Lorenzo Ferraz
Lá está ela. Celina. A garota dos meus sonhos. A mais linda que já vi em toda minha vida. Tem algo nela que não dá para explicar, algo que me prende, me hipnotiza, me arrebata por inteiro. Desde o primeiro olhar, eu soube que estava perdido. Sim, sou mais velho. E daí? Isso nunca foi um problema para mim. A única coisa que me importa é ela — o sorriso dela, o jeito como enruga a testa quando está confusa, como fica sem graça quando elogio seus olhos enormes e curiosos. A conheci quando ela tinha apenas catorze anos. Eu, com vinte, jamais pensei que aquele encontro casual no colégio da minha infância mudaria o rumo da minha vida para sempre. Hoje, Celina tem dezesseis e eu, vinte e um. Estamos juntos há um ano. Um namoro escondido, silencioso, só nosso. Nem mesmo meus melhores amigos sabem. Gabrielle e Heitor são meus irmãos de alma, mas nem a eles contei. Ainda não. Confesso que não é fácil guardar esse segredo. Não sou bom em esconder coisas, especialmente deles. Gabrielle vai me matar quando souber. Heitor, talvez me entenda. Ou talvez não. Mas sinceramente? Eu não me importo. Não posso abrir mão da mulher que amo só porque a sociedade ditou que existe uma idade certa para amar. Celina não é apenas um caso, uma paixão qualquer. Ela é o amor. O tipo de amor que queima por dentro, que rasga, que sufoca, que faz a gente sentir ciúmes até do vento que toca a pele dela. E eu… eu sou o homem mais ciumento que conheço. Nunca fui assim antes. Nunca senti essa urgência, esse medo de perder. Nunca precisei vigiar o sorriso de alguém com tanto zelo. Mas ela… ah, ela desperta em mim o lado mais primitivo. Talvez seja porque ela é doce. Talvez seja porque ela é linda demais. Talvez porque é rara. Ou talvez seja só porque ela é minha. E ninguém mexe com o que é meu. Estou quase me formando na faculdade de Administração. Meu pai sonha em me ver no comando do império de lojas que ele construiu ao longo da vida. Sonha com uma esposa de “sociedade” ao meu lado. Uma mulher que combine com o sobrenome Ferraz. Ele quer que eu me case com Gabrielle. Minha amiga desde criança, filha do sócio mais poderoso dele. Bonita, rica, elegante. A mulher perfeita… para os olhos dele. Mas eu não estou nem aí para os sonhos do meu pai. Eu tenho os meus. E o meu sonho tem nome. Celina. Ela ainda estuda no colégio onde nos conhecemos. Foi lá que tudo começou. Um reencontro com amigos, uma visita rápida que virou o dia mais marcante da minha vida. Lembro exatamente do momento em que a vi pela primeira vez. Ela estava com as gêmeas Rejane e Raquel, que por coincidência são conhecidas minhas. O olhar dela cruzou com o meu e tudo ficou em silêncio. O mundo parou. Houve um segundo — só um segundo — em que tive certeza: “é ela”. Eu nunca a vi antes, mas era como se sempre tivesse a esperado. E desde então, passei a procurá-la em cada canto do colégio. A me aproximar com desculpas bobas, a fazer amizade com as amigas dela. Tudo para chegar mais perto, para ouvir sua voz, para vê-la sorrir de novo. Com o tempo, ela me deixou entrar. E agora, aqui estou, preso nesse sentimento que cresce a cada dia. Só minha mãe sabe da Celina. Dona Elizabeth é meu porto seguro. Ela escutou meu segredo com serenidade, sorriu com carinho e disse apenas: — Quando o amor é verdadeiro, filho, ele não tem idade. Tem intensidade. Abençoou nosso relacionamento em silêncio, mas também me aconselhou a ter paciência. Me pediu para proteger a Celina do julgamento cruel das pessoas. E eu faço isso. Com unhas e dentes. Celina é bolsista. Pobre. Negra. Inteligente e reservada. Ela não anda com o “povo bonito” do colégio. Só Rejane e Raquel falam