Capítulo 3

Capítulo 3 - Nas mãos do CEO: Uma mãe para a minha filha

Xavier Lancaster

Eu me obrigo a ir de encontro com Elvira, pois preferiria mil vezes lidar com ela do que com os meus pais. Aqueles que se intitulam meus pais não são pessoas com quem eu possa falar abertamente sobre o que acredito ser certo, tanto para mim quanto para a minha filha. Já com Elvira é diferente: brigamos, mas ela nunca fingiu ser outra pessoa ou tentou me envolver em sua teia de manipulação.

Minha ex-sogra é dura, rígida e foi criada sem qualquer tipo de amor, compaixão ou sentimentos ilusórios. Seus pais eram rigorosos e a deram em casamento a um magnata com apenas dezoito anos. Depois, ela fez o mesmo com Eliza, minha falecida esposa.

É aquilo: o fruto não cai longe da árvore.

Casamentos arranjados para manter o sobrenome na alta sociedade são algo costumeiro, até natural em nosso mundo. Manter a riqueza entre os ricos é a base para não haver manipulação nesse meio. Elvira vem de uma família de renome. Aos olhos dos meus pais, Eliza era a esposa perfeita, ou pelo menos seu sobrenome era perfeito para que meu pai aceitasse o casamento proposto e fizesse da minha vida um verdadeiro inferno.

Esse era o jeito do meu pai de me manter na fina linha entre a ordem e a desordem, o jeito dele de me obrigar a ser o que eu nunca desejei.

Não vamos ser hipócritas: eu gostava do dinheiro, mas não gostava da forma como ele vinha para os meus bolsos. E meu pai sabia disso, porque eu tinha um espírito livre. A reação dele foi quebrar minhas asas e me manter onde ele queria.

No entanto, até a mulher que tem uma pedra no lugar do coração me deu um voto de confiança. Tenho ciência de que Elvira é tradicional e não vê com bons olhos a sua neta sendo criada apenas por mim, o pai. Na cabeça torta de Elvira, Olívia precisa de uma mãe, uma figura feminina para lhe ensinar a se portar, a se vestir e, futuramente, a cuidar de uma casa e de filhos. Ela quer que a neta seja a esposa perfeita que ela foi e que, infelizmente, sua filha não era.

Sim, minha sogra teme que minha filha tenha o espírito livre de Eliza e acabe como a mãe, envergonhando o sobrenome da família ou tendo uma morte triste e desonrosa.

Minhas esperanças de resolver tudo na conversa não são grandes, por mais que minhas expectativas ainda me mantenham de pé. Pelo menos vou tentar. Pela milésima vez, vou tentar dizer a Elvira que Olívia está bem, saudável e não precisa de uma mãe, não por enquanto.

Na verdade, não quero me casar com outra mulher por conveniência e contrato de novo. Um erro já está bom, não é mesmo? Não tenho tempo, saco ou paciência para procurar a melhor opção de mulher para ocupar um lugar que não quero ninguém. Não desejo me casar, me prender a alguém e ter minhas expectativas jogadas ralo abaixo novamente.

Por isso, o motivo dessa conversa. Elvira quer que eu diga "sim" às suas pretendentes. Eu, por outro lado, quero que ela esqueça essa história, quero que ela veja a minha filha como sua neta e não uma futura esposa de alguém.

A conversa é difícil. A guarda de Olívia não está em jogo, disso não abro mão. Elvira nunca me ameaçou com todas as palavras, mas ela sempre enfatiza a importância da minha filha ter uma mãe para cuidar dela. Um fardo que ela coloca nas minhas costas sem medir as consequências.

O restaurante fica em um dos meus hotéis. Como o empreendimento tem um chef com estrela e prêmios, Elvira faz questão de ter o bom e o melhor ao seu redor. É um dos fardos de ter o sobrenome que tenho.

Quando chego ao restaurante, minha ex-sogra já me espera sentada à mesa, com seus cabelos presos em um coque baixo perfeito, seu vestido discreto e sua cara de poucos amigos. Elvira é a personificação perfeita de uma viúva enlutada, mesmo tendo o marido vivo, acamado, mas vivo, sendo um lembrete silencioso de que ela não está livre.

— Boa noite, Senhora Elvira. — A mulher me olha atentamente com seus olhos afiados e avaliadores.

— Boa noite, Xavier. — O sorriso que ela tem no rosto é o mais falso que a minha cordialidade do momento.

Ocupo meu lugar. O garçom chega para anotar meu pedido e o dela. Minha ex-sogra fala por um bom tempo, fazendo exigências um pouco peculiares. Elvira tem prazer em dificultar as coisas. Eu já conheço bem o seu jeito, afinal, sou pai da neta dela.

A questão é que eu não sou o mesmo homem que se casou com a filha dela. Aquele garoto cheio de sonhos foi enterrado junto com a filha dela. Eliza foi o verdadeiro presente de grego. Quando abri para ver o que eu tinha ganhado, já era tarde demais: tinha colocado uma cobra na minha casa e na minha vida.

— Senhor Xavier? — O garçom me faz voltar à realidade. — O que o senhor vai pedir esta noite? Acredito que não será o mesmo de sempre, ou sim? — Elvira me olha com atenção.

— Não, pode ser o mesmo que o dela. Hoje estou querendo provar outras opções. — O garçom anota o pedido, e Elvira me olha desconfiada.

Eu não prestei atenção ao que Elvira pediu, devido às suas insistentes pontuações sobre o ponto do bife e como ela queria ensinar o chef a prepará-lo. A comida pouco me interessava. Eu só queria resolver nossos problemas em comum: a falta de uma mulher na minha vida e na vida da minha filha.

— Como está minha neta? — Acabo sorrindo. Não era um sorriso de felicidade, longe disso.

— Como está o meu sogro? — Ela bebe um pouco do vinho na sua taça. Era um vinho tinto, e sentia o cheiro amadeirado de onde estava.

— Ainda vivo… — Ela coloca a taça na mesa. — Tenho que viver presa às suas diretrizes, mesmo que ele esteja vegetando em uma cama. — Diz com amargura. — Não posso ser livre, tenho que me comportar como uma mulher que sofre pelo marido acamado. Mesmo que eu torça todos os dias para acordar e saber que ele morreu durante a noite por alguma complicação, que os dias dele estão no fim. — Elvira é bem direta. — O bom é que eu não preciso fingir com você. Sonho com o dia em que meu marido tenha finalmente ido para o andar de baixo. — Recuso o vinho que o garçom tenta me oferecer.

Estou dirigindo e odeio beber perto de pessoas em quem não confio.

— Quem sabe um dia seu sonho se realize… — Ela somente assente.

— E a Olívia? — Repete a pergunta.

— Bem… — Digo para preencher o tempo antes de ser atacado. — Está fazendo aula de balé, francês e estou avaliando se a coloco no judô… — Elvira faz cara feia para a última opção.

— Olívia é uma menina, nada de lutas para ela. — Diz firme. — Meninas não lutam, meninas são tratadas como damas. — Olho para ela tentando manter uma paciência que nem sabia que tinha.

— Olívia pediu para fazer aulas de artes marciais. — Digo, vendo o nosso primeiro ruído na comunicação.

— Ela tem somente três anos… — Diz como se a minha filha não devesse nem opinar.

— Quatro! — Retruco com força. — Ela tem quatro anos e sabe exatamente o que deseja fazer em seus tempos vagos. Além disso, eu acredito que ela tem que saber se defender. Não sabemos do futuro, não sabemos o que pode acontecer lá na frente. O futuro é imprevisível, e não sabemos se Olívia não vai precisar se defender. — Elvira suspira derrotada.

— Você sabe o que está fazendo. Afinal, foi praticamente criado sozinho. — Não era mentira. — Teve que aprender desde cedo a se defender.

Enquanto crescia, vi o quanto era difícil emocionalmente para a minha mãe me criar sozinha, já que meu pai estava sempre em viagens e reuniões por causa de seus amados e estrelados hotéis. Às vezes, quando ela bebia, falava que amou muito meu pai, mas que ele não tinha o mesmo sentimento por ela. Era aquela velha história de casamento arranjado que somente dava certo para os que obrigavam os filhos a se casarem.

Minha mãe foi uma dessas filhas que foram obrigadas a se casar, mas ao contrário da grande maioria, ela realmente se apaixonou pelo marido. Pena que o sentimento não foi recíproco. Acabou que a falta desse amor se estendeu a mim. Meu pai faz o que quer comigo, e minha mãe aprova para não ficar no meio da situação. Ela não consegue se impor contra ele, somente por causa da ilusão de que ele a amará em algum momento.

