No sábado à noite, Brenda teve um encontro. Ela sempre tinha vários encontros, mas geralmente não chegavam a se repetir mais de três vezes com a mesma pessoa. E não porque os homens fugiam dela ou ela se envolvia com um tipo cafajeste, na maior parte dos casos a Brenda é que acabava se desinteressando de seus pares por algum motivo ou outro.
- Posso desmarcar. – ela me disse, escolhendo entre um brinco de argolas e um de pedras – Não é nada especial, na verdade. É o primeiro encontro. - Não. – respondi sentando na cama, embora eu estivesse mesmo meio deprimida por ficar sozinha – E você está buscando defeitos no rapaz? – sorri. - Eu não busco nada. – ela respondeu colocando os brincos de pedra finalmente – Eles já aparecem com eles. – e me lançou um sorriso maroto – E é sério. – ela se levantou, esbelta em seu vestido preto, e andou até mim – Não quero que se sinta mal. - Tudo bem. – me forcei a dizer. Já estava abusando demais da hospitalidade e não ia estragar também um encontro – Vá logo. – insisti, tentando manter uma expressão tranquila e confiante. Depois de um longo abraço e de me dizer para ligar caso algo acontecesse, Brenda foi para seu encontro, e eu me vi sozinha com um pote de sorvete e o sofá, que já estava se tornando íntimo. Meus pensamentos foram até Eduardo imediatamente. Pensei em cada detalhe seu que já se tornara tão parte de mim ao longo dos anos, e saudade me sufocou por um momento. De repente me vi com o celular na mão, discando seu número, com a voz da minha mãe na minha cabeça, me acusando de deixar isso acontecer. Como uma bomba a imagem da Vivian caiu sobre tudo isso, sobre nossas memórias mais intimas e felizes, e desliguei o celular desajeitadamente, sem conferir se a chamada chegou a se completar. Um minuto depois o celular começou a chamar e senti um surto violento de arrependimento pela minha fraqueza. Mas não era Eduardo, e sim, minha irmã. - Cat. – sussurrei aliviada. - Alice. – escutei vozes ao seu redor, mas não me espantei. Catarina nunca parava. – Eu soube. – foi o suficiente para que eu começasse, enfim, a chorar – Vou aí, onde você está? – em meio aos soluços consigo dizer que estou no apartamento da Brenda e ela me garante que chegará logo. Quando desliguei, tentei recuperar o controle, mas as lágrimas não paravam de sair em torrentes cada vez mais fortes. Acabei atendendo a campainha naquele estado, e logo estava nos braços da minha irmã, sendo consolada mais pela sua presença e cheiro familiares mais do que por suas palavras. Ficamos assim pelo que me parecem horas, até que as lágrimas começam a secar. - Desculpe. – falei enquanto seus dedos passavam pelos meus cabelos. De alguma forma, deitei a cabeça em seu colo, e embora ela estivesse toda molhada, não parecia nem um pouco incomodada. - Está tudo bem. – ela falou baixo, como se ainda tentasse me acalmar. - Passei a semana toda meio robótica. – expliquei, sentando ao seu lado e passando as mãos pelos cabelos – Não sei porque agora isso... – tentei arrumar minhas roupas também. - Você precisava colocar para fora. – seu tom era de quem entendia. Não parecia que ela era a caçula. Me senti como se eu devesse dar conselhos para ela sobre isso e não o contrário, mas isso nunca aconteceu. Cat sempre foi a mais forte de nós duas. – A mamãe disse que ele tem outra pessoa. – Catarina acrescentou num tom meio descrente. - A Vivian. – respondi sem rodeios porque nunca fui de ter segredos com a minha irmã. E ela torceu o nariz na mesma hora porque sempre soube da minha antipatia pela Vivian. – Já tem um mês. - Que imbecil. – seu tom era hostil, cheio de proteção comigo – Mas, Alice... – ela me olhou de um jeito que eu já conhecia muito bem – Eu sempre soube que ele não é homem para você. - O quê? – ergui as sobrancelhas. - Sim. Vocês iam se casar e ia ser lindo e mágico, mas era só isso. Ia ser só isso. – Catarina ficou me olhando, os olhos cheios de um misto de pena, proteção e pesar - Você pode ser melhor do que isso. – tentei digerir a visão que ela tinha da minha vida, ou melhor, da vida que eu teria, mas era muito estranho. - Eu queria aquilo. – lembrei a ela, ainda me agarrando àqueles antigos planos – Planejei por anos. - Sim, eu sei. – ela apertou minhas mãos – Agora foi tirado sem que você pudesse escolher. Vamos tentar diferente dessa vez? – os olhos de Catarina estavam ansiosos em mim, com medo que eu ficasse com raiva dela. Mas não estava com raiva dela, talvez apenas um pouco confusa. - Ainda não sei, Cat. – confessei, afundando no sofá – Há poucos dias eu estava completamente absorta com os planos do casamento. - Tudo bem. – ela sorriu suavemente – Não saber é o primeiro passo. Agora, - ela levantou e começou a vasculhar os inúmeros filmes da Brenda – tudo que precisamos é de um bom filme. Pelo resto da noite, assistimos filmes juntas e terminamos o pote de sorvete que eu havia aberto mais cedo. Observei minha irmã e o quanto ela era segura de si, sempre parecendo mais velha do que eu. Todas as vezes foi ela que tomou o papel da irmã protetora e me defendeu de tudo, embora eu nunca tenha precisado de fato ser defendida de muitas coisas, apenas de uma ou outra travessura na infância. Quando Cataria começou a sair de casa, eu já namorava com Eduardo e poucas vezes nós a acompanhamos. Ele sempre buscava coisas refinadas e Catarina não gostava muito disso. Me senti meio triste, como se eu a tivesse abandonado quando ela precisava de mim. Naquela noite, antes de dormir, apesar da saudade que parecia querer me sufocar, me questionei se o tempo todo Eduardo não me moldou como uma boa futura esposa, desde a adolescência, e eu, de bom grado seguia todas as suas instruções. Dormi com a sensação de ter sido um pouco tola o tempo todo.