Ecos de Fogo
A pulsão do fogo ainda reverberava no peito de Laura quando ela passou pela antiga ala de crianças, agora reconstruída.
A luz caía sobre o piso de madeira novo, mas em sua memória o som era de estalos e ossos, o gosto de ferro na língua.
De repente, viu o espelho pendurado no corredor e, por um instante, o reflexo devolveu a mulher chamuscada que rastejara entre blocos de concreto.
Ela segurou a borda da moldura, inspirou profundamente.
No bolso, carregava o lenço florido que Luna deixara na primeira visita ao hospital.
Cheirava a alfazema e lembrava que havia vida além do estilhaço.
Passou os dedos por ele como quem toca uma raiz. Ao fundo, ouviu o riso de Valentina.
Um som que perfurava a dor.
Laura dirigiu-se ao refeitório, onde ajudaria na organização da oficina de escrita com as crianças.
Na porta, hesitou. Ainda sentia medo de atravessar ambientes fechados, como se o teto fosse desabar a qualquer momento.
Mas atravessou. Sentou-se entre crianças e folhas em