com ela. O restante, vive de fofocas, mentiras e julgamentos idiotas. Já ouvi cada absurdo por andar perto das gêmeas. As pessoas vivem criando boatos sobre mim — como se eu fosse algum playboy pegador, como se eu estivesse interessado nas herdeiras ruivas. Se soubessem que é por Celina que meu coração b**e, que é ela quem me inspira todos os dias… Se soubessem que sou louco por cada centímetro daquela mulher… Celina me deixa louco. E ela sabe disso. — Para de me chamar de “meu anjo” aqui no colégio, Lorenzo — ela diz, corando como sempre. Mesmo com a pele escura, eu reconheço o rubor no rosto dela. Os olhos brilham, a boca se aperta como se estivesse envergonhada… Eu amo isso nela. — Mas você é o meu anjo — respondo, segurando sua mão escondido atrás da árvore que usamos como nosso esconderijo particular. Ela suspira. — Você complica minha vida… — E você deixa a minha mais leve. Equilibrado, não acha? Celina sorri. Aquele sorriso meio tímido, meio cúmplice. Aquele que só eu vejo. E que vale mais do que qualquer fortuna. De vez em quando, dou alguns presentes para ela. Um celular, por exemplo, porque o antigo dela era de botão, mal funcionava. Ela resistiu, não queria aceitar. Disse que não precisava. Mas eu insisti. E ela só aceitou porque sabia que, sem aquilo, eu não conseguiria mais passar um único dia sem ouvir sua voz. Eu queria dar o mundo a ela. Mas tudo o que ela quer… é a mim. E isso me desmonta. Na faculdade, as garotas me cercam o tempo todo. Mandam mensagens, jogam charme, algumas quase tiram a roupa na minha frente. Mas nada nelas me atrai. Porque só ela… Só Celina tem o dom de acalmar o caos dentro de mim. Ela não quer o meu dinheiro. Não quer status. Ela só quer ser amada. E amar de volta. E isso… isso é raro. Precioso. Mas o tempo está se esgotando. Em breve, vou ter que contar para meus amigos. Gabrielle vai ficar surpresa. Talvez chateada, não por ciúmes, mas por não ter sido a primeira a saber. E Heitor… bom, ele vai fazer piada, como sempre. Mas no fundo, vai me apoiar. Porque eles me conhecem. Sabem que nunca amei ninguém de verdade até agora. O verdadeiro desafio, no entanto, será meu pai. Ele vai surtar. Vai dizer que estou jogando meu futuro fora. Vai ameaçar cortar minha mesada, me expulsar de casa, me deserdar… Mas eu estou pronto para enfrentar tudo. Por ela. Se ele acha que pode me forçar a casar com alguém que não amo, está muito enganado. Celina é minha. E eu sou dela. E vou provar isso para o mundo inteiro. Ela ainda não sabe, mas estou planejando algo especial para o nosso aniversário de um ano. Algo que marque o começo da nossa nova fase. Um anel. Simples. Bonito. Cheio de significado. Não é um pedido de casamento. Ainda não. Mas é um símbolo. De que ela é minha escolha. De que eu estou aqui. E sempre estarei. Porque quando o amor é verdadeiro… Não importa a idade, a classe social, a cor da pele, ou os julgamentos dos outros. Só importa o coração. E o meu, há muito tempo, já pertence a Celina.Lorenzo Ferraz Se meu pai descobrir que eu namoro com uma moça simples, que mora em uma comunidade bem pobre, com certeza ele vai declarar guerra. Não uma guerra simbólica, mas uma verdadeira batalha para separar a gente. Meu pai, o poderoso empresário Roberto Ferraz, não aceita menos que o "melhor" — ou o que ele considera ser o melhor. Mas Celina… Celina é tudo pra mim. Inteligente, linda, determinada. Ganhou uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas particulares de Santa Catarina. E não foi por sorte — foi por mérito. Pela força que ela tem. Pelo brilho que não se pode esconder. Eu tenho certeza que o céu é o limite pra ela. E quer saber? Ela é o meu céu. Eu não vou deixá-la. Não importa o quanto meu pai grite, ameace, ou tente me manipular. Eu amo a Celina. E isso basta. Claro, o amor é complicado. Principalmente quando envolve mundos tão diferentes como o nosso. Mas eu nunca fui como os outros caras da minha idade. Já tive minha fase de sair, de pegar geral, mas mesmo
