Capítulo 3
A bolsa de pesquisa na Suíça duraria quatro anos. O diretor já havia mandado dois e-mails, ansioso para que eu começasse no outono. Quatro anos no exterior. Longe de James. Longe de Vicky. Enviei o “Aceitar” antes que pudesse pensar demais.

A noite anterior se repetia na minha cabeça. Eu realmente chegara a cogitar só mais uma vez iniciar algo com James. Uma última lembrança para levar comigo. Mas ele passara a noite com Vicky, provavelmente sussurrando doces palavras sob a lua.

Essa era a diferença entre amor e... seja lá o que isso fosse.

O que eu não conseguia entender era como um homem podia fingir desejo com tanta convicção por alguém que não amava. Para evitar repetir a humilhação da noite anterior, decidi retirar minhas coisas ainda hoje. Três semanas até o divórcio ser oficializado. Três semanas evitando esta casa.

A maior parte da minha vida já estava no alojamento do campus, restando apenas uma mala de roupas aqui. O único objeto pessoal era o álbum de fotos na gaveta de cabeceira.

Folheei a capa grossa de couro. Todos os meses, sem falhar, eu arrastava James para um estúdio fotográfico. Eu, sorrindo como uma idiota. Ele, rígido como uma estátua, olhando para qualquer lugar menos para a câmera.

O álbum caiu no cesto de lixo com um baque seco. Nem o caminhão de reciclagem iria querer essa história de amor contaminada.

Por anos, eu fora apenas uma espectadora da vida de James Moretti. Agora, a cortina havia caído. Era hora de fazer minha saída.

As duas semanas seguintes passaram em um borrão de revisões de tese e trabalho no laboratório. Mal pensei em James até que sua ligação interrompeu minha reunião de pesquisa na sexta-feira.

— Estou na porta do seu laboratório. — A voz dele crepitou no telefone.

Desde quando James Moretti fazia papel de motorista?

O sedã preto dele estava parado na calçada. Entrei no banco de couro, inalando o cheiro familiar de seu perfume e de óleo de arma.

— Você não tem ido para casa. — Os olhos dele permaneceram fixos na estrada.

— O laboratório está cheio de trabalho.

— Ótimo. — Seus dedos tamborilaram no volante. — A Vicky achou que você estava evitando ela. Vai se mudar no mês que vem, diz que agora é “inadequado”.

Bocejei.

— Diz para ela não se incomodar. Não me importo.

O aperto de James no volante se intensificou, os nós dos dedos esbranquiçando. Um lampejo de surpresa passou por seu rosto. Abriu a boca, provavelmente para elogiar minha “maturidade”, mas se calou quando percebeu meus olhos fechados.

Fingi dormir para evitar conversa, mas o cansaço era real. Pela primeira vez em anos, meus sonhos não eram sobre ele.

Dez dias até a Suíça.

Eu estava no corredor do supermercado, encarando as fatias secas de espinheiro na minha mão. Não comia aquilo desde a infância, mas ultimamente meu estômago se revirava com qualquer outra coisa. Minha última menstruação também estava atrasada.

O teste de gravidez confirmou meus temores.

— Doze semanas. — Disse o médico com entusiasmo. — Parabéns!

Quase ri. Doze semanas. Isso significava que havia acontecido na última vez em que James e eu ficamos juntos, logo antes de Vicky voltar.

Minhas mãos tremiam enquanto eu discava o número de James. Aos vinte e quatro anos, enfrentar isso sozinha me apavorava.

Um toque de celular familiar ecoou pelo corredor.

James estava a poucos metros de distância, o casaco preto dele pendurado nos ombros de Vicky, que lhe sussurrava algo capaz de arrancar um sorriso dele. Desliguei a chamada e me enfiei na escada de emergência.

— Evite atividades extenuantes. — A voz do médico ecoou pela porta entreaberta. — E nada de relações sexuais por dois meses.

Vicky também estava grávida.

— Vou garantir que ela descanse. — Disse James, com aquele tom terno que raramente saía de sua boca.

Disparei pela escada como uma bala, desesperada para escapar, mas trombei de frente com uma enfermeira carregando prontuários. Os papéis voaram pelo ar, fazendo barulho suficiente para atrair a atenção do outro lado do corredor.

James saiu da sala de exames a tempo de me ver agachada, recolhendo os documentos espalhados, o rosto em chamas pelo esforço de parecer composta.

— Sophia? — Ele franziu a testa, avançando. — O que você está fazendo aqui?

— Dor de estômago. — Amassei o papel do ultrassom no bolso.

Vicky surgiu ao lado dele, segurando seu próprio exame.

— O James me disse que você anda pulando refeições. — Ela deu um tapinha no braço dele. — A gente devia comprar um chá de gengibre para ela.

Não consegui tirar os olhos da imagem que Vicky segurava. A fotografia em preto e branco, granulada, parecia pulsar sob as luzes fortes do hospital.

O rosto de James empalideceu.

— Sophia, deixa eu explicar.

— James! — Os dedos de Vicky cravaram na manga do casaco dele como garras, a voz pingando falsidade açucarada. — Nós conversamos sobre isso.

Vi o conflito passar pelo rosto dele, os músculos se contraírem, a mão se mover antes de fechar num punho.

Então, Vicky encostou o rosto no ombro dele, sussurrando algo que o fez congelar. O braço dele caiu ao lado do corpo, pesado como chumbo.

Virei antes que pudessem ver meu rosto desmoronar. Atrás de mim, ouvi James dar meio passo na minha direção.

— James! — A voz de Vicky se tornou cortante. — Você prometeu.

As portas do elevador se fecharam sobre a imagem do meu marido parado entre duas mulheres, os olhos fixos em mim com algo que quase parecia arrependimento.

Lá fora, o ar de inverno estapeou meu rosto. A carta de aceitação do instituto estava enterrada no fundo da minha mochila. Quatro anos. Um estudo inovador. Uma vida longe dessa confusão.

E agora, um bebê.

Minha mão pousou sobre o ventre ainda plano, mas tudo havia mudado. A calçada se estendia infinitamente nas duas direções.

Pela primeira vez na vida, eu não tinha para onde ir.
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