Lorenzo Ferraz
Se meu pai descobrir que eu namoro com uma moça simples, que mora em uma comunidade bem pobre, com certeza ele vai declarar guerra. Não uma guerra simbólica, mas uma verdadeira batalha para separar a gente. Meu pai, o poderoso empresário Roberto Ferraz, não aceita menos que o "melhor" — ou o que ele considera ser o melhor. Mas Celina… Celina é tudo pra mim. Inteligente, linda, determinada. Ganhou uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas particulares de Santa Catarina. E não foi por sorte — foi por mérito. Pela força que ela tem. Pelo brilho que não se pode esconder. Eu tenho certeza que o céu é o limite pra ela. E quer saber? Ela é o meu céu. Eu não vou deixá-la. Não importa o quanto meu pai grite, ameace, ou tente me manipular. Eu amo a Celina. E isso basta. Claro, o amor é complicado. Principalmente quando envolve mundos tão diferentes como o nosso. Mas eu nunca fui como os outros caras da minha idade. Já tive minha fase de sair, de pegar geral, mas mesmo assim… sou virgem. E só um dos meus amigos sabe disso: Heitor, meu melhor amigo desde a infância. E ele me zoa, lógico. Me chama de freira, de santo, de estranho. Mas eu só sorrio. Porque ele não entende. Eu tive oportunidades. Muitas. Meninas lindas, dispostas, algumas quase se jogando em cima de mim. Mas algo em mim travava. Meu corpo simplesmente não reagia. Nenhum sinal de vida lá embaixo. Zero. E não era por falta de estímulo — era por falta de conexão. Elas queriam prazer, eu queria sentimento. Queria algo de verdade. Por muito tempo achei que havia algo de errado comigo. Cheguei a pensar em tudo: ansiedade, bloqueios, até problemas hormonais. Marquei psicólogo, fui a uma consulta. Me senti aliviado por finalmente falar sobre isso, mas ao mesmo tempo, envergonhado. É difícil ser um cara jovem e não sentir o que todos esperam que você sinta. Mas então… apareceu Celina. Foi como se tudo ganhasse sentido. O dia em que a vi, algo despertou. Meu coração disparou, minhas mãos suaram e, pela primeira vez, ele respondeu. Bastou um olhar dela pra que meu corpo inteiro gritasse por ela. Eu não era o problema. O problema eram as pessoas erradas. A Celina… Ah, meu Deus… só de pensar nela, meu peito aperta. Já estamos juntos há mais de um ano. E sim, ainda não transamos. Estou esperando ela completar 17 anos. Não quero correr riscos e, mais do que isso, quero que seja no momento certo. Ela é o amor da minha vida, e não quero que nosso primeiro momento seja escondido ou com medo. Mas não é fácil. O desejo é um fogo constante. Basta um beijo dela, um toque, um olhar mais intenso… e eu preciso de um banho gelado. Às vezes, quando está difícil demais, eu me resolvo sozinho em casa, pensando nela. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas até me masturbar virou algo emocional. Só ela consegue me deixar assim. Eu queria poder gritar pro mundo que Celina é minha. Que ela é minha mulher, minha futura esposa. Mas tenho que viver me escondendo. A hipocrisia é absurda. Se ela fosse rica, com certeza meu pai já estaria organizando o casamento. Mas por ela ser pobre… ele com certeza nos destruiria. E isso me assusta. Meu pai é um homem perigoso. Conheço bem suas estratégias sujas no mundo dos negócios. Ele pode muito bem armar algo contra nós. Uma denúncia, uma mentira. Ele já me pressionou a me aproximar de Gabrielle, filha do sócio dele. Diz que ela é “a mulher perfeita” pra mim. Perfeita? Aquela garota tem o carisma de uma porta. É como uma irmã pra mim. Como posso amar alguém que não me faz sentir nada? Celina, por outro