajustes mais profundos do que simples vontade.
Miguel dormia tranquilo naquela manhã, o rosto sereno, o corpo pequeno totalmente entregue ao descanso. Patrícia observou por alguns minutos antes de sair do quarto. Aquele silêncio era raro. E precioso.
Na cozinha, Enzo preparava o café. O gesto era simples, quase automático, mas havia algo diferente no ar. Uma intimidade que já não precisava ser ensaiada.
— Dormiu bem? — ele perguntou.
— Dormi — Patrícia respondeu. — Mas acordei pensando demais.
Ele sorriu de leve.
— Isso costuma acontecer quando a gente para de fugir.
Ela apoiou-se na bancada, cruzando os braços, o olhar atento nele.
— Ficar não é confortável para mim — disse. — Nunca foi.
— Para mim também não — Enzo respondeu. — Mas é onde as coisas