Lorenzo Ferraz Eu nunca vou esquecer aquela noite. A brisa do mar tocava nossa pele como um sussurro suave, e o som das ondas parecia uma melodia composta apenas para nós dois. A praia estava deserta, o céu coberto de estrelas, e Celina… meu anjo… estava mais linda do que eu era capaz de suportar. Ela surgiu com o biquíni que eu mesmo escolhi. Um vermelho vibrante, provocante e delicado, com detalhes que imaginei exatamente para o corpo dela. Eu queria vê-la assim. Linda, livre, entregue. Quando saiu de trás da canga com aquele sorriso tímido, os cabelos soltos caindo pelos ombros, eu perdi o ar. — Está... maravilhosa — sussurrei, me aproximando. Ela sorriu, envergonhada, cobrindo parte da barriga com as mãos. Mas eu segurei seus pulsos com delicadeza e levei suas mãos ao meu peito. — Não se esconde de mim, Celina. Você é perfeita. Os olhos castanhos dela brilharam, e naquele instante eu soube: era agora. Tínhamos esperado tempo suficiente. Construímos algo bonito, sólido. Com
Lorenzo Ferraz Acordo nu, com uma dor de cabeça infernal e no quarto da Gabrielle. — Merda… — murmuro, esfregando os olhos. O que diabos estou fazendo aqui? Olho em volta, tentando encontrar alguma pista. Nada. Nem minha amiga está no quarto. Gabrielle... Onde você se meteu? Lembro vagamente dela me ligar no meio da noite dizendo que estava passando mal. Saí correndo de casa, preocupado, mas agora estou aqui... nu… e sem memória. Merda, cadê a Celina? Meu anjo deve estar apavorada com meu sumiço. Eu também estou — mas pelo desaparecimento dela. Me visto às pressas. Minha roupa está jogada no chão como se tivesse sido arrancada. Meus sentidos ainda estão turvos. Tento me lembrar de cada detalhe da noite anterior, mas tudo é um borrão. Uísque... Lembro que tomei uma dose, e depois disso, nada. Um apagão total. Saio do apartamento da Gabrielle e sigo direto para a escola. O horário da aula da Celina estava prestes a acabar. Esperei. E esperei. Mas ela não apareceu. Isso se repe
Gabrielle Vidal Meu nome é Gabrielle. Branca, olhos verdes, rica, bonita. E completamente apaixonada pelo meu melhor amigo desde sempre. Lorenzo. Desde a infância, ele foi meu porto seguro. O menino gentil que enxugava minhas lágrimas quando caía no parquinho, que dividia o lanche comigo, mesmo quando era seu favorito. Crescemos juntos, lado a lado, como se o universo já soubesse que nossos destinos estavam entrelaçados. Mas, aos dezessete anos, algo dentro de mim mudou. Uma espécie de clique. Uma descoberta inesperada. O carinho que eu sentia por Lorenzo se transformou em algo mais... algo mais quente, mais urgente, mais intenso. Eu não conseguia mais olhar para ele e vê-lo como um irmão. Ele era o homem dos meus sonhos. E o pior? Ele parecia alheio a tudo isso. Lorenzo sempre foi discreto, reservado. Nunca o vi com uma namorada, nunca o ouvi comentar sobre paixões. Todos os nossos colegas falavam de suas experiências amorosas, de seus desejos, das primeiras vezes. Eu mesma, q