lado, é tudo o que eu sonhei. Eu a vejo e penso: ela é minha alma gêmea. Dias atrás, fui ao banco com minha mãe. Atualizamos uma conta que ela abriu pra mim quando eu era criança. Sempre foi muito discreta com isso. Disse que era "para emergências". Mas na verdade, ela sabia que meu pai poderia tentar me controlar com o dinheiro. E agora que sou maior de idade, essa conta é minha. E o melhor: só eu tenho acesso. Ali tem grana suficiente para recomeçar. Para fugir, se for preciso. Minha mãe entende mais do que demonstra. Ela vê nos meus olhos quando falo da Celina. Finge que não sabe, mas sabe. E secretamente me apoia. Com aquele dinheiro, posso comprar uma casa. Posso me casar. Posso construir um lar para mim e para a mulher que amo. Não quero luxo. Quero paz. Quero liberdade. Só que o tempo está correndo, e a pressão do meu pai está aumentando. Essa noite é sexta-feira. Vamos sair, eu e Celina. Como sempre, busco ela com um carro diferente, para não levantar suspeitas. O medo de alguém reconhecê-la, ou me reconhecer, me atormenta. Mas vale a pena só de ver o sorriso dela. Hoje ela usava um vestido simples, mas que desenhava perfeitamente suas curvas. A pele morena, o cabelo trançado preso em um coque alto, os olhos brilhando de felicidade. Ela é uma deusa. Um anjo. E é só minha. — Você está linda, como sempre — falei, quando ela entrou no carro. Ela riu, tímida, como sempre faz quando recebe um elogio. — Você diz isso todo dia — murmurou. — Porque todo dia você me deixa sem ar. Fomos até um lugar tranquilo. Um parque escondido onde o som da cidade mal chega. Ali, conseguimos ser quem somos de verdade. Sem máscaras. Sem medo. Celina encostou no meu ombro e suspirou. — Eu queria que a gente pudesse andar de mãos dadas na rua… sem esconder. — Eu também, meu amor. Mas juro que isso vai mudar. Logo. Ela virou o rosto pra mim, os olhos marejados. — E se seu pai descobrir? — Então a gente some. Eu tenho dinheiro guardado, podemos ir pra outro estado. Começar do zero. Ela ficou em silêncio por um tempo. — Você deixaria tudo… por mim? Acariciei seu rosto. — Eu daria o mundo por você. Ela me beijou. Foi um beijo doce, mas intenso. Nossos corpos se aproximaram naturalmente. Meus dedos desceram pelas costas dela, tremendo. O desejo explodia em mim, e eu sabia que ela também sentia. Mas nos contivemos. — Ainda não — ela sussurrou. — Quero que seja especial. — Vai ser. No tempo certo. Voltamos para o carro em silêncio, as mãos entrelaçadas. E no caminho de volta, eu não conseguia parar de sorrir. Minha Celina é a única que consegue fazer meu coração disparar e meu corpo reagir. Ela é minha cura. Minha verdade. E por ela, eu enfrentarei tudo. Meu pai que se prepare. Porque esse amor… ninguém vai destruir.Lorenzo Ferraz Eu nunca vou esquecer aquela noite. A brisa do mar tocava nossa pele como um sussurro suave, e o som das ondas parecia uma melodia composta apenas para nós dois. A praia estava deserta, o céu coberto de estrelas, e Celina… meu anjo… estava mais linda do que eu era capaz de suportar. Ela surgiu com o biquíni que eu mesmo escolhi. Um vermelho vibrante, provocante e delicado, com detalhes que imaginei exatamente para o corpo dela. Eu queria vê-la assim. Linda, livre, entregue. Quando saiu de trás da canga com aquele sorriso tímido, os cabelos soltos caindo pelos ombros, eu perdi o ar. — Está... maravilhosa — sussurrei, me aproximando. Ela sorriu, envergonhada, cobrindo parte da barriga com as mãos. Mas eu segurei seus pulsos com delicadeza e levei suas mãos ao meu peito. — Não se esconde de mim, Celina. Você é perfeita. Os olhos castanhos dela brilharam, e naquele instante eu soube: era agora. Tínhamos esperado tempo suficiente. Construímos algo bonito, sólido. Com
