Enquanto lavava o rosto, não consegui deixar de sorrir diante do reflexo no espelho. Eu ainda sentia o efeito dele em mim: o calor, o desejo, mas também uma confiança que eu não experimentava há anos. O toque de Kairos não era apenas físico; havia algo na forma como ele me olhava, na maneira como me segurava, que me fazia sentir valorizada, desejada e, ao mesmo tempo, segura.
Vesti uma saia preta e uma camisa branca ajustada, tentando parecer composta, embora meu coração ainda batesse mais rápido que o normal. Cada gesto era uma mistura de rotina e memória: arrumei o cabelo, coloquei o salto, ajustei a bolsa sobre o ombro e respirei fundo antes de sair do apartamento. O mundo lá fora não sabia do que acontecera ali dentro. E talvez, por enquanto, fosse melhor que permanecesse assim. No trajeto até o escritório, o trânsito parecia mais pesado que o habitual. Cada luz vermelha me fazia pensar em Kairos, em como ele tinha me observado, segurado minha cintura, sussurrado meu nome. A lembrança de seus olhos, intensos e penetrantes, fazia meu coração acelerar sem aviso. Ao mesmo tempo, uma parte de mim tentava manter o controle, lembrando que aquela era apenas a rotina, que havia reuniões, tarefas e responsabilidades que exigiam minha concentração. Cheguei ao prédio do escritório com o estômago apertado de expectativa. O elevador subiu silencioso, e eu me preparei para enfrentar Kairos com a postura mais profissional possível. Mas sabia que não seria fácil. Ele sempre tinha uma maneira de me desarmar sem precisar tocar em mim, apenas com a intensidade do olhar, a cadência da voz, os gestos sutis que apenas nós dois percebíamos. Assim que entrei na recepção, avistei-o imediatamente. Kairos estava impecável, terno escuro, gravata perfeitamente alinhada, a postura rígida e impecável que sempre exigia de si mesmo. Mas havia algo diferente hoje: uma tensão quase imperceptível nos ombros, uma energia contida que eu reconhecia perfeitamente. O olhar dele percorreu meu corpo com discrição, mas intensa o suficiente para que eu sentisse cada centímetro da sua atenção. Um pequeno sorriso curvou seus lábios, tão sutil que ninguém mais poderia notar, mas que me fez prender a respiração. — Bom dia, Mia. — disse, controlado, mas com aquela cadência que sempre me desestabilizava. — Bom dia, Sr. Kairos. — respondi, firme, tentando manter a compostura enquanto sentia o calor subir às minhas bochechas. Ele virou-se para a mesa sem comentar mais nada, mas antes que pudesse me perder nos pensamentos, percebi o jeito com que ele ajustou a gravata, a lapela do terno, os dedos quase roçando na minha mão ao entregar alguns documentos a outro colega. Cada movimento calculado, cada gesto sutil, transmitia mais do que simples rotina: havia desejo contido, provocação silenciosa. Sentei-me em minha mesa, tentando organizar os papéis e iniciar o dia, mas cada gesto, cada som do escritório, parecia amplificado pela lembrança da noite passada. O tilintar de uma caneta, o deslizar de uma cadeira, até o som do próprio Kairos respirando enquanto caminhava entre as mesas me deixava alerta. Ele falava com os colegas com a precisão de sempre, mas seus olhares rápidos, discretos, frequentemente se voltavam para mim. Pequenas provocações: um comentário seco, um toque quase casual em um documento, um passo ligeiramente mais próximo do que o necessário. E cada vez, meu corpo respondia de maneira involuntária. Durante a primeira reunião do dia, ele se sentou ao meu lado. Não houve toque, apenas a proximidade. Mas foi suficiente. Senti o calor da perna dele encostar levemente na minha, um choque de eletricidade quase imperceptível. Meu coração disparou. Ele não precisava falar nada; a tensão no ar dizia tudo. Quando me entregou alguns papéis para revisar, nossos dedos se tocaram por acaso — um toque mínimo, mas que fez meu corpo reagir de forma inesperada. — Mia, veja se esses números conferem antes da reunião com a diretoria. — disse