Gabrielle Vidal Passei dias obcecada com uma única missão: descobrir quem era a namorada secreta de Lorenzo. Ele não me dava pistas. Não publicava fotos. Não levava ninguém nas festas. Não comentava nomes. Era como se a mulher não existisse. Mas eu sabia que existia. A ligação apaixonada que ouvi naquela noite não saía da minha mente. "Eu te amo tanto, mas logo nos veremos, tá bom, minha linda?" — as palavras ecoavam na minha cabeça, cada vez mais afiadas. Eu precisava arrancá-la da vida dele. A dúvida me corroía. Era uma mulher? Era um homem? Era uma ilusão? Até que uma tarde comum se transformou em um pesadelo. Ou melhor, um presente. Tudo depende do ponto de vista. Estava indo ao shopping, quando vi Lorenzo atravessando a rua com alguém. Uma garota. Ela devia ter no máximo dezessete anos. Estava usando o uniforme carregava uma mochila nas costas. Os dois estavam de mãos dadas, sorrindo. Um sorriso leve, verdadeiro, apaixonado. Mas o que realmente me fez parar foi a ima
Gabrielle Vidal No outro dia, quando cheguei na faculdade, Lorenzo estava sentado no banco perto da entrada, sorridente. Ele parecia leve, como se o mundo estivesse finalmente nos trilhos para ele. Aquilo me irritava. Como ele conseguia sorrir daquele jeito? Como podia parecer tão pleno, depois de tudo que vivemos? Como ousava me ignorar? — Olha, você hoje está muito feliz, hein? — disse ele, me olhando com aquela expressão tranquila que me dava nos nervos. Fingi um sorriso largo, daqueles que escondem veneno. — Sim! Me esqueci de te falar... estou namorando! Tem um mês que conheci ele. É muito lindo. Ainda está no colégio, acredita? Tem dezenove anos, mas parece ter bem mais. O pai dele é um grande empresário, é bem rico. Mas eu nem ligo pra isso, já que sou muito rica também. Menti. Com frieza, com classe. Meu sorriso era calculado, como um golpe bem ensaiado. Eu queria ver a reação dele, algum sinal de ciúmes, desconforto, qualquer coisa. Mas ele apenas sorriu. — Que bom, Gabi
Lorenzo Ferraz Poxa, que tipo de amigo eu sou? Estava julgando a Gabrielle, quando na verdade ela estava destruída por dentro. Sofrendo em silêncio. E eu, cego pela confusão, sequer percebi. Como eu ia saber? Como eu poderia imaginar que alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa como ela? Gabrielle é forte, mas ninguém é de ferro. E ao vê-la chegar abatida, com os olhos inchados e a alma visivelmente quebrada, meu coração se apertou de um jeito que há muito tempo não acontecia. Fui até ela, sentindo a culpa me esmagar por dentro. — Poxa, Gabrielle... — comecei, com a voz embargada. — Você deveria ter me contado o que estava acontecendo. Somos amigos, não somos? Caramba, fiquei sabendo pelo meu pai... Ela apenas me olhou com um misto de tristeza e exaustão, mas não falou nada. Eu continuei: — Você me falou dele há pouco tempo... Fábio, né? Eu não o conheço, mas se você me der uma foto dele, eu juro que vou até onde ele estiver e dou uma surra nesse desgraçado. Ninguém faz isso
Lorenzo Ferraz — Oi, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, com a voz controlada, tentando manter a calma. — Já que você anda pelas bandas de onde a Celina morava… por acaso a viu por esses dias? O cara hesitou. Eu sabia que ele era um dos que sempre dava aquela olhada maldita quando minha Celina passava. Aquilo sempre me incomodou. Mas agora... agora era diferente. Eu precisava de respostas. — Ah, então… vocês terminaram, né? — Ele se inclinou para mais perto, como se estivesse prestes a contar um segredo cabeludo. — Vi ela com um carinha aqui do colégio. Tavam se pegando feio dentro do carro. Sério, parecia que iam transar ali mesmo. O cara é mais velho, repetente. Vive de farra, mulher e gastando grana. Escutei que os dois tão apaixonadões, e que vão se casar fora e voltar como se nada tivesse acontecido. Pais ricos, sabe como é... não querem os filhos misturando com a “ralé”. E sua mina? Foi ligeira. Achou um trouxa com mais grana que você. O cara pegou ela, deu uns pegas, e