O general Riccardo estava sentado atrás de sua grande mesa de carvalho, o olhar severo fixo nos documentos espalhados à sua frente. O relógio na parede marcava o final da tarde quando ele ouviu batidas firmes na porta. — Entre — disse com a autoridade característica de quem carregava o peso de decisões difíceis. Salvatore entrou com passos decididos, seu uniforme impecável, o semblante austero. Parou a alguns metros da mesa e saudou com firmeza. — General. Riccardo ergueu os olhos, analisando-o por um instante. Salvatore era mais do que um capitão — era o soldado mais disciplinado, leal e eficaz que já comandara. Um homem moldado pela guerra, mas ainda humano o suficiente para que o conflito deixasse marcas. — Sente-se, capitão — ordenou, apontando para a cadeira à sua frente. Salvatore sentou-se sem hesitação, mantendo-se ereto, o olhar firme. — Chamou-me, senhor? Riccardo respirou fundo antes de falar. — A situação no Afeganistão piorou, como você deve ter visto
O céu ainda estava pintado em tons de azul escuro quando Olivia acordou com o toque suave dos dedos de Salvatore deslizando por sua bochecha. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve farfalhar do vento do lado de fora. Ela piscou lentamente, os olhos ainda pesados de sono, até que o viu completamente vestido com o uniforme de combate. Ela se ergueu num sobressalto, sentindo o coração apertar no peito. — Já vai...? — sussurrou, a voz embargada. Salvatore assentiu com um movimento lento da cabeça. Seus olhos, normalmente frios no campo de batalha, estavam agora cobertos por uma névoa de sentimentos contidos. — Está na hora — disse, com a voz grave, mas serena. Olivia desceu da cama às pressas, vestindo o robe de seda por cima da camisola. Ela se aproximou dele e pousou as mãos sobre o peito firme, sentindo as batidas ritmadas sob o tecido grosso. — Ainda dá tempo de dizer que não... — ela sussurrou, mesmo sabendo que não adiantaria. Salvatore segurou as mãos dela com cuidado,
Salvatore estava a bordo de um avião militar, os motores potentes rugindo enquanto ele observava pela janela, a vastidão do deserto se estendendo abaixo dele. O Afeganistão estava agora à sua frente, uma terra árida e marcada pela guerra, com montanhas imponentes que pareciam desafiadoras e intimidantes. A missão era clara, mas o peso da partida ainda pesava sobre ele, como uma sombra que não o deixava. Ele se endireitou na cadeira, ajustando o uniforme com um gesto automático, tentando afastar os pensamentos que insistiam em invadir sua mente. Pensava em Olivia, em como ela tinha ficado, em como o corpo dela havia se encaixado perfeitamente no seu naquela última noite. A lembrança de seu sorriso, de seus olhos, ainda estavam presentes em sua mente, e ele se pegava pensando em como faria falta. Mas havia algo ainda mais forte dentro dele: a necessidade de cumprir sua missão, de proteger seus homens e garantir que a guerra fosse vencida, sem promessas vazias. O avião fez uma curva, e
Salvatore observou seus homens se dispersarem, cada um com sua tarefa, como engrenagens bem ajustadas de uma máquina que não podia falhar. Ele ficou ali, imóvel, tentando se concentrar, mas sua mente insistia em voltar a Olivia. Lembrava-se de seu rosto, de seus olhos teimosos, e da maneira como ela não cedeu, mesmo quando ele tentou se afastar. Ele não podia negar que, ao olhar para ela, algo dentro dele mudava. Algo que ele nunca imaginou que fosse sentir, ou que sequer tivesse permissão para sentir. A guerra, ele sabia, não era um lugar para sentimentos. Sentimentos eram fracos, uma distração perigosa. Mas Olivia... ela havia se infiltrado em seu coração de maneira sutil, quase imperceptível. E agora, a ausência dela era como uma ferida aberta. Ele tentou afastar o pensamento, mas o rosto dela continuava a surgir, uma sombra constante em sua mente. “Foco, Salvatore”, ele murmurou para si mesmo, apertando as mãos ao lado do corpo. Não podia se dar ao luxo de pensar nela agora. Nã
O motor do caminhão rugia sob os pés dos soldados. Salvatore subiu na cabine, sentando-se ao lado do motorista, mas sua mente já estava quilômetros à frente. O rádio chiava intermitente, vozes se sobrepondo, comandos, coordenadas. Ele pegou o transmissor e pressionou o botão. — Aqui é o Capitão Salvatore. Esquadrão Alfa preparado para deslocamento. Câmbio. A resposta veio rápida, com o som estático por trás: — Central confirma. Permissão para avançar concedida. Boa sorte, capitão. Câmbio final. Ele colocou o rádio de volta no suporte, olhou pelo retrovisor para os homens no compartimento traseiro, todos prontos, concentrados, silenciosos. O veículo começou a se mover, sacudindo com o terreno irregular. Salvatore quebrou o silêncio da cabine com um murmúrio quase inaudível: — Sem margem para erros. O motorista, um rapaz jovem chamado Fede, o olhou de canto. — O senhor sempre parece calmo antes das missões, capitão. Como consegue? — Eu não estou calmo, Fede — respondeu
O céu mudou em questão de segundos. Um assobio cortante rasgou o ar, seguido por uma explosão tão forte que o chão tremeu sob os pés dos soldados. Terra e estilhaços voaram em todas as direções. O primeiro impacto acertou a retaguarda — onde estavam os caminhões de apoio. — Bomba! Cuidado! — gritou um dos soldados, atirando-se ao chão. Salvatore caiu com força ao lado de um bloco de concreto, protegendo o rosto com o antebraço enquanto a onda de choque varria o campo. Os gritos começaram logo depois. Um chamado desesperado por socorro, o barulho de corpos sendo jogados contra o solo, e o som abafado do rádio tentando continuar ativo em meio à interferência. — Aqui é o soldado Ferraro! Capitão, fomos atingidos! Preciso de ajuda no flanco leste! — Fiquem nas posições! — berrou Salvatore pelo rádio. — Ninguém se move até confirmarmos se o bombardeio cessou! Mas não cessou. O segundo ataque veio em seguida, mais forte. Uma explosão tão próxima que atirou dois soldados para trá
A inquietação corroía Olivia por dentro. O pressentimento ruim não a deixava em paz desde o momento em que Salvatore partiu. Ela tentara, com todas as suas forças, convencê-lo a ficar, mas ele era determinado. Servir ao seu país e ao seu esquadrão vinha em primeiro lugar. Ainda assim, a despedida deles foi dolorosa. Ela se lembrava do toque quente das mãos dele segurando seu rosto, das palavras sussurradas, carregadas de promessas que ela temia nunca mais ouvir. "Eu não posso te prometer voltar, mas eu vou dar o meu melhor para isso acontecer." Mas e se não voltasse? Os dias seguiam arrastados, e Olivia se via presa em um ciclo de medo e esperança. Ligava o noticiário a cada hora, procurando informações sobre ataques, emboscadas, qualquer coisa que pudesse indicar o que estava acontecendo no Afeganistão. Mas tudo que recebia era silêncio. Seu coração pesava no peito como se estivesse preso por correntes invisíveis. Não havia mensagens, nem ligações, apenas uma angustiante falta
Salvatore estava vivo. Ferido, isolado e sem comunicação, mas vivo. E não era o tipo de homem que se rendia. Sangue escorria da lateral da testa, misturando-se à poeira que cobria seu rosto. Cada passo era um esforço sobre-humano, a perna latejando, mas ele mantinha os olhos atentos, os sentidos afiados. Estava em território inimigo — e qualquer barulho, qualquer sombra, podia ser uma ameaça. A lembrança da explosão voltava em flashes rápidos. Gritos. Fogo. Fragmentos voando pelo ar. Ele não sabia como havia sobrevivido, só sabia que acordara sob os escombros, sozinho. Nenhum sinal do esquadrão. Nenhum sinal de ajuda. Mas havia uma coisa que o mantinha em movimento. Olivia. Seu rosto era uma âncora em meio ao caos. Aqueles olhos verdes, a forma como ela sorria mesmo quando tentava esconder o medo. Ela havia pedido para ele não ir. Ele quase cedeu. Mas era soldado antes de qualquer coisa. E agora, cada passo era por ela. Enquanto caminhava pela trilha de destroços, Salvatore enco