Capítulo 5

Mayra Reis

— Ah, não Mayra. — Christian diz assim que entrei na sua sala. — Você sabe que não gosto dessa saia. Deixa sua bunda meio quadrada. — Faz careta. — Gosto quando usa aquela saia lápis, principalmente a preta, ela deixa a sua bunda redondinha. — Ele faz gesto com a mão.

Christian comenta tanto sobre roupas que deveria ser um estilista em vez de arquiteto. Coloco algumas pastas com documentos em sua mesa.

— Você deveria me respeitar. — Afastei uma mecha do meu cabelo. — Estou quase entrando em um relacionamento sério.

Christian sorriu e apertou os olhos em minha direção. Queria sorrir, mas por fora me mantive séria esperando as suas próximas palavras.

— O final de semana foi bom?

Dou um meio sorriso. Não quero entregar de bandeja dizendo o quanto foi ótimo. Passo a mão pela saia fingindo tirar uma sujeira. Ele pode ser meu melhor amigo, mas não quero parecer desesperada. Tenho que me fazer de difícil, pelo menos na frente dele.

— Foi bem legal. — Me limitei a dizer.

— Deve ter sido mesmo já que esqueceu da minha existência. — Diz com deboche.

Revirei os olhos. É preciso ter paciência com o Christian dramático. Não achei que teria que lidar logo cedo com o Christian fazendo drama, ainda bem que estou com paciência hoje.

— Eu te mandei mensagem…

— Só uma vez!

— Desde quando você é ciumento? — Coloco minhas mãos na cintura.

— Não sou.

Ele pega as pastas que coloquei em cima da mesa e dá uma olhada. Ok, como ele é meu melhor amigo, eu não preciso me conter tanto, não é? Uma coisinha e outra, tudo bem. Então aproveito seu silêncio para falar sobre Marcos me chamar para ir à Rússia com ele. Primeira viagem de casal. Confesso que quando voltei para casa fiquei pensando, imaginando cada detalhezinho de como poderia ser.

— Marcos me convidou para ir à sua cidade natal. — Não conseguia controlar meu sorriso.

— Onde fica? — Christian pergunta sem tirar os olhos do documento.

— Hm… Rússia. — Quase dei um gritinho de alegria. — Mas necessariamente em Moscou aonde vamos esta essa semana. 

Christian tira seus olhos do documento e me olha sério.

— Você não vai para a Rússia com ele.

Não entendo sua reação.

— Por que não?

— Você mal conhece esse homem, Mayra. Não ficará viajando com um desconhecido. E pelo que sei nunca foi a Rússia. — Christian continua me olhando sério. — Seja lá qual for a parte dela.

— Você sabe que posso muito bem me cuidar sozinha e também não iríamos agora…

— Daqui a uns seis meses e só depois que eu conhecê-lo. — Christian impõe.

— Você não é meu pai! — Rebati.

Somos adultos e sabemos muito bem o que fazemos, não tem porque ficar bancando o senhor responsável agora. E pelo que sei quem é paga para ficar cuidando da vida dos outros, no caso a vida dele sou eu. Christian tem que parar de ser chato.

— Se eu souber que você foi, Mayra. Vou até à Rússia, qualquer parte dela e te trago pelos cabelos. — ameaça.

Coloco minhas mãos em sua mesa e inclino meu corpo levemente para frente.

— Christian Hill, você não é meu pai. — Digo lentamente. — Vou para onde eu quiser.

Christian se levanta e faz a mesma posição que eu. Colocando suas mãos na mesa e inclinando seu corpo para frente. Seu olhar é firme assim como sua voz. Ai que raiva!

— Tenta. Então tenta, Mayra. — Desafia. — Seis meses e depois que eu conhecê-lo. Você pode ir para onde quiser com ele.

Uma coisa que odeio em Christian é a sua proteção obsessiva. Sei o quanto ele quer o meu bem, como quero o dele, mas Christian consegue passar dos limites. É muito exagerado! Endireitei meu corpo e dei uma última olhada nele antes de me virar para sair de sua sala.

