69. Alívio e dor
O silêncio dentro do carro era tão espesso que parecia me sufocar. O som do motor, o leve barulho dos pneus contra o asfalto, o piscar ritmado do semáforo — tudo parecia distante, como se eu estivesse presa em um sonho do qual não conseguia acordar. Eu olhava pela janela, as luzes da cidade desfilando em borrões amarelados, e por um momento desejei desaparecer nelas.
Kairos dirigia com o maxilar travado, os dedos firmes no volante. Nenhuma palavra. Nenhum olhar. Apenas aquele silêncio cortante, pesado demais para caber entre nós dois.
Depois de alguns minutos, ele parou o carro em frente a um prédio que eu reconheci imediatamente. O prédio dele.
Minha respiração falhou.
— Eu quero ir para casa, Kairos — murmurei, olhando para o lado de fora.
Ele desligou o motor, abriu a porta e deu a volta até o meu lado. Quando abriu a porta, o ar frio da madrugada entrou e me envolveu.
— Você não vai ficar sozinha hoje — ele disse, a voz firme, sem espaço para contestação. — Isso está fora de