Noites Quentes De Verão
Noites Quentes De Verão
Por: Beatriz Borges
A notícia

Acordei com o som do despertador, senti minha cabeça girar devido à ressaca infernal.

Às vezes ainda me pergunto qual o objetivo disso tudo, dessas festas, desse jogo de palavras e tentativas de agradar desconhecidos.

Levanto-me rapidamente e sinto a pressão abaixar, minha mão vai até a testa em uma tentativa falha de parar minha tontura.

Caminhando lentamente até o banheiro, sinto o peso em meus músculos devido às horas de dança alcoolizada.

— Você precisa dar um jeito na sua vida. – Digo olhando para meu reflexo no grande espelho do banheiro.

Apoio minhas mãos na pia e o gelo do mármore faz meus pelos se arrepiarem, analiso meu rosto encontrando maquiagem borrada e olheiras em meus olhos azuis. Desfaço a trança do meu cabelo loiro claro e entro no box em seguida.

— Anna? Onde você está? – Sua voz soa confusa.

Coloco a cabeça para fora do box e chamo alto o suficiente para que ela me ouvisse. Escuto o som do seu salto batendo em meu piso.

— Você entra na casa alheia com frequência? – A indignação em minha voz é visível.

A loira revira os olhos castanhos e se apoia na pia. Ligo o chuveiro e sinto meus músculos relaxarem com a água quente, não pude evitar o gemido de alívio.

— Não faça drama, sou sua irmã mais nova! – Sua voz sai estridente após um suspiro.

— Certo, certo. – digo sem interesse.

— Você está ignorando nossas ligações há duas semanas, a mãe e o pai estão preocupados. – Ela bufou furiosa – Vim ver se você tinha morrido ou algo assim.

Consigo ver seu olhar duro através do vidro embaçado.

— Mas pela sua cara, aposto que estava em mais uma dessas festas. – Seu comentário sarcástico vem após uma risada amarga.

— Pode não parecer, mas tenho uma vida própria. Acha que ser uma modelo é algo fácil? Eu vou a eventos porque é meu trabalho! – Minha voz soa arrogante. Suspiro tentando manter minha paciência.

Sophia suspira, algo que ela odiava eram discussões ou brigas, havia puxado o temperamento de nosso pai. A jovem estudante de veterinária balança a cabeça em negação e olha para o teto, algo que ela sempre fazia quando estava com vontade de chorar.

Algo estava acontecendo com minha irmã e por um segundo me senti culpada por não ser tão presente em sua vida.

— Sabe Anna, as coisas não estão fáceis... A vovó, ela… – Sua voz fica embargada.

Um longo suspiro sai de seus lábios e um arrepio percorre meu corpo.

— Ela não está bem. Desde a morte do tio Daniel, ela não é a mesma. Você sabe, ela ficou muito triste e se fechou para o mundo... – ela olha para seu próprio reflexo no espelho – Isso fez com que a gente não soubesse muito sobre sua saúde e agora ela está muito doente.

Um enjoo faz minha boca ter um gosto amargo e minha pele se arrepia. Sempre fomos muito próximas da vovó, ainda mais na infância. Mas de cinco anos pra cá, ela se afastou de nós. Tem nos evitado a todo custo, não gosta de falar sobre a morte trágica do tio Daniel, é como se ela tivesse morrido naquele dia.

Saber que ela estava doente fez com que meu coração ficasse apertado e a vontade de chorar se instalasse em mim.

— Eu sei que é muita coisa pra você digerir... Mas não queria que ela passasse os últimos dias dela sozinha naquele rancho. Mesmo a gente visitando ela, você sabe que não é o suficiente... – Sophia suspira antes de me olhar. – Ela sempre foi tão próxima de você, querendo ou não, você é a neta favorita dela.

Sophia anda até a porta do box e me encara por uns segundos, seus olhos estavam marejados e seus lábios trêmulos.

Como eu poderia deixar tudo pra trás e ficar com a vovó no rancho?

Um dilema moral se instalou em minha mente, eu não poderia deixar meu trabalho sem explicações mas também não poderia deixar minha avó paterna morrer sozinha.

— Eu... Eu irei dar um jeito. – Minha voz sai com mais convicção do que eu realmente tinha e isso faz minha irmã suspirar aliviada.

Saio do box e me enrolo em uma toalha, Sophia sorri timidamente para mim e beija minha testa.

— Fica bem, irmã... Vê se não some! – Ela diz antes de sair do meu banheiro.

Isso não podia ser real, a vovó morrer?

Uma sensação de desespero invade meu corpo e os soluços e lágrimas tomam conta do meu ser. Imagens de nós duas juntas na minha infância vêm à minha mente como um filme, o som da sua risada e de sua voz animada me fazem sorrir em meio às minhas lágrimas e soluços.