Patético!

— Você sempre faz as vontades da Olívia… — Ela não deixaria barato a escolha de deixar a minha filha fazer o que desejava.

Reviro os olhos.

— Porque eu amo a minha filha, diferente de certas pessoas… — Me calo. Acho que não precisava falar muito de quem eu tinha certeza que não estava nem aí para a minha pequena.

— Da Eliza… — Ela fala sem se abalar. — Fala com vontade, menino… — Me olha sem cerimônia. — Com determinação, Xavier… — Ela ri com amargura. — Eu sei que errei com Eliza, a culpa é minha, eu não vi os sinais… — Olho para o garçom que está vindo com a nossa comida.

— Não estou procurando culpados, até porque não adianta mais nada, não é mesmo? — Elvira suspira.

— Cada um colhe o que planta, Xavier. Cada um tem que se responsabilizar por suas escolhas. — Diz somente ao ver seu prato, calando-se para comer o seu pedido. Claro, não antes de confirmar que estava tudo do jeito que pediu.

Perco-me em lembranças. Eliza era um caso à parte. Odiou ter se casado comigo, mas foi uma bela atriz ao aceitar tudo: o casamento, a relação morna e quase fria que tínhamos, a falta de sexo e até a forma como eu dirigia nossos dias.

Ela aceitou ter uma herdeira para que ambas as famílias nos deixassem em paz, e depois aceitou que eu estivesse focado nos empreendimentos e hotéis da nossa família. Nunca reclamou de nada, ao contrário, entendia e não me julgava.

Nesse meio tempo, Eliza foi eficiente em acumular riqueza e traições. Todas as suas joias eram vendidas, e ela fazia investimentos para um futuro que não seria ao meu lado. Não que eu ficasse chateado, mas meu ego ficou ferido. Na minha cabeça, se ela aceitou o casamento, então ela queria. No entanto, eu era um degrau em sua subida, um pequeno desvio em seu plano.

Com perfeição, Eliza armou uma fuga mirabolante com a metade dos meus bens e a minha filha como garantia. A questão é que ela não sabia que eu podia ser muita coisa, menos burro ou corno manso. Podia não ter desejado o casamento, mas nunca teria o título de idiota.

Descobri as intenções dela, a confrontei, e tudo se acabou em um trágico acidente. Eu a deixei ir. Não queria ficar ao lado de uma pessoa que não me respeitava, que me enganou. Se ela tivesse de verdade tentado, eu teria me dado o melhor de mim pelo casamento. Ou pelo menos teria tentado. Éramos dois jovens e sem experiência nenhuma em um casamento. Deveríamos ter tido pelo menos o diálogo, coisa que nunca existiu entre nós. Ela já entrou na relação querendo sair dela. A questão é essa: Eliza queria somente se casar para se livrar de mim e de sua família.

O que Eliza não esperava era que o seu amante não concordaria com os novos termos. Eles não levariam a minha filha, não mesmo. Eliza teria a sua liberdade, mas sem a minha filha ou os meus bens. Teria a sua parte do contrato, somente isso. E se me lembro bem, o contrato estipulava que se ela não aceitasse o casamento, perderia tudo.

Ela e o amante brigaram dentro de um carro. O amante teve sequelas, mas não morreu. Já Eliza, essa somente viveu para ouvir a mãe reclamar que ela estragou a sua vida e colocou o nome da família na lama. Não teve como abafar o acidente, todos ficaram sabendo, e por isso o pai de Eliza teve um infarto, o mesmo que o colocou em uma cama, e agora ele vegeta como se não fosse o homem que praticamente construiu o império sozinho.

Elvira teve que aguentar toda a humilhação sozinha e ainda tinha um marido, por quem não nutria sentimentos, preso em uma cama. Era o verdadeiro inferno dela.

Eu passei a cuidar dos negócios do meu sogro, pois Eliza era filha única. Eu era quem deveria cuidar de tudo. Para quem já tinha um império para cuidar, uma filha pequena e pais que somente me sugavam a alma, agora tinha que cuidar da herança da minha filha e de uma sogra que somente quer a morte do marido.

Então, seria muito egoísmo da minha parte querer largar tudo. Minha filha depende de mim.

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