Lorenzo Ferraz Acordo nu, com uma dor de cabeça infernal e no quarto da Gabrielle. — Merda… — murmuro, esfregando os olhos. O que diabos estou fazendo aqui? Olho em volta, tentando encontrar alguma pista. Nada. Nem minha amiga está no quarto. Gabrielle... Onde você se meteu? Lembro vagamente dela me ligar no meio da noite dizendo que estava passando mal. Saí correndo de casa, preocupado, mas agora estou aqui... nu… e sem memória. Merda, cadê a Celina? Meu anjo deve estar apavorada com meu sumiço. Eu também estou — mas pelo desaparecimento dela. Me visto às pressas. Minha roupa está jogada no chão como se tivesse sido arrancada. Meus sentidos ainda estão turvos. Tento me lembrar de cada detalhe da noite anterior, mas tudo é um borrão. Uísque... Lembro que tomei uma dose, e depois disso, nada. Um apagão total. Saio do apartamento da Gabrielle e sigo direto para a escola. O horário da aula da Celina estava prestes a acabar. Esperei. E esperei. Mas ela não apareceu. Isso se repe
Gabrielle Vidal Meu nome é Gabrielle. Branca, olhos verdes, rica, bonita. E completamente apaixonada pelo meu melhor amigo desde sempre. Lorenzo. Desde a infância, ele foi meu porto seguro. O menino gentil que enxugava minhas lágrimas quando caía no parquinho, que dividia o lanche comigo, mesmo quando era seu favorito. Crescemos juntos, lado a lado, como se o universo já soubesse que nossos destinos estavam entrelaçados. Mas, aos dezessete anos, algo dentro de mim mudou. Uma espécie de clique. Uma descoberta inesperada. O carinho que eu sentia por Lorenzo se transformou em algo mais... algo mais quente, mais urgente, mais intenso. Eu não conseguia mais olhar para ele e vê-lo como um irmão. Ele era o homem dos meus sonhos. E o pior? Ele parecia alheio a tudo isso. Lorenzo sempre foi discreto, reservado. Nunca o vi com uma namorada, nunca o ouvi comentar sobre paixões. Todos os nossos colegas falavam de suas experiências amorosas, de seus desejos, das primeiras vezes. Eu mesma, q
Gabrielle Vidal Passei dias obcecada com uma única missão: descobrir quem era a namorada secreta de Lorenzo. Ele não me dava pistas. Não publicava fotos. Não levava ninguém nas festas. Não comentava nomes. Era como se a mulher não existisse. Mas eu sabia que existia. A ligação apaixonada que ouvi naquela noite não saía da minha mente. "Eu te amo tanto, mas logo nos veremos, tá bom, minha linda?" — as palavras ecoavam na minha cabeça, cada vez mais afiadas. Eu precisava arrancá-la da vida dele. A dúvida me corroía. Era uma mulher? Era um homem? Era uma ilusão? Até que uma tarde comum se transformou em um pesadelo. Ou melhor, um presente. Tudo depende do ponto de vista. Estava indo ao shopping, quando vi Lorenzo atravessando a rua com alguém. Uma garota. Ela devia ter no máximo dezessete anos. Estava usando o uniforme carregava uma mochila nas costas. Os dois estavam de mãos dadas, sorrindo. Um sorriso leve, verdadeiro, apaixonado. Mas o que realmente me fez parar foi a ima