Passo horas perdida em um clima de nostalgia, sentindo a raiva e dor pelo destino ser tão ingrato.

Após me vestir, procuro passagens aéreas no computador.

Recebo uma mensagem de Oliver, meu chefe avisando que em breve o motorista da agência viria me buscar para o evento desta noite.

Suspiro profundamente. Com essa notícia, eu havia perdido completamente a noção do tempo. Olho em meu celular e vejo que faltavam apenas uma hora. Pulo da cama rapidamente e corro em direção ao armário, agradecendo mentalmente por ter escolhido a roupa dias antes.

Visto minha lingerie de renda preta e meu vestido tubinho da mesma cor com mangas de renda longas e aberto nas costas, coloco meu scarpin preto verniz e prendo meu cabelo em um coque.

Sempre tive facilidade em me maquiar, pelo menos não irei gastar muito tempo me preparando

para o evento. Destaco os olhos com um tom forte e passo um batom na cor natural dos lábios. Solto meu cabelo vendo-o cair ondulado em meus ombros. Borrifo Chanel nº 5 em meu pescoço e ajeito meu colar de prata que chama a atenção para o decote em "V".

Escuto a buzina tocar, saio de casa e tranco a porta, deixando a chave debaixo do tapete, ando até o Nissan Kicks azul que me esperava e sorrio para o motorista.

— Boa noite, Ítalo. – digo amigável.

Entro no banco traseiro e o vejo sorrir pelo espelho. Igor devia ter quase minha idade, ele era meu motorista na agência desde que entrei aos 18 anos, sempre foi um homem educado e gentil.

— Bom vê-la novamente, senhora Anna. Como sempre, está belíssima. – Ele diz amigável.

Sorrio como resposta e o vejo retribuir o gesto. O trajeto até o restaurante era curto, a poucas quadras de minha casa.

O carro para em frente a uma construção estilo grega, uma fila estava na porta e pessoas bem vestidas entravam no restaurante sem passar por ela. Igor abre a porta para que eu saia e dou um sorriso como agradecimento, algumas pessoas me olham e sinto minhas bochechas corarem.

— Anna Morais. – Informo ao segurança.

Ele olha a lista rapidamente e abre espaço para que eu entre.

— Anna, meu amor! – A voz de Priscila ecoa pelo salão.

Sorrio ao vê-la vindo em minha direção. Priscila era uma das modelos da agência, alguns anos mais nova que eu, mas era como uma irmã para mim. Sempre trocávamos confidências e nos ajudávamos nas sessões de fotos e desfiles.

Seus olhos pretos estavam bem maquiados e seu cabelo castanho liso estava em seu ombro esquerdo. Em suas mãos estavam duas taças de champanhe, ela me oferece uma de suas taças e eu aceito com um sorriso.

— Mon amour, esse com certeza é um dos melhores eventos que já fui. – A francesa fala com seu sotaque forte. – A comida é ótima, os homens bonitos e o ambiente lindíssimo, me sinto na Grécia antiga!

Observo a decoração grega, realmente nos leva diretamente à Grécia antiga.

A festa estava ocorrendo no salão de eventos do restaurante, muitas pessoas importantes estavam presentes, cantores, atores, influenciadores.

— Esse lugar realmente é bonito, ainda tem uma atmosfera boa. – Falei olhando ao redor.

Priscila sorri para um homem que a encarava. Algo que admirava em minha amiga era sua facilidade em conquistar as pessoas, ela sempre estava com um novo par romântico, Priscila era alguém bem liberal.

— Pelo visto você já está se divertindo. – Sorri maliciosa.

— Anna, não entendo como você não fica com ninguém nas festas, eu te acho uma tremenda gata. – Ela pisca e sorri. – É um desperdício ser tão conservadora quando se trata do amor.

Sorri envergonhada. Não sou do tipo de pessoa que fica com alguém a cada festa, não curto esse lance de casualidade. Para mim, os relacionamentos têm que ser algo a mais, como nos filmes, algo que valha a pena viver.

— Enquanto você espera seu príncipe encantado, vou lá conhecer o senhor charmoso. – Priscila fala sorridente enquanto mantinha contato visual com o homem desconhecido.

A modelo se aproxima do homem misterioso com um olhar sedutor em seu rosto delicado, ele a olha com desejo e os dois começam a conversar animadamente.

Me sento no bar e observo de longe minha amiga rir com seu acompanhante, não pude evitar de sorrir ao vê-la feliz. Peço um copo de vodka e bebo observando o jovem casal conversar animadamente.

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