Salvatore saiu do gabinete do general sem dizer mais uma palavra. Seus passos ecoavam pelo corredor com a mesma precisão que sua mente trabalhava — fria, focada, implacável. Aquilo não era apenas uma missão, não mais. Era algo pessoal, embora ele ainda se recusasse a admitir. Seguiu direto para o alojamento onde ficavam armazenadas as fichas dos soldados e registros internos. Precisava de nomes. Rostos. Pistas. Fechou a porta atrás de si e acendeu a luminária sobre a mesa. O ar ali era empoeirado e o silêncio quase absoluto, exceto pelo som dos papéis sendo folheados. Começou a vasculhar arquivos antigos, cruzando nomes com registros de turnos, autorizações de acesso, câmeras de segurança, tudo que pudesse ligar alguém da base a Mikhail. Horas se passaram. A luz do dia já se dissolvia em sombras, e seus olhos estavam ardendo. Até que um nome apareceu com mais frequência do que deveria. Um sargento: Viktor Marchetti. A ficha estava limpa demais. Boa conduta, sem faltas, mas… aces
Na manhã seguinte, Olivia acordou com o coração inquieto, como se algo dentro dela estivesse se preparando para desabar. O dia amanhecia com uma calma aparente, mas o silêncio da casa parecia mais denso que o normal. Desde que soube que Salvatore estava investigando o assalto, ela não conseguia parar de pensar nele — em como estaria lidando com isso, em como ele levava tudo tão a sério, como se o mundo estivesse sempre pendendo entre o dever e a guerra. Vestiu-se devagar, prendeu o cabelo com pressa e caminhou até a cozinha, onde o café já estava sendo preparado por uma das funcionárias da casa. Agradeceu com um aceno e pegou a caneca, mas não sentou-se. Caminhou até a janela e observou o portão principal lá fora. Parte de si esperava vê-lo ali, parado como da última vez, rígido e silencioso… mas não havia ninguém. Sentia-se inútil, um peso no meio da tempestade. Ela queria ajudar, queria fazer parte de algo, não apenas ser protegida como uma peça frágil. Mas seu pai já havia deixad
Salvatore observava o movimento ao redor com atenção cirúrgica. Estava de volta às ruas onde o assalto havia acontecido, mas dessa vez, com olhos diferentes. Já não era apenas um soldado cumprindo ordens — era um predador em silêncio, caçando cada detalhe que pudesse lhe dar respostas. A área parecia tranquila, mas ele sabia que a quietude muitas vezes escondia o caos. Parou diante de um beco estreito, onde uma das câmeras da base havia captado o vulto de um homem fugindo após o ataque. A imagem era borrada, quase inútil, mas a altura, o porte físico… tudo batia com Viktor. “Você queria vingança, não é?” — pensou, os olhos escuros se estreitando. “Mas foi burro o suficiente pra deixar rastros.” Seguiu até uma antiga oficina mecânica, uma das poucas próximas dali que ainda funcionava. Segundo o levantamento, Viktor costumava frequentar o local em horários estranhos, principalmente à noite. Salvatore entrou com passos firmes, uniforme impecável, olhar firme como aço. O dono da ofic
O vento balançava levemente as cortinas da sala quando Olivia se sentou no sofá com um livro nas mãos, mas os olhos não liam nenhuma palavra. A cabeça estava distante, pesada. A sensação de estar sendo observada persistia, mesmo dentro de casa. Ela tentava ignorar, tentava se convencer de que era apenas paranoia — fruto dos últimos acontecimentos — mas a inquietação não passava. Passou os dedos pelos cabelos, respirando fundo. — Você está perdendo o controle, Olivia… — murmurou. Desde que voltara da base, não havia sinal de Salvatore. Nenhuma mensagem, nenhum recado, nada. E isso a consumia mais do que gostaria de admitir. Ela sabia que ele era dedicado, que devia estar imerso em alguma missão, mas... custava mandar um aviso? Um "está tudo sob controle"? Um "estou vivo"? Levantou-se com irritação e foi até a janela. Observou o movimento da rua — tranquila como sempre — mas seus olhos estavam fixos em nada. Queria vê-lo. Queria ouvir sua voz. De repente, o som agudo do interf
O general Riccardo Fiore estava na base militar desde a noite anterior. As luzes do gabinete ainda estavam acesas quando o relógio marcava 6h47 da manhã. Ele terminava de revisar relatórios sobre os últimos avanços na investigação do assalto, com as sobrancelhas tensas e o olhar fixo no papel, quando o telefone da base tocou — o toque direto, usado apenas em casos urgentes. — General Fiore — atendeu com firmeza. A voz do soldado do outro lado estava carregada de urgência: — Senhor… recebemos uma chamada da equipe de vigilância enviada à sua residência. Dois seguranças foram encontrados mortos. A senhorita Olivia… ela não está na casa. Tudo indica que foi levada. Por um segundo, o tempo pareceu parar. Riccardo apertou o telefone contra o ouvido, os nós dos dedos esbranquiçando. — Tem certeza disso? — sua voz saiu baixa, mas cheia de uma tensão contida. — Sim, senhor. Já lacramos a área e iniciamos a varredura. Mas… havia sinais claros de retirada forçada. Não houve tempo para re
O frio do chão de pedra penetrava pelos joelhos de Olivia. Estava em um cômodo pequeno, mal iluminado, com paredes úmidas e sem janelas. Suas mãos estavam amarradas para trás com uma fita plástica apertada, que cortava sua pele a cada movimento. A cabeça doía — não sabia se era pelo golpe que levara ao tentar escapar ou pelo medo que queimava por dentro. Viktor havia sumido depois que a trancou ali. O silêncio era quase ensurdecedor. A última coisa que lembrava com clareza era o som abafado de um tiro... o corpo de um dos seguranças caindo ao chão... e o gosto de desespero invadindo sua garganta. Ela respirava rápido, o coração acelerado, mas os olhos permaneciam abertos, atentos. Não podia se dar ao luxo de ceder ao pânico. "Se ele te trancou, é porque ainda precisa de você viva." Era o único pensamento racional que conseguia sustentar. Tentou puxar as mãos com força, procurando uma forma de escapar da amarra, mas a dor foi imediata. Suas lágrimas escorreram silenciosas. Não de
Salvatore ajustou o colete tático e prendeu o comunicador no ouvido. Os olhos escaneavam o mapa digital em suas mãos pela última vez. Estava diante de uma propriedade afastada, rodeada por mata densa e acessos limitados. Tudo indicava que aquele era o lugar. O silêncio ali era denso, opressor — e ele sabia que estava perto demais para recuar agora. Fechou o mapa e caminhou em direção ao helicóptero, onde o piloto o aguardava, atento. — Vou entrar sozinho — disse, firme. — Estudei o perímetro, conheço os pontos cegos. Vai parecer um acesso suicida, mas é a única brecha que encontrei. O piloto franziu o cenho, preocupado. — Tem certeza? Podemos tentar uma abordagem aérea, chamar reforço... — Ainda não — interrompeu Salvatore. — Se chamarmos atenção demais, eles podem eliminar ela antes mesmo de alguém colocar os pés lá dentro. E isso não vai acontecer. Fez uma pausa, os olhos voltando para o helicóptero. — Mas se eu não voltar dentro de duas horas, ou se perder o sinal do meu ras
O helicóptero pousou com um estrondo suave na plataforma do hospital militar. O som das hélices ainda reverberava no ar enquanto os médicos e enfermeiros se preparavam para a chegada de Olivia. Salvatore a retirou da aeronave com precisão, apesar de sua mente estar um turbilhão. Cada segundo parecia uma eternidade, mas ele não podia demonstrar fraqueza. Olivia estava em péssimo estado. Seu corpo, agora inerte nos braços dele, parecia mais frágil a cada movimento. — Médicos! — gritou Salvatore para os profissionais que aguardavam ao lado da ambulância. Imediatamente, uma equipe correu até ele, preparando uma maca. — Ela está consciente? — perguntou o médico, observando Olivia com atenção. — Não muito — Salvatore respondeu, os dentes cerrados. — Ela estava sendo torturada, está fraca, mas ainda respira. Olivia fez um som baixo, como se tentasse se comunicar, mas as palavras se perderam. Seus olhos se abriram um pouco mais, e ela conseguiu focar em Salvatore. Um pequeno sorriso, fr