"Aqueles que observam demais pelas janelas do poder… costumam acabar puxados para dentro."
— Velho provérbio da Guilda da Névoa
No alto da encosta de pedra nua, onde o vento uivava como um velho cão faminto, Boreal, o Gatuno Arcano, observava a madrugada com olhos que pareciam ter esquecido como era dormir.
Sentado diante de sua esfera de cristal — um artefato antigo de lapidação tão delicada que dizia-se ter sido moldada com o último sopro de um negro dragão — ele fitava o vulto translúcido que nela se formava.
Donaldo.
O ambicioso. O destemido. O amaldiçoado.
— Ainda aí, monstro... — sussurrou Boreal, num fio de voz.
Dentro da esfera, imagens pulsavam como lembranças vívidas. O calor de corpos enleados. Vestes caindo em lentas espirais. Risos abafados. A pele cintilando sob velas dançantes. Concubinas rindo baixinho, cada uma um pecado diferente — cabelos como rios de ouro, olhos de avelã, pele como mel de ocaso.
Donaldo, nu em sua glória corrompida, sorria como um rei entronado no