Gabrielle Vidal No outro dia, quando cheguei na faculdade, Lorenzo estava sentado no banco perto da entrada, sorridente. Ele parecia leve, como se o mundo estivesse finalmente nos trilhos para ele. Aquilo me irritava. Como ele conseguia sorrir daquele jeito? Como podia parecer tão pleno, depois de tudo que vivemos? Como ousava me ignorar? — Olha, você hoje está muito feliz, hein? — disse ele, me olhando com aquela expressão tranquila que me dava nos nervos. Fingi um sorriso largo, daqueles que escondem veneno. — Sim! Me esqueci de te falar... estou namorando! Tem um mês que conheci ele. É muito lindo. Ainda está no colégio, acredita? Tem dezenove anos, mas parece ter bem mais. O pai dele é um grande empresário, é bem rico. Mas eu nem ligo pra isso, já que sou muito rica também. Menti. Com frieza, com classe. Meu sorriso era calculado, como um golpe bem ensaiado. Eu queria ver a reação dele, algum sinal de ciúmes, desconforto, qualquer coisa. Mas ele apenas sorriu. — Que bom, Gabi
Lorenzo Ferraz Poxa, que tipo de amigo eu sou? Estava julgando a Gabrielle, quando na verdade ela estava destruída por dentro. Sofrendo em silêncio. E eu, cego pela confusão, sequer percebi. Como eu ia saber? Como eu poderia imaginar que alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa como ela? Gabrielle é forte, mas ninguém é de ferro. E ao vê-la chegar abatida, com os olhos inchados e a alma visivelmente quebrada, meu coração se apertou de um jeito que há muito tempo não acontecia. Fui até ela, sentindo a culpa me esmagar por dentro. — Poxa, Gabrielle... — comecei, com a voz embargada. — Você deveria ter me contado o que estava acontecendo. Somos amigos, não somos? Caramba, fiquei sabendo pelo meu pai... Ela apenas me olhou com um misto de tristeza e exaustão, mas não falou nada. Eu continuei: — Você me falou dele há pouco tempo... Fábio, né? Eu não o conheço, mas se você me der uma foto dele, eu juro que vou até onde ele estiver e dou uma surra nesse desgraçado. Ninguém faz isso
Lorenzo Ferraz — Oi, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, com a voz controlada, tentando manter a calma. — Já que você anda pelas bandas de onde a Celina morava… por acaso a viu por esses dias? O cara hesitou. Eu sabia que ele era um dos que sempre dava aquela olhada maldita quando minha Celina passava. Aquilo sempre me incomodou. Mas agora... agora era diferente. Eu precisava de respostas. — Ah, então… vocês terminaram, né? — Ele se inclinou para mais perto, como se estivesse prestes a contar um segredo cabeludo. — Vi ela com um carinha aqui do colégio. Tavam se pegando feio dentro do carro. Sério, parecia que iam transar ali mesmo. O cara é mais velho, repetente. Vive de farra, mulher e gastando grana. Escutei que os dois tão apaixonadões, e que vão se casar fora e voltar como se nada tivesse acontecido. Pais ricos, sabe como é... não querem os filhos misturando com a “ralé”. E sua mina? Foi ligeira. Achou um trouxa com mais grana que você. O cara pegou ela, deu uns pegas, e
Lorenzo Ferraz Três Anos Depois Três anos se passaram desde o dia em que minha vida virou um inferno. Nesse tempo, mergulhei de cabeça nos estudos e no trabalho. Fiz cursos, treinamentos, formações executivas, tudo o que fosse necessário para me transformar no homem que sou hoje. Quando finalizei minha especialização com louvor, meu pai não hesitou: passou a presidência das Lojas Ferraz para mim e se aposentou. Herdei o império que ele construiu, mas também herdei um coração destroçado e uma alma consumida pela raiva. Não foi fácil assumir o comando com a cabeça atormentada por lembranças e fantasmas. Ainda assim, cumpri cada meta, bati cada recorde, multipliquei os lucros — enquanto dentro de mim, só restava vazio. Trabalhar se tornou meu refúgio. Porque quando estou ocupado, não penso. E quando não penso, não sofro. É simples. Heitor, meu braço direito e único amigo de verdade, já me perguntou várias vezes se quero morrer de tanto me dedicar. Ele não entende que, às vezes, essa