— Amanhã! Depois do trabalho lá em casa. — Christian avisa. — Não esqueça e leve os chocolates.

Dou o dedo do meio para ele.

O resto do dia me concentrei na escolha de equipe para o projeto do shopping. Não foi nada fácil. O shopping será construído perto do centro de Los Angeles. Temos uma filial, mas a metade da equipe não é de lá. Então teremos que movimentar nossos funcionários para Los Angeles. 

Informei o chefe de finanças sobre isso, passando os detalhes de quantas pessoas e sobre os equipamentos necessários. Preparamos o orçamento e mandamos por e-mail para Christian. Será mais trabalhoso do que imaginei, mas tenho certeza que será um sucesso como sempre é.

Meu final de semana não foi nada comparado ao que trabalhei ontem. Christian colocou a maioria dos funcionários para trabalhar nessa obra. Precisamos terminar no prazo. Christian não poupou as indiretas contra mim por fazer ele aceitar essa obra. Sempre assim e quando for um sucesso serei eu jogando indireta para ele. 

Na reunião de hoje que durou a manhã toda, conversamos com os engenheiros e arquitetos, pensamos nos possíveis imprevistos e como evitá-los. Estamos cuidando de tudo o mais rápido possível para começar a obra semana que vem.

Christian passa a mão pelo pescoço e suspira.

— Está tudo bem com você? Parece que está bem cansado. — Pergunto.

Christian senta na sua cadeira.

— Fiquei no celular com meu pai a noite toda. — Explica. — Queria que eu aceitasse uma obra e tentei ser o mais educado possível na hora de dizer não.

O senhor Hill é cabeça dura, Christian puxou ele. Ambos não aceitam um não. Então a conversa não foi nada agradável. No começo foi bem difícil lidar com esses dois, às vezes até é preciso desenhar para mostrar que certas coisas não dão para fazer e o que não é necessário.

— Por que ele não falou comigo?

Esse assunto tinha que passar por mim primeiro, já que é sobre trabalho. E eu veria se seria possível fazer ou não.

— Sabe que meu pai não gosta de você. — Christian sorriu.

Ele realmente não gosta. Não tenho preferidos, se não dar para Christian fazer tal trabalho nego na hora. Não tenho a posição e a confiança do Christian, porque ele me acha bonita e sim pelo meu compromisso e responsabilidade com meu trabalho. 

Escolho a dedo cada coisa para não sobrecarregar Christian. E houve muitos trabalhos vindo do seu pai que recusei. Quando ele sente saudades do filho é para mim que liga. Revirei os olhos.

— Ele é um velho rabugento. — Vou até ele.

— É mesmo. Ah! — Christian suspira quando comecei a fazer massagem em seus ombros.

— E você vai ficar igual a ele.

— Não vou! — diz se sentindo ofendido.

Christian volta a relaxar e aproveitar a massagem.

— Você tem uma mão de fadas, Mayra. Tenho mais uma função…

— Se estiver disposto a pagar o triplo que você me pagar. — Falei. — Eu aceito a função de massagista também.

Ele abre os olhos.

— Está ficando cara, hein?

— Aprendi com você!

Ele sempre diz que se sabemos fazer alguma coisa muito bem, devemos cobrar por isso. Não é à toa que é bilionário hoje em dia. Ele soube cobrar bem pelo seu trabalho. Christian sorriu e voltou a fechar os olhos.

— Mas deveria ser de graça e eu te daria acesso ao meu corpo inteirinho… — Deu um sorriso malicioso, deixando a frase no ar.

Uma imagem rápida surge na minha mente, mas logo desaparece.

— Christian, cala boca!

— Vai me dizer que não imaginou nós dois… Ai!

Apertei seu ombro com força e saí de trás dele. Chega de massagem. Já está se aproveitando demais e se quer continuar falando besteira ficará sem.

— Vou trabalhar que ganho mais. — Vou em direção à porta.

— Não se atrase hoje…

— Christian, você é quem sempre se atrasa.

Ele pensa um pouco e concorda. Reviro os olhos e saio da sua sala. Volto minha atenção para meus fazeres. Mal falei com Marcos hoje, mas fizemos uma ligação na hora do almoço. Hoje vou para casa do Christian ter o nosso momento de fazer nada. Resume a comer até dizer chega, assistir a filme e jogar conversa fora. Christian foi quem sugeriu esse momento nosso.

Houve um tempo que comecei a focar demais no trabalho e por um lado não estava me fazendo bem, chegando a afetar a minha saúde. Comecei a me afastar até mesmo do Christian, com quem trabalho diretamente. 

Então ele sugeriu que a gente passasse esses momentos juntos, focando mais na nossa amizade e de tudo menos pensar no trabalho. Claro que com o tempo fui adaptando e agora dormimos um na casa do outro, fazemos skin care e fofocamos a noite toda como se fosse duas menininhas. Não esquecendo das bebidas, às vezes exageramos um pouco nessa parte.

Ah, não se engane com o Christian, ele é muito fofoqueiro.

Quando finalmente da hora vou à sala do Christian e não encontro, sua secretária me disse que ele ainda estava em reunião. Essa reunião deveria ter terminado uma hora atrás, vou para o andar que fica as salas de reuniões. Para minha alegria as pessoas já estavam começando a sair. Cruzei meus braços na altura do peito e olhei para ele, Christian sorri e vem até mim.

— Não é minha culpa. — diz assim que para na minha frente. — Não fizeram um bom projeto e muito menos uma boa apresentação, eu precisei corrigir.

Seu rosto estava levemente vermelho, é sinal de que ele passou a mão pelo rosto várias vezes e seu cabelo um pouco bagunçado. Parece que foi realmente estressante essa reunião. Passar a mão pelo rosto fazendo uma leve massagem ou passar a mão pelo cabelo é uma forma do Christian se controlar e pensar bem nas suas palavras quando algo não o agrada.

— Vou deixar essa passar.

Ele sorriu, mas logo voltou a ficar sério. Não quero nem imaginar como foi essa reunião. Caminhamos em direção ao elevador.

— Andei pegando muito leve com eles. — Christian suspira. — Estão fazendo as coisas de qualquer jeito, não dando realmente o real valor.

— Você tentou ser mais acessível, Christian. — Entramos no elevador. — Não se culpe se eles não souberam aproveitar isso direito.

Tinha mais duas pessoas conosco e eles ouviram nossa conversa. Fiz questão de falar olhando para eles. Christian suspira irritado e não continua o assunto. Hoje eu não vim de carro já que dormiria na casa do Christian. Entramos no seu carro e ele deu partida.

— Preciso passar pelo mercado. Esqueci de comprar o chocolate.

Sorri sem graça pelo jeito que Christian me olhou. Aquele olhar de que se pudesse matar, eu já estaria morta. Mas ele sempre tinha piedade de mim.

— Você não vai querer entrar na lista das pessoas que me deixaram estressado hoje Mayra.

— Desculpa, Chris. Cheguei muito cansada ontem e acabei esquecendo.

O bom é que perto da casa dele tem um mercado. Christian mora em um condomínio. A entrada do seu condomínio tem um mini shopping, mercado e várias lojas. Não precisaria ir muito longe para comprar o que você mais precisa para dentro de casa. Logo chegamos e entramos no mercado, eu pego a cesta.

— Não seria só chocolate? — Christian pergunta erguendo a sobrancelha.

Eu sorri.

— Podemos comprar umas coisinhas a mais.

Ele revira os olhos e pega a cesta. Sempre quando vamos ao mercado compramos mais do que precisamos e ele é o primeiro a sair pegando as coisas. Como agora, ele pegou um cereal. Olhei para Christian e ele finge que nada aconteceu. Depois fica falando de mim.

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