Alice tinha todos os planos de sua vida muito bem detalhados, mas perde o rumo quando o noivo revela que não quer mais se casar e está com outra pessoa. Querendo fugir de toda fofoca e da mãe, que quer de todo jeito que ela o reconquiste, Alice resolve embarcar com sua irmã, Catarina, e sua melhor amiga, Brenda, numa viagem divertida e cheia de surpresas.
Ler mais- Claro que eu quero me casar, mas não com você.
O som das palavras ficaram fazendo eco para dentro do meu cérebro, penetrando meu ser. Me senti encolhendo gradativamente diante do par de olhos que me encaravam com um intensidade – antes irritada- e agora, claramente aliviada. Por alguns instantes, um surto de arrependimento me tomou, por ter entrado numa discussão sobre as flores do grande dia logo após um dia estressante de trabalho. - Você não está falando sério. – falei baixinho fechando a agenda repleta de compromissos sobre o dia do casamento. - Estou. – e ele se jogou no sofá, afrouxando a gravata. Claramente aliviado por estar falando sobre isso. Eu não conseguia me mover do lado da janela do seu luxuoso apartamento, apenas dei uma olhada para a cidade lá embaixo e por um instante me desliguei do problema ao meu redor. Pensei em pessoas que iam para suas casas após dias de trabalho. – Sei que fomos longe demais. – a voz dele me chamou de volta – Mas eu não quero me casar, Alice. - Não comigo. – afirmei, lembrando suas primeiras palavras quando, irritada com sua falta de capacidade de me ajudar a decidir sobre as flores, perguntei se ele não queria se casar. Uma pergunta cheia de ironia e obviamente sem resposta. Mas ele tinha resposta. – Então com quem, Eduardo? – cruzei os braços, a agenda ainda bem firme na mão. - A Vivian, Alice. – ele respondeu num sussurro e eu senti uma pontada desconfortável dentro de mim. - A Vivian? – engoli o nome dela com força, lembrando dos cabelos loiros sempre impecáveis e das unhas pintadas sem nunca ter uma lasca. – E quando foi que você chegou a essa conclusão? - Poxa, Alice. – ele já não me olhava nos olhos – Você sabe que as coisas entre nós já não andavam tão fáceis. Eu arquejei. Sim, eu sabia que as coisas andavam estranhas, mas eu também sabia que havia a pressão das coisas do casamento para organizar. Foi mais ou menos nesse período que as coisas ficaram estranhas e eu não achei que fossem um indicativo de que estivessem desmoronando. - Vocês estão se encontrando? – minha voz, fria como gelo, não entregou meu interior que está desmoronando. O silêncio de Eduardo me fez querer arrancar os seus olhos com as unhas. – Desde quando? – insisti, com um tom que ele conhece bem. - Encontrei ela por acaso. – ele cedeu finalmente – Eu tinha ido almoçar com um cliente, mas ele desmarcou e esbarrei com ela. – eu imaginei Vivian toda sorrisos, impecável no meio do dia, mesmo que para um almoço casual – Tem um mês mais ou menos. – acrescentou. - E isso já é suficiente para você saber que quer se casar com ela? – questionei, amarga. Conheci Eduardo quando ele fez o divórcio dos meus pais, na época ele era um novato e eu uma adolescente. Imagine o meu espanto quando, depois de concluído o trabalho, recebi flores em casa e um belo cartão que perguntava se poderíamos manter contato. - Não. – ele confessou meio gaguejando – Mas sei que não quero com você. – acrescentou com uma voz firme que não me deixou dúvidas. Enfim, me afastei da janela e peguei minha bolsa no sofá, bem ao lado dele. Um estranho formigamento toma conta do meu corpo e, por um instante, me perguntei se não estava presa num daqueles sonhos malucos. - Posso pedir para a secretária desmarcar tudo. – Eduardo disse num tom culpado. Balancei a cabeça e joguei em cima dele a agenda que reservei exclusivamente para os assuntos do casamento, cheia de anotações vergonhosas. Mas não me importava, não havia como a situação ser mais vergonhosa do que desmarcar o casamento. Saí pela porta sem que trocássemos mais nenhuma palavra e a sensação de que aquela era a última vez me oprimiu um pouco, mas não me permiti pensar muito sobre os detalhes do apartamento de Eduardo, logo substituindo a imagem pela imagem de Vivian entrando toda arrumada e perfumada com uma maleta para passar a noite. Comecei a me afastar do prédio, enfiando as mãos nos bolsos do casaco. A noite caiu por completo, mas ainda havia bastante movimento para um dia de semana. Meus pensamentos voaram para aquele primeiro buquê de flores e o pedido para continuarmos mantendo contato, algo que na época achei tão delicado e romântico. Telefonei para o escritório de Eduardo para agradecer as flores, mas quando me identifiquei para a secretária e disse que gostaria de deixar um recado, ela me transferiu para ele. Com o coração aos pulos disse que tinha achado o gesto amável. - E quanto a resposta? – ele perguntou numa voz macia e envolvente. E eu disse que sim, que gostaria que mantivéssemos contato. E depois disso uma série de visitas se desenrolaram, seguidas de jantares, cinemas e muitos outros passeios. Eu me sentia tão bem andando com um homem quase dez anos mais velho, principalmente quando ele me encontrava na frente do colégio e as outras meninas lançavam um olhar de curiosidade enquanto eu entrava no seu carro. Ficamos assim por alguns meses e então o fim do ano letivo se aproximou, e com ele o fim do ensino médio. Eduardo me levou para um romântico jantar seguido de um passeio de mãos dadas. - O fim se aproxima, então. – ele brincou, sabendo sobre a loucura de provas em que eu me encontrava, sempre em busca pelas notas mais altas. Ergui as mãos em comemoração. – É o fim para nós também? – embora o tom fosse brincalhão, pude perceber um toque de tristeza em sua voz. Olhei para ele, sem entender a ligação das duas coisas. – Você vai para a faculdade. – Eduardo disse, respondendo à pergunta que não fiz. – Não sei se vai querer ficar presa a um homem mais velho. – a forma como ele disse homem mais velho causou arrepios na minha pele. - Quero ficar com você. – respondi olhando em seus olhos. Acho que a intensidade foi forte o suficiente para fazê-lo acreditar, pois o assunto nunca mais voltou. Foi a única vez que Eduardo se sentiu inseguro quanto a nós dois. Coincidentemente, aquela foi a primeira noite que estive no seu apartamento. Eu me lembro de entrar, timidamente, observando os cômodos que ele apresentava, livres de muita decoração, até pararmos no quarto. Meu coração estava aos pulos, o ambiente cheirava o seu perfume e quando ele se aproximou - o peito na altura do meu queixo - o silêncio entre nós parecia adequado. Quando nossos beijos se tornaram longos demais para dar margem a outra coisa, Eduardo se afastou – a camisa amassada, os cabelos despenteados – e me perguntou se eu tinha certeza e eu, apesar de um pouco nervosa e com medo, tinha certeza sim. Afastei a memória enquanto colocava a chave na fechadura, grata pela minha mãe estar em uma viagem com o novo marido e pela minha irmã nunca estar em casa. Entrei no ambiente familiar, porém frio no quesito acolhimento. Por um instante fiquei ali parada, sem saber o que fazer, e pensei em Vivian já no apartamento de Eduardo – agora livre da minha presença. Corri até o telefone, jogando a bolsa de qualquer jeito na imensa mesa de jantar, onde nem mesmo jantamos mais há anos. - Alô. – a voz de Brenda, minha amiga dos tempos de escola, após o terceiro toque era reconfortante de verdade. - Oi. - respondi, sentindo minha voz desmoronar. - O que aconteceu? – ela perguntou no mesmo instante. E eu me vi contando em detalhes sobre o cancelamento do casamento e o caso dele com Vivian.4 meses depois... Andei pelas prateleiras da livraria da Cat – que agora era minha também -, conferindo se não havia nada fora do lugar. Como costume, estava tudo como gostávamos de deixar. Naquele horário da tarde o movimento era baixo, muitas pessoas ainda estavam trabalhando. Observei que havia apenas dois adolescentes usando os computadores e uma mulher tomando um café, então aproveitei para me sentar numa das confortáveis poltronas do espaço de leitura. Sair da casa da minha mãe com Catarina foi uma das melhores coisas que nós duas fizemos, sem dúvida. Agora ocupávamos um apartamento no
Conforme os quilômetros foram aumentando a distância entre Bernardo e eu, senti um aperto no peito. Quando ele acordasse e percebesse que eu tinha ido embora, ia pensar que tudo que aconteceu foi uma aventura da minha parte ou então uma forma que encontrei de ferir Eduardo. Não era verdade, mas já estava tarde demais para dizer alguma coisa. Talvez eu devesse ter deixado algum bilhete com uma explicação, por menor e confusa que fosse, apenas para ele saber que eu não banalizava a situação e como aqueles momentos juntos foram importantes para mim. - Você está bem? – Cat me olhou pelo retrovisor com uma expressão preocupada. Nós nos desentende
Jantar sozinho foi muito estranho depois de ter Alice tanto tempo seguido comigo. Eu pensava em nós dois juntos e a imagem me fazia sorrir, mesmo que o final tivesse sido conturbado. Havia me esquecido de como era boa a rotina com alguém, de como era bom dormir acompanhado e acordar e ver a outra pessoa adormecida em seus braços. Aqueles poucos momentos despertaram uma parte de mim que estava há muito tempo hibernando. Lancei um olhar pela janela, querendo muito saber o que estava acontecendo, o que Eduardo dizia à Alice, que explicações poderia inventar depois do tal “pressionado pelo casamento”.&
Passamos o fim de semana todo no quarto, saindo apenas para tomar banho e comer. Fazia muito tempo que eu não passava tanto tempo assim com alguém, mas me sentia ótimo e cheio de energia. Alice também parecia bem, completamente tranquila e a vontade. - Seu café também é bom. – ela sorriu, vestindo apenas uma de minhas camisas. O sol da manhã de domingo entrava pela cozinha, dando um ar caseiro ao ambiente, e eu observava o quanto ela ficava linda daquele jeito, sem nenhum tipo de arrumação. - Que bom que estou passando no teste de qualidade. – eu a beijei suavement
Receber Alice me deixava nervoso. Teria sido muito mais fácil levá-la para algum lugar, mas eu sentia o desejo de ter intimidade entre nós. O silêncio e nossas conversas, apenas. Espiei pela janela da cozinha enquanto finalizava o jantar e a vi conversando com Brenda e Catarina. Sabia que em instantes ela viria para minha casa, estava empolgado com isso, ansiando pelo momento que ficaríamos a sós. Notei um clima tenso no ar entre as três, e novamente me perguntei se estavam brigadas. Eu tinha a impressão de que eram muito próximas e carinhosas umas com as outras, então não era possível que algo não estivesse acontecendo.&nb
Durante a semana seguinte, passei o tempo livre entre as aulas e os cuidados com os jardins espreitando a casa ao lado. Sabia que Alice e suas companheiras não tinham ido embora, mas não via qualquer sinal delas. Quando, finalmente, chegou a noite de quarta-feira, estava decidido a procurá-la. Apesar de sua reação estranha, poderia ser que estivesse esperando uma posição minha, principalmente porque Alice havia sido rejeitada pelo noivo pouco tempo antes. Eu não queria que ela pensasse que eu a estava rejeitando também. Toquei a campainha e quem abriu a porta foi Brenda, que me sorriu, apesar da expressão de espanto.&
Último capítulo