Salvatore observou seus homens se dispersarem, cada um com sua tarefa, como engrenagens bem ajustadas de uma máquina que não podia falhar. Ele ficou ali, imóvel, tentando se concentrar, mas sua mente insistia em voltar a Olivia. Lembrava-se de seu rosto, de seus olhos teimosos, e da maneira como ela não cedeu, mesmo quando ele tentou se afastar. Ele não podia negar que, ao olhar para ela, algo dentro dele mudava. Algo que ele nunca imaginou que fosse sentir, ou que sequer tivesse permissão para sentir. A guerra, ele sabia, não era um lugar para sentimentos. Sentimentos eram fracos, uma distração perigosa. Mas Olivia... ela havia se infiltrado em seu coração de maneira sutil, quase imperceptível. E agora, a ausência dela era como uma ferida aberta. Ele tentou afastar o pensamento, mas o rosto dela continuava a surgir, uma sombra constante em sua mente. “Foco, Salvatore”, ele murmurou para si mesmo, apertando as mãos ao lado do corpo. Não podia se dar ao luxo de pensar nela agora. Nã
O motor do caminhão rugia sob os pés dos soldados. Salvatore subiu na cabine, sentando-se ao lado do motorista, mas sua mente já estava quilômetros à frente. O rádio chiava intermitente, vozes se sobrepondo, comandos, coordenadas. Ele pegou o transmissor e pressionou o botão. — Aqui é o Capitão Salvatore. Esquadrão Alfa preparado para deslocamento. Câmbio. A resposta veio rápida, com o som estático por trás: — Central confirma. Permissão para avançar concedida. Boa sorte, capitão. Câmbio final. Ele colocou o rádio de volta no suporte, olhou pelo retrovisor para os homens no compartimento traseiro, todos prontos, concentrados, silenciosos. O veículo começou a se mover, sacudindo com o terreno irregular. Salvatore quebrou o silêncio da cabine com um murmúrio quase inaudível: — Sem margem para erros. O motorista, um rapaz jovem chamado Fede, o olhou de canto. — O senhor sempre parece calmo antes das missões, capitão. Como consegue? — Eu não estou calmo, Fede — respondeu
O céu mudou em questão de segundos. Um assobio cortante rasgou o ar, seguido por uma explosão tão forte que o chão tremeu sob os pés dos soldados. Terra e estilhaços voaram em todas as direções. O primeiro impacto acertou a retaguarda — onde estavam os caminhões de apoio. — Bomba! Cuidado! — gritou um dos soldados, atirando-se ao chão. Salvatore caiu com força ao lado de um bloco de concreto, protegendo o rosto com o antebraço enquanto a onda de choque varria o campo. Os gritos começaram logo depois. Um chamado desesperado por socorro, o barulho de corpos sendo jogados contra o solo, e o som abafado do rádio tentando continuar ativo em meio à interferência. — Aqui é o soldado Ferraro! Capitão, fomos atingidos! Preciso de ajuda no flanco leste! — Fiquem nas posições! — berrou Salvatore pelo rádio. — Ninguém se move até confirmarmos se o bombardeio cessou! Mas não cessou. O segundo ataque veio em seguida, mais forte. Uma explosão tão próxima que atirou dois soldados para trá
A inquietação corroía Olivia por dentro. O pressentimento ruim não a deixava em paz desde o momento em que Salvatore partiu. Ela tentara, com todas as suas forças, convencê-lo a ficar, mas ele era determinado. Servir ao seu país e ao seu esquadrão vinha em primeiro lugar. Ainda assim, a despedida deles foi dolorosa. Ela se lembrava do toque quente das mãos dele segurando seu rosto, das palavras sussurradas, carregadas de promessas que ela temia nunca mais ouvir. "Eu não posso te prometer voltar, mas eu vou dar o meu melhor para isso acontecer." Mas e se não voltasse? Os dias seguiam arrastados, e Olivia se via presa em um ciclo de medo e esperança. Ligava o noticiário a cada hora, procurando informações sobre ataques, emboscadas, qualquer coisa que pudesse indicar o que estava acontecendo no Afeganistão. Mas tudo que recebia era silêncio. Seu coração pesava no peito como se estivesse preso por correntes invisíveis. Não havia mensagens, nem ligações, apenas uma angustiante falta
Salvatore estava vivo. Ferido, isolado e sem comunicação, mas vivo. E não era o tipo de homem que se rendia. Sangue escorria da lateral da testa, misturando-se à poeira que cobria seu rosto. Cada passo era um esforço sobre-humano, a perna latejando, mas ele mantinha os olhos atentos, os sentidos afiados. Estava em território inimigo — e qualquer barulho, qualquer sombra, podia ser uma ameaça. A lembrança da explosão voltava em flashes rápidos. Gritos. Fogo. Fragmentos voando pelo ar. Ele não sabia como havia sobrevivido, só sabia que acordara sob os escombros, sozinho. Nenhum sinal do esquadrão. Nenhum sinal de ajuda. Mas havia uma coisa que o mantinha em movimento. Olivia. Seu rosto era uma âncora em meio ao caos. Aqueles olhos verdes, a forma como ela sorria mesmo quando tentava esconder o medo. Ela havia pedido para ele não ir. Ele quase cedeu. Mas era soldado antes de qualquer coisa. E agora, cada passo era por ela. Enquanto caminhava pela trilha de destroços, Salvatore enco
Olivia estava no avião, olhando pela janela enquanto o voo se aproximava da Itália. O coração batia forte, uma mistura de excitação e ansiedade. Havia algo sobre aquele momento que a fazia sentir como se estivesse retornando a um lugar que sempre foi seu, mas ao mesmo tempo, um lugar que ela havia perdido há tanto tempo. As lembranças da infância, os aromas das ruas de Roma, as tardes quentes na Toscana, tudo aquilo a invadia com uma intensidade que a fazia quase querer fechar os olhos para não ser dominada pela emoção. "Eu nunca soube o quanto sentia falta disso até agora", ela pensava, apertando os dedos contra o vidro da janela. "A Itália tem uma forma de envolver a gente, como se tudo ao redor sussurrasse sua história, e você se perde entre os ecos do passado e os sonhos do futuro." Olivia fechou os olhos por um momento, imaginando as ruas que tanto conhecia, as pedras antigas sob seus pés, o som das pessoas conversando nos cafés e a maneira como o sol se punha lentamente atrás
Olivia havia decidido surpreender o pai, Riccardo Fiore, com sua volta repentina à Itália. Depois de anos longe, vivendo na Rússia e se acostumando à solidão, ela sabia que seu relacionamento com o pai havia ficado frio, distante. Ela queria quebrar essa barreira e mostrar a ele que, apesar de sua vida independente, ela ainda se importava e queria fazer parte da sua vida. Essa seria a primeira surpresa, um gesto simples, mas significativo. Ela só não imaginava que um outro tipo de surpresa estava prestes a acontecer. Ao chegar à entrada da base militar, Olivia ficou momentaneamente paralisada pela imponência do local. A base exalava um ar de disciplina e poder, algo completamente diferente da Rússia, mas ainda assim familiar. Ela sabia que seu pai, como general, era uma figura respeitada ali, e isso a fazia sentir-se ainda mais distante, como se estivesse entrando no território de alguém muito diferente de si mesma. Quando Olivia se aproximou da entrada, foi abordada por um soldado.
Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava. A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária. -Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria. Não sabia que voltaria tão cedo. Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo. O fato de ele ser um