baixinho, de modo que apenas eu pudesse ouvir. — Claro. — respondi, sentindo os dedos tremerem levemente. Ele se inclinou levemente, o perfume atingindo-me de forma súbita, quase insuportável. Não havia espaço para se distrair, mas cada gesto dele exigia que eu resistisse, que mantivesse a postura. A tensão era silenciosa, mas esmagadora. Cada passo dele, cada inclinar de cabeça, cada palavra medida parecia feita para provocar minha atenção sem jamais quebrar as regras do escritório. O dia avançava, entre reuniões, chamadas e documentos, mas a tensão entre nós persistia. Cada interação era carregada de subentendidos, mesmo que discreta demais para qualquer outro perceber. Ele falava comigo apenas o necessário, mas havia uma cadência, uma escolha de palavras que insinuava que a noite passada ainda estava viva em nossos corpos. Quando seus olhos encontravam os meus, um lampejo de intensidade surgia, e meu estômago se revirava de forma incontrolável. No almoço, sentados à mesma mesa, a situação era ainda mais palpável. O ambiente cheio de colegas e barulho parecia desaparecer. Ele falava com os outros, mas eu sentia cada olhar lançado em minha direção, cada pequeno gesto calculado. Um sorriso rápido, um levantar de sobrancelha discreto, a inclinação de um corpo em minha direção — tudo era provocação. Cada gesto me lembrava da noite, da intimidade compartilhada, e ao mesmo tempo do controle que ele ainda mantinha sobre si e sobre mim. — Mia, revise este contrato antes da reunião da tarde. — disse baixinho, entregando-me os documentos com o olhar fixo nos meus. — Sim, Sr. Kairos. — murmurei, sentindo meu corpo responder à presença dele. Ele se afastou com calma, ajustando a gravata, mas mantendo os olhos em mim. Cada passo dele parecia estudado, provocando uma reação em mim sem tocar, sem dizer nada explícito. E eu, por minha vez, mantinha a postura profissional, mas cada músculo do meu corpo estava alerta, reagindo a cada mínima provocação. Ao longo da tarde, a tensão entre nós se manteve. Entre uma reunião e outra, ele passava ao meu lado, e nossos olhares se cruzavam. Ele não precisava falar nada, apenas estar próximo era suficiente. Cada gesto, cada movimento, cada palavra cuidadosamente escolhida construía uma rede de provocação silenciosa, mantendo-me constantemente consciente da presença dele. Quando o expediente finalmente terminou, Kairos levantou-se da cadeira, ajustando o paletó e a gravata. Ele caminhou até mim, entregando um último documento, e por um instante nossos dedos se tocaram novamente, um toque breve, mas carregado de significado. — Até amanhã, Mia. — disse, firme, mas carregado de algo que ia além da formalidade. — Até amanhã, Sr. Kairos. — respondi, sabendo que ele entendia exatamente o que estava implícito naquele simples adeus. Quando ele se afastou, senti uma mistura de alívio e ansiedade. O escritório parecia esvaziar-se de forma literal e metafórica. A rotina voltava ao normal, mas eu sabia que nada seria como antes. Cada gesto dele, cada olhar, cada provocação silenciosa deixava uma marca, mantendo a tensão viva, mesmo quando estávamos separados. A tensão entre nós era um fio invisível, delicado e perigoso, mas impossível de ignorar. Sabia que a noite anterior havia mudado a dinâmica entre nós, e que o jogo de provocações e desejos apenas começava. Kairos podia ser sério e centrado durante o dia, mas não conseguia, ou talvez não quisesse, se afastar completamente de mim. E eu não queria que ele se afastasse. Ao sair do escritório, caminhei pela calçada, respirando fundo o ar frio do fim da tarde. Cada passo era preenchido por lembranças e expectativas. Sabia que, amanhã, e depois, e em cada reunião, cada momento em que ele estivesse perto, a tensão se repetiria. Mas, de algum modo, eu ansiava por isso. A tensão silenciosa, a provocação contida, a química impossível de ignorar — tudo fazia meu corpo e minha mente responderem de forma que